quinta-feira, 2 de abril de 2009

AÇUDES VELHOS E AÇUDES NOVOS




Antigamente, naqueles tempos em que ainda não havia diplomados em engenharia, porque também não existia tal especialidade no ensino superior de então, já se faziam açudes, sempre que necessário. Dado que também não existia ainda o cimento, logo que as circunstâncias obrigavam a fazer obras "em duro", em vez de "em madeira", usava-se muita pedra e alicerces em estacaria de pinho verde. Conforme se vê na foto do Açude Real, para obviar à erosão provocada pela queda de água, o dorso do açude é em "dégradé" e tem uma base em L, quando necessário, como na parte nordeste, onde assentava a Ponte de Madeira, de saudosa memória. Deste modo, o movimento da queda de água não provocava nem provoca o "descalçar" do açude.
Conforme escreveu Camões, há mais de 500 anos, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades", e alguns defeitos, acrescentamos nós. Neste caso dos açudes, apareceram as faculdades de engenharia e os consequentes engenheiros, os quais, graças ao cimento e ao ferro, enveredaram por outros modelos e outras técnicas construtivas. No caso do Flecheiro, com a posteriores alterações ao projecto inicial, os profanos como nós nem sequer sabem se afinal o que lá está é um açude de comportas rotativas, ou um açude insuflável. Certo é que, com um ou com outro, tudo indica que deve ter havido berbicacho. A queda de água deve ter começado a erosinar o fundo do rio, provavelmente não betonado previamente, como convinha. Estando a obra em Portugal, recorreu-se à especialidade nacional -o desenrascanço. Colocaram uma série de "sacos" de rede metálica cheios de brita grossa, de maneira a formar uma barreira, susceptível de subir ligeiramente o nível da água, amortecendo assim o efeito da queda. Conseguiram, certamente, o que pretendiam, mas o resultado prático está longe de ser brilhante, como mostra a fotografia. Aquilo parece mais uma reserva de lixo do que uma barreira de retenção. Não seria melhor ir pensando noutra solução mais airosa e agradável à vista? Como está é uma vergonha para os engenheiros, tanto projectistas como dirigentes e/ou fiscais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, o que não falta por aí é engenheireiros, a começar pelo nosso primeiro.
Até há um cá em Tomar que gastou que se fartou no campo sintéctico da Nabância devido a erros de palmatória que nem a "rookies" se admitem...

Raios me partam se digo que foi o eng. Paiva.