sábado, 11 de abril de 2009

ATÉ OS ORGULHOSOS INGLESES...

Na City de Londres, a primeira casa de penhores desde há um século
Charles Dickens imortalizou nos seus livros a ganância dos donos das casas de penhores, explorando a miséria da classe operária. Mas os clientes que agora entram no 176 da Bishopsgate, em Londres, estão a anos-luz dos escravos cansados e sujos da revolução industrial, que vinham penhorar bens modestos por algumas moedas. Engravatados, bem barbeados, fatos chiques e sapatos pretos bem engraxados, quadros executivos apresentam agora relógios e jóias de marca como garantia para empréstimos de alguns milhares de libras. Outros, com o última folha de pagamento, pedem adiantamentos sobre os ordenados.
Bem-vindos à Casa Nikolas Michael, a primeira casa de penhores na City londrina desde há cem anos! Situada em frente da estação de caminho de ferro de Liverpool Street, em pleno coração da primeira praça financeira europeia, o estabelecimento aberto o mês passado é um sinal evidente da gravidade da crise que atinge o santuário do capitalismo britânico. O estabelecimento que antes ocupava a mesmas instalações, uma sociedade especializada no recrutamento de quadros da área financeira, faliu em Fevereiro.
"Os operadores da City estão a ser estrangulados. Os bancos recusam os empréstimos a descoberto ou para consumo, ou então exigem taxas de juro quase usurárias, apesar do aluguer do dinheiro estar no seu nível mais baixo." Os cofres da casa Nikolas Michael estão cheios de objectos para "traders" (corretores de bolsa), como por exemplo relógios Rolex e Jaeger, ou jóias Bulgari e Cartier.
Londrino de nascimento, o dono da casa explora um mercado em pleno crescimento, uma vez que os "empréstimos-ponte" permitem resolver dificuldades imprevistas da vida profissional, como o despedimento, a supressão dos prémios de fim de ano ou a distribuição de opções de compra de acções, em vez de numerário. "Os empregados da City são ricos em activos, mas pobres em numerário. É uma situação de curto prazo", explica o nosso interlocutor, enquanto vai avaliando as pedras preciosas de um magnífico colar. O contrato feito com o cliente é por seis meses, no máximo. A Taxa de juro é de 6%.
Segundo a "National Pawnbrokers Association", a organização nacional do sector dos prestamistas, as casas de penhores britânicas conseguiram em 2008 níveis record de negócio. Todavia, Nikolas Michael tenciona abandonar este negócio assim que voltar a haver crescimento económico. Nessa altura pensa abrir uma joalharia na City londrina "o centro do mundo".
Marc Roche, Le Monde, Londres

Sem comentários: