terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

EQUIVOCADOS


É tal o avanço civilizacional tomarense que em 2012 ainda há maduros que vêm reivindicar, usando palavras de ordem de 1975! Já passaram 37 anos e ainda não perceberam que afinal não havia nem há ricos que cheguem para pagar a crise. Além de não terem culpa nenhuma das asneiras que os outros fazem. Como dizem os cínicos, "É sempre melhor ser rico e saudável que pobre e doente". "As coisas são o que são, não aquilo que gostaríamos que fossem", segundo o De Gaulle.

Segundo o meu prezado amigo e socialista Luís Ferreira (ver comentário seu, no post "Políticos desnorteados") estou pior que o ex-ministro da propaganda do Iraque. Azar o dele! Já visitei mais de 50 países, mas no Iraque nunca estive. Nem tenciono lá ir, por razões óbvias. Por conseguinte...resta a estapafúrdia comparação. Com uma diferença abissal. Enquanto o dito ministro debitava enormidades por conta de um boçal ditador, eu limito-me a enunciar, num país democrático e com um governo resultante de eleições que ninguém contestou, factos tão simples quanto este: a reforma em curso no CHMT é condição sine qua non para a manutenção das três unidades hospitalares, porque 1 - O stato quo ante é insustentável; 2 - Os contestatários continuam a dizer que tem de haver reforma e a insistir na sua suspensão, mas ainda não apresentaram qualquer modelo alternativo; 3 - Caso a reforma falhe -esta ou qualquer outra que a venha a substituir-como não é possível continuar a suportar o constante aumento do "buraco", terá de haver encerramento de uma ou mais unidades. Tão certo como eu chamar-me António e ter nascido em S. João Baptista. O resto não passa de paleio de circunstância, debitado por funcionários acagaçados ante a perspectiva de perderem benefícios ilegítimos. Até recorrem a atoardas, do tipo "querem privatizar" ou "já falta pouco para encerrar". É feio e condenável abusar da ingenuidade alheia!
Até as senhoras da conversa, que continuo a gostar muito de ouvir, apesar de já começar a notar-se algum excesso de derrapagens, teceram algumas considerações que me deixaram a matutar sobre a fraternidade, a solidariedade, o sentido comunitário, o egocentrismo, o bairrismo bacoco... No fundo sobre algo que me inquieta sobremaneira. Como é sabido, tive a felicidade de viver por dentro o Maio de 68 e o 25 de Abril.  Em ambos os casos, houve milhares e milhares de explosões de alegria e de reivindicações, todas viradas para um futuro mais risonho e justo e fraterno. Muitas ficaram-se pelas intenções? Pois ficaram. Mas ainda hoje beneficiamos de importantes conquistas de então.
Décadas volvidas, já no século seguinte, o que vejo começa a assustar-me. Nos países árabes, no rescaldo de revoluções que carrearam imensas esperanças, assiste-se à irresistível ascensão eleitoral dos partidos islâmicos, tanto moderados como extremistas. Um retrocesso civilizacional de séculos, pois pretendem a adopção da sharia, a lei islâmica tradicional, um sistema de administração da justiça ainda pior que a lúgubre inquisição de má memória. Apedrejamento ou lapidação, membros cortados, morte por enforcamento, língua amputada, a mulher sempre três passos atrás do marido, o repúdio livre pelos homens e coisas assim. Além da automática condenação à morte de qualquer muçulmano que se converta a outra religião.
Claro que por estas bandas não somos árabes nem muçulmanos. Até gostamos bastante de álcool e de carne de porco. Mas lá que temos todos uma costelazita e algumas tradições comuns, disso não há dúvida! Esta por exemplo: um velho ditado português, muito conhecido no feudo nabantino, diz que "a galinha da vizinha parece sempre mais gorda do que a minha". E aqui temos uma bela metáfora da nossa por assim dizer congénita inveja, que o filósofo francês René Girard renomeou com a magnifica expressão "desejo mimético". Não foi certamente por mero acaso que durante séculos a diplomacia se fez sempre em francês.
Pois no mais recente programa das senhoras, uma das intervenientes asseverou não estar surpreendida com o apoio de Abrantes e Torres Novas à reestruturação do CHMT, acrescentando que se lá vivesse também concordaria. Porquê? Infelizmente não esclareceu. Fica para a próxima, quando o Feliciano se sinta mais à vontade para interromper com uma frase geralmente demolidora: Troque-me lá isso por miúdos, s.f.f., que não percebi patavina...
Ainda no mesmo programa, lamentou-se que na passada quinta-feira, nas declarações prestadas à entrada do cine-teatro, Miguel Relvas tenha falado na qualidade de ministro. Ouvi-o no local e tenho outra impressão. Falou simultaneamente como ministro, como eleito local e como cidadão consciente de que todos, a começar pelos governantes, devemos ser solidários e fraternos. Sem nunca enveredar por situações em que se prega o paraíso para nós e o inferno para os outros.
Ser contra a reforma hospitalar, contra a reforma das freguesias, contra a reforma dos concelhos, contra a reforma dos tribunais, contra a reforma das leis do trabalho, contra as medidas da troika, contra o pagamento da dívida, é afinal praticar a política à moda do caranguejo. O que estava é que era bom! Infelizmente o mesmo que os árabes estão a fazer, mas eles por falta de experiência democrática e vítimas de um modo de vida que não vem agora ao caso escalpelizar. Ao contrário, nós, europeus desde há séculos, com as mais velhas fronteiras da Europa, temos a obrigação ética de no mínimo propor alternativas, quando discordamos de algumas mudanças.
Fala-se agora, por exemplo, na hipotética destituição de Miguel Relvas da presidência da AMT. Uma ideia há muito defendida por gente do PCP, do BE, ex-UDP, e até um fundador do MRPP. Com que fundamentos? Quais as vantagens? Com que objectivos? Quais os sucessores possíveis? Por enquanto o silêncio é de oiro... Devem estar à espera que os deputados da AR caiam de cu logo que recebam a petição com 7 mil assinaturas, procedendo imediatamente à votação de uma lei estabelecendo que o CHMT volta à situação brilhante em que se encontrava no final de 2011. Há cada uma!

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