terça-feira, 21 de abril de 2009

AO PAIVA AS CULPAS DO PAIVA


António Rebelo

Vou ser directo. Quem quiser ter a humildade de ver a realidade como ela é, verificará sem dificuldade de maior que existem na política local mais recente, dois períodos bem distintos: A) - Uma fase bastante longa em que não participei na vida local, escrevendo na imprensa; B) - Uma fase bem mais curta e recente, que se in1ciou com a minha ida ao jantar da Confraria do Barbo e tem prosseguido até agora, primeiro na imprensa local, depois neste blogue.
Qualquer cidadão dotado de mediana memória se lembrará certamente de que na fase A, em que não participei, as críticas à autarquia e aos autarcas na realidade não existiram. Foi o período em que os eleitos, entre os quais o presidente da Câmara, foram levados a pensar que "tudo como dantes, quartel-general em Abrantes", ou seja, controlando os jornais e as rádios locais ou regionais, os que nos governam beneficiam de uma paz angelical.
Foi por considerar que tal estado de coisas não é próprio de uma democracia adulta, nem saudável para o seu desenvolvimento, que entendi ser meu dever, como obrigação de cidadania, voltar à escrita e à análise serena da realidade local.
Como não tinha nem tenho nada a perder nem a ganhar, ajo com total liberdade e frontalidade. Daqui resultou que, sobretudo no início, fui uma voz solitária. Uma espécie de ave agoirenta cujo grasnar irreverente veio perturbar a bucólica paz tomarense.
Conforme já esperava, pois nasci na primeira metade do século passado, e portanto já vi muito, houve logo gente despachada que lançou a suspeita da praxe, sob forma interrogativa, para não levantar críticas -"O que é que este gajo quer?" Surpresa das surpresas, não quero nada de estritamente material. Nem vantagens, nem facilidades, nem lugares, nem subsídios, nem ajudas. Apenas que as coisas melhorem para a comunidade tomarense. Mas houve outra interrogação implícita e insidiosa -"O que é que o gajo tem contra o Paiva e o PSD?" Absolutamente nada. Nem contra o Paiva, nem contra o PSD, nem contra qualquer outro autarca, nem contra qualquer outro partido ou força política. Sempre me trataram de acordo com as boas regras da cordialidade.
Dito tudo isto, que não é pouco, sinto-me agora na obrigação de esclarecer que António Paiva, que respeito enquanto cidadão e enquanto autarca, embora não concorde com a maior parte do que mandou fazer em Tomar, não é de modo algum o único responsável pelos numerosos erros cometidos, nem pela actual situação de profunda crise. Os seus companheiros de lista, sobretudo, e a oposição, são também responsáveis, embora em partes desiguais.
O que ocorreu na verdade, foi a entrada na política local de uma "ave de arribação de altos vôos", no seio de um grupo local de características homogéneas. A "ave de arribação", formada lá longe num sistema de ensino muito eficiente mas limitado, teve a habilidade de primeiro verificar como agiam os membros do grupo local. De tal forma se saiu bem dessa tarefa que, quando ascendeu à presidência por vitória eleitoral, nunca mais teve dificuldade alguma para implementar as suas ideias. Os seus companheiros de lista nunca lhe negaram os amens e a oposição sempre careceu de fôlego. Daqui resultou a sua forma de governar a autarquia, praticamente ditatorial. O chamado quero, posso, mando e não admito críticas. Como se chegou a tal estado de coisas?
A grande diferença entre António Paiva, por um lado, e todos aqueles que com ele trabalharam, por outro, reside no sistema de ensino que os formou. Enquanto António Paiva foi formado pelo ensino anglo-saxónico, extremamente eficiente, mas que tende a formar "especialistas analfabetos", o que significa especialistas muito competentes mas unicamente na sua área de estudo, os outros são produtos típicos do ensino português. Em qualquer nível de ensino foram treinados para repetirem os ensinamentos do professor. Para se conformarem. Para aderirem ao pensamento único. Para serem "a voz do dono". Daí a incapacidade para se oporem com êxito às opções de António Paiva, mesmo quando era evidente que estavam erradas. Nunca conseguiram argumentar de modo a convencê-lo a mudar, sendo igualmente verdade que ele também nunca foi treinado para negociar as suas opções. Daqui a minha conclusão: António Paiva é culpado, mas os seus companheiros de lista e a oposição também.
Escrevo isto porque, após mais de dez anos de exercício praticamente solitário do poder, António Paiva soube sair a tempo, conseguindo até continuar a governar por entreposta pessoa, situação pouco ortodoxa por estas bandas. Escrevo isto sobretudo porque a oposição parece não ter aprendido nada. Sendo a política "a arte do possível, toda feita de execução", exige um excelente domínio tanto da palavra como da escrita, da argumentação como da conta-argumentação, da oratória como da pragmática. Nestas condições, o que leva cidadãos claramente desprovidos de tais atributos a meterem-se em actividades para as quais não estão nada preparados?
Nas eleições de Outubro, seja qual for o vencedor, quando se tratar de defender os interesses da cidade e do concelho nos areópagos regionais, nos ministérios ou junto de potenciais investidores, como vão conseguir fazê-lo com um mínimo de decência e de eficácia?

19 comentários:

Anónimo disse...

Uma boa análise.

Os sucessores do Paiva estão habituados ao Amen. Como vão poder gerir equipas. Vai ser o caos e uma anarquia total.

Vão consegir entusiasmar ou motivar alguém ?

Sorte malvada !

Anónimo disse...

Vai ser preciso encetar um NOVO processo, um novo modelo de desenvolvimento, que rompa com o anterior completamente esgotado.

Infelizmente, para além da dívida acumulada que a gerência paulina deixa, ainda vai ter o azar de encontrar um País em recessão, quase sem fundos.

No entanto, capacidade de liderança, de diálogo, de trabalho em equipa e com bons colaboradores, de aproveitamento dos recursos HUMANOS, históricos, patrimoniais, económicos e, sobretudo, muita humildade e bom senso podem tornar possível fazer Tomar renascer.

Há quem se disponha a trabalhar com os pressupostos referidos a bem de Tomar.

Mas será preciso que TODOS contribuam com a sua parte.

Anónimo disse...

PARA O ANÓNIMO ANTERIOR

Não existe modelo de desenvolvimento para Portugal. Isto é um feudo de meia dúzia, isolado do resto da Europa pela Espanha e pelo mar. Recebemos poucas influências, este país tranformou-se num gueto onde só chega a informação que o poder entende.
Não se enxerga qualquer esforço no sentido de dar o passo em frente que falta para sairmos do atoleiro socio-económico em que estamos mergulhados. Este país parece o Benfica: inicialmente a crise dizia-se ser conjuntural. Depois passou a estrutural. Agora já é endémica.
Senão vejamos: como atrás disse não se vê qualquer esforço no sentido de melhorar as condições de vida das pessoas. O que se vê a cada dia que passa é paliativos inócuos, que nada resolvem senão adiar a resolução do problema, fomerntando a caridadezinha falsamente cristã, engordando assim o conceito de pobreza inculcado no subconsciente das pessoas. É o retorno à velha máxima dos "pobretes mas alegretes!!".
Um recém-publicado panfleto da Câmara de Tomar, assinado por baixo pelo seu presidente, é a prova disso.
Enumeram-se uma data de medidas que não fazem outra coisa senão tapar o sol com a peneira.

Ao invés de se tomarem medidas estruturantes, opta-se pelo prolongamento da agonia para quem a sorte da vida é madrasta com medidas saloias de "arranja aqui, tapa ali, pinta acolá, não paga hoje para amanhá, coitadinho do pobrezinho!"...

Anónimo disse...

Ao Anónimo das 10:21.


De facto gostava que essas pessoas aparecessem.

Não estou a vislumbrar essas pessoas com essa capacidade/disponibilidade.

Anónimo disse...

AO ANÓNIMO ANTERIOR

E sabe porque é que não as vislumbra? Porque hoje em dia quem é honesto e competente não vai para a política porque não quer correr o risco de ser metido no mesmo saco daqueles que se servem dos cargos políticos para que são eleitos para se servirem e não para servirem o bem público!

...tão simples quanto isto!!!

Unknown disse...

Um mito a combater é este de que quem é sério e competente não quer estar envolvido na política. É redonda mentira. Se bem que se possa encontrar gente que o não seja tenho por certeza que a grande maioria, e seja de que partido o for, o é.

Anónimo disse...

Então azar o nosso que só nos tem saído a fava, sr. Silvestre!
Respeito a sua opinião, mas devo dizer-lhe que eu também já fui daqueles que acreditei no Pai Natal, no Lobo Mau, no Velho do Saco, etc.

...mas isso era quando eu era um inconscientezinho!

Unknown disse...

OK.
Então eu sou inconsciente.

Mas acontece que conheço suficientes pessoas, e de diferentes partidos, para me abalançar a dizer que têm, muitas vezes, uma visão dos problemas e das soluções diferentes das minhas mas é gente que, em termos de honestidade e competência, está acima a toda a suspeita.

A discussão terá que ser sempre em termos de ideias.

E, creia, que a ideia central do escrito de António Rebelo é certa.

Mas se são os políticos a decidir o que fazer a grande maioria das vezes são os técnicos a decidir como fazer e, bastas vezes, perante a olímpica indiferença das gentes.

Unknown disse...

Tirem lá aquelas duas vírgulas espúrias que envolvem aquele "creia", sff.

Anónimo disse...

Têm sido apresentadas e defendidas diversas soluções ao longo dos anos.

As mais recentes, desde 2004, encontram-se em www.tomar.psdigital.org, produzidos por um grupo de novos dirigentes que deram nova cara ao PS.

O trabalho consistente, persistente sempre deu, na vida, resultado, por isso eles devem continuar e não desistir.

Por e para isso sempre trabalharam as centenas de pessoas que, em Tomar, têm dado a cara pelo Partido Socialista.

Assina: Um dos fundadores do PS em Tomar, que muito bem conhece todos os que por ele deram a cara, mesmo os que hoje a ele viram a cara ao lado

Sebastião Barros disse...

Para anónimo das 18H06:

Não vale a pena tentar puxar pelos galões, aludindo à fundação do PS em Tomar. Não querendo enveredar por terrenos demasiado lamacentos, não posso deixar de advertir os leitores de que nenhum dos fundadores do PS está agora em Tomar. Uns morreram, outros foram-se embora.E isto diz muito! Por outro lado, há que reconhecer que na história destes 35 anos, aqui nas margens do Nabão, as decisões dos socialistas nem sempre foram as mais acertadas. E estou a ser condescendente. Isto para não abordar a questão da lealdade dos pais fundadores...
Por tudo isto, o melhor será abster-se de escrever sobre essa questão, sob pena de poder haver pano para mangas.

Anónimo disse...

Sobre o conteúdo dos contributos do PS, desde 2004, népia.

Percebe-se o estilo e o MEDO.

Tomar não voltará a ser o mesmo depois da PRÓXIMA GESTÃO DO PS EM TOMAR.

E não vale a pena tentar esconder essa futura realidade.

Assim o foi em 1977, com Luis Bonet. Assim o foi em 1989, com Pedro Marques. Cada um, a seu tempo, com a realidade do momento, liderou equipas que MUDARAM de FACTO Tomar. Para o bem e para o mal. Fizeram-nos, porque essa é DE FACTO a apetência de um Partido como o PS: MUDAR as coisas.

Anónimo disse...

Já aqui foi escrito, mas será de certeza oportuno repetir: Actos! Estamos fartos de paleio! Oiçam as pessoas! Saiam da capelinha! Tentem aprender a fazer projectos credíveis, adequados ao contexto económico actual! Deixem-se de lérias!Se o Bonet era assim tão bom, porque é que perdeu para o Murta? Se o Pedro Marques mudou as coisas, o que vos levou a não o recandidatar e a odiá-lo agora?

Anónimo disse...

Tomar não voltará a ser o mesmo depois da PRÓXIMA GESTÃO DO PS EM TOMAR.



Prevista para 2025 ou mesmo depois, comandados pelos filhos do adjunto, netos do mendes, do victorino, do carlos silva, do zeca,etc. vão transformar TOMAR

Anónimo disse...

SR. SILVESTRE.

Sob pena de estar a entrar em diálogo - o que de todo não deve acontecer neste blogue - permito-me dirigir-me a si para esclarecer uma situação por forma a não restarem dúvidas, até porque na minha opinião o senhor é dos que produzem aqui dos comentários mais equilibrados.

Quando um pouco mais atrás, referindo-me a um seu comentário, afirmei que também já acreditei no pai Natal, etc, etc, porque também já fui inconscientezinho, não quis inferir que o senhor seria inconsciente pelo facto de acreditar na honestidade dos políticos. O que eu quis dizer é que todos nós, em determinada fase da nossa vida, acreditamos em coisas que vistas mais tarde à luz da maturidade que a vivência nos vai conferindo são absurdas ou irrealistas. E nesse sentido o que quis dizer é que eu próprio também já acreditei na honestidade na política, até que a prática dos senhores do poder, de há bastantes anos até agora, me ter feito descrer totalmente.
Se o fio do meu discurso então não foi suficientemente claro peço as minhas desculpas.

Unknown disse...

Caro.

Percebi e assumi e não me senti, nem de longe nem de perto, ofendido ou ultrajado.

Tivesse sido e dir-lho-ia frontalmente.

Tenha um muito bom dia.

Anónimo disse...

A questão a colocar não é porque é que Bonet perdeu em 1979 para Murta, ou se o descalabro de Pedro Marques em 1996 abriu as portas a Paiva.

A questão a colocar é: estão os Tomarenses contentes e acham-se bem servidos com a Câmara que têm actualmente?

Não será altura de MUDAR? Como mudram anteriormente quando se fartaram dos Presidentes que o PS lhes proporcionou?
Não é esta a essência da democracia?

Unknown disse...

Mas a questão, para mim obviamente, não é essa.

Isso é mudar por mudar e esperar que corra bem.

Como fazer? Chegar à cabina de voto e um dó li tá quem está livre, livre está?

E não acho que seja essa a essência da Democracia (em maiúscula porque sim).

A questão fundamental é encontrar, (debatendo, analisando, exigindo) o melhor da comunidade. Os partidos e os grupos independentes apresentarão aqueles que entendem ser os melhores para, no seu entender, defender os interesses da comunidade. E nós, o que fazemos?

Eu sei. Sou o que se chama um lírico!

Anónimo disse...

Para anónimo das 10H47:

Como os interessados terão entendido, as perguntas referentes ao Bonet e ao Pedro Marques não tinham como fito obter respostas, mas unicamente colocar o contraditor em dificuldade, sem todavia o ofender. Tanto assim que ele voltou à carga, desta vez com a história da mudança. Acontece, porém, que nenhum dos candidatos já conhecidos oferece qualquer perspectiva de mudança. Todos são "gente da casa", com interesses comuns e comportomentos homólogos. Nestas condições, votar em quem e para quê?