domingo, 19 de abril de 2009

RESPOSTA AO FILÓSOFO MURCHO

Esclarecer antes de mais que o filósofo em causa só parece murcho de apelido, pois até escreveu uma peça contusa, no duplo sentido do termo -com nervo mas também um pouco presa.
António Aleixo, o grande poeta popular algarvio, de pouca escolaridade mas enorme inteligência e sensibilidade, disse um dia esta quadra, que nos parece muito apropriada: Prá mentira ser segura/E atingir profundidade/Tem de trazer à mistura/ Qualquer coisa de verdade.
É exactamente o que acontece com a tese de Desidério Murcho, aqui publicada há uns dias. Recordêmo-la. Não há imprensa de qualidade porque informar fica muito caro. Para os jornais serem mais baratos, têm de incluir publicidade. Os publicitários guiam-se pela tiragem e acontece que os jornais de qualidade não vendem porque os cidadãos preferem as palermices frívolas, apesar de afirmarem o contrário. Em síntese é isto.
Como qualquer leitor mais atento e capacitado se dará conta, há aqui grandes desvios em relação à realidade tal como a conhecemos. Antes de mais, não é líquido que os publicitários se guiem unicamente, ou mesmo sobretudo, pelas tiragens ou audiências. Agem, isso sim, em função dos alvos a atingir, o que é muito diferente, como se compreende. A seguir, carece de prova a tese de que a informação de qualidade não vende. Expresso, Jornal Económico, El Pais, Le Monde, The Times, Washington Post, Financial Times, The Economist, Nouvel Observateur, Cambio 16, Veja, e tantos outros, aí estão para demonstrar exactamente o contrário. E o mesmo está a acontecer na televisão. CNN, BBC, Euro News, ARTE, TV5, France 24, Sic Notícias, não funcionam nem foram criadas para difundir as tais "palermices frívolas".
O que, segundo pensamos, tem acontecido e está a ocorrer em Portugal é uma acentuada queda da qualidade de informação, por falta de jornalistas de gabarito, frontais, objectivos, sem medo de serem inconvenientes, com mundo e com uma visão do mesmo e do país. Claro que profissionais assim são raros, e por isso caros. O mesmo se passa em qualquer outro sector profissional, da arquitectura à medicina. A qualidade paga-se. Daqui resulta ser muito mais barato ficar-se pelas palermices frívolas, pois praticamente qualquer um as pode descrever, e que, ainda por cima, são muito mais confortáveis. Não carecerem de qualquer demonstração ou acareação. Se o casal Z estava elegantérrimo e bem disposto na festa da família D, na vivenda F, cedida pela conhecida benemérita Y, não é necessário acrescentar mais nada. Nem, supremo horror!, emitir opinião. (Sobretudo porque já foi emitida, ao escrever que o casal estava elegantérrimo).
Já com a informação séria, o caso muda de figura e tudo se complica. Nem o 25 de Abril conseguiu provocar uma profunda mudança de maus hábitos inculcados durante o salazarismo. Um deles é o chamado "modelo americano" = O quê? Quem? Quando? Onde? Conforme se ensinava e continua a ensinar nas escolas da especialidade, uma vez respondidas cabalmente estas perguntas, a notícia está completa. Nada de se deixar arrastar para a "escola europeia", que acentua a necessidade de dizer igualmente, e sobretudo, Porquê?, visto que, defendem os anglo-saxões, ao explicar o porquê, que o mesmo é dizer, ao fornecer uma perspectiva, o jornalista está a pôr de parte a objectividade e a entrar no domínio da opinião. Ao que os defensores da "escola europeia" contrapõem que, além dos factos, o que interessa igualmente a quem compra informação é o enquadramento, a perspectiva, que englobam, bem entendido, a opinião de quem escreveu, como facilmente percebe quem na verdade sabe ler.
Sentados entre estas duas cadeiras, salvo raras excepções (Expresso, Público, e pouco mais), os jornalistas portugueses estão frequentemente com o traseiro no chão. Tanto mais que os livros de estilo, as normas deontológicas e a praxis da justiça também não ajudam nada. Na verdade até complicam singularmente, com vamos tentar demonstrar.
Aqui na nossa terra, que é o que nos interessa particularmente, pois é para os tomarenses que escrevemos, há três estilos de jornalismo: o tomarense tradicional, o tipo americano e a informação mais aprofundada. Vejamos cada um deles, no concreto.
O modelo tomarense é o praticado como regra geral no CIDADE DE TOMAR. Publica-se exactamente o material fornecido, antecedido ou não pela menção "Chega-nos a notícia", ou "Fulano declarou-nos que...", de tal forma que mesmo as opiniões passam por descrição de factos reais, ainda que carecidos de qualquer prova.
O tipo americano tem n'O TEMPLARIO um fiel e competente seguidor. Tudo limpinho, objectivo, de acordo com o livro deontológico, mas sem qualquer indício de enquadramento ou de perspectiva. Se os leitores não perceberem, a culpa é deles.
A informação mais aprofundada, lamentavelmente só é praticada aqui na zona pelo RIBATEJO
e pelo MIRANTE, e só nalguns casos.
Passemos agora a um exemplo prático, para melhor demonstração. Partamos de um hipotético assalto durante a noite a uma ourivesaria da cidade.
Cidade de Tomar: Chega-nos a notícia que foi assaltada, na passada segunda-feira, dia 10, a ouriversaria do nosso assinante sr. Baudalicas Pífaro, por dois meliantes armados e com as cabeças escondidas dentro de meias de senhora. Apesar de accionado o alarme, a polícia só compareceu passados mais de vinte minutos. Entretanto os assaltantes já se tinham posto em fuga, numa viatura que os esperava à porta, com um outro bandido ao volante. Os prejuízos são muito avultados e não se encontram cobertos pelo seguro. As autoridades continuam no encalço dos ladrões.
O Templário: Uma ourivesaria, situada na Rua das Rolas, foi alvo de um assalto, seguido de roubo, na segunda-feira, dia 10. Eram dois os assaltantes, ambos mascarados e armados com pistolas. Ao arrombarem a porta, dispararam o alarme, que acordou toda a população da zona. Eram 2H14 da madrugada. A polícia chegou ao local pouco depois, mas já os assaltantes se tinham posto em fuga, numa viatura conduzida por um terceiro comparsa. Os prejuízos são elevados e não estão cobertos pelo seguro. O Templário contactou o proprietário do estabelecimento assaltado, que não quis prestar qualquer declaração. Quanto aos três meliantes, aguardamos que sejam capturados para então tentarmos ouvi-los, de acordo com as normas deontológicas.
O Mirante/O Ribatejo: Na cidade dos templários, uma ourivesaria foi assaltada durante a noite de 10 do corrente. Os dois assaltantes, com o rosto coberto por meias de nylon, dispararam o alarme ao arrombarem a porta. Estavam armados, cada um com uma pistola de grande calibre. Na rua, um terceiro cvomparsa manteve-se ao volante de uma viatura, com o motor a trabalhar.
Informações colhidas no local permitem-nos avançar que era um Ford Fiesta preto, cuja matrícula não conseguiram ver, pois a noite estava escura. Segundo a mesma fonte, os meliantes levaram praticamente toda a mercadoria, pelo que os prejuízos devem ser bastantes elevados e, segundo julgam, não estão cobertos pelo seguro. A PSP local, ignora-se se chamada por alguém ou alertada pelo alarme, compareceu no local cerca de meia-hora mais tarde, mas já nada pode fazer, limitando-se a tomar conta da ocorrência.
Este é já o terceiro assalto, seguido de roubo, à referida ouriuversaria, e mais um delito da vaga de criminalidade que vem alastrando assustadoramente na cidade nabantina, impelida pela dramática situação económica, agravada pela crise internacional. Recorde-se que só este ano já ocorreram mais 24% de crimes e delitos naquela cidade, em relação a igual período do ano passado. Contactado, o presidente da Câmara referiu-nos não ser oportuno emitir qualquer opinião sobre esta matéria. Uma outra fonte local, que pediu o anonimato, disse-nos que a crise continuará a agravar-se enquanto a autarquia não arranjar e implementar um projecto capaz de inverter o rumo das coisas na área económica, pois a crise tomarense é anterior à actual situação internacional.

5 comentários:

Anónimo disse...

Excelente. Gostei de ler. Gostei da clareza com que expõe o público e os actores da comunicação social tomarense. Gostava porém de saber se na sua óptica, o Presidente da Câmara se excusaria a proferir quaisquer declarações por ordem da empresa que comunicação contratada? Ou se por outro lado, não conseguiu entrar em comunicação com eles (ou elas, lá dessa empresa)e ficou sem nada para dizer, pois o momento não é nada oportuno a dizer disparates de tamanho tal que possam influenciar os que ainda sentem Abril em Tomar, e com isso, se sentem livres de pensar e repensar, e de escolher quem bem lhes apetece para a Câmara? Também não seria de descurar a hipótese de que o Presidente não soubesse que deveria exigir dessa tal empresa um comunicado imediato...

Anónimo disse...

A verdade sobre a crise em Tomar denunciada há vários meses, em www.tomar.psdigital.org

NÃO ESCONDA A CABEÇA NA AREIA: MUDE!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Pois é, o que é de fora de Tomar é sempre melhor do que é de cá. A começar pelos tomarenses...

Anónimo disse...

Vota PS que a crise arrefece e ... esquece!!!!!!!