domingo, 26 de abril de 2009

O TEOREMA DA CRISE

Numa altura em dois ou três parcipantes deste blogue, capitaneados por um que escreve sempre em maiúsculas, persistem em confudir eruditos com parlermitas (com o devido respeito pelos que nasceram ou habitam em Palermo, e não são da Máfia), decidimos publicar o que segue. Para os fins tidos por convenientes.
"São tantos os estragos que provoca na economia real, que quase acabamos por perder de vista que, antes de ser uma crise do capitalismo, a crise dos "subprimes" é uma crise da finança. Particularmente dessa finança hipersofisticada e ultramatematizada, que vinha conseguindo, desde há trinta anos, um desenvolvimento exponencial. É agora acusada de, entre as mãos de aprendizes de feiticeiro, ter parido monstros que acabaram por devorar todo o sistema, incluindo os seus própriios criadores.
No actual grande processo, no qual é julgada por crime contra o crescimento económico, a inovação financeira acaba de encontrar um defensor ilustre, na pessoa de Ben Bernanke, patrão da Reserva Federal Americana. Ilustre mas também política e economicamente incorrecto. Apesar de milhões de americanos terem perdido as suas casas, por terem contraído empréstimos com modalidades obscuras; apesar de alguns dos maiores bancos de Wall Street não terem resistido à depreciação dos produtos titularizados que detinham; Ben Bernanke não hesitou em defender tal causa, a priori indefensável. "A inovação financeira, disse ele, melhorou o acesso ao crédito, reduziu os seus custos e aumentou as opções. Penso que não haverá ninguém que queira regressar aos anos 70." "Antes portanto de a matemática ter invadido o mundo da finança; antes também de os banqueiros terem descoberto que equações complexas podiam proporcionar-lhes muito mais lucros que os tradicionais almoços de negócios bem regados. Antes igualmente que muito jovens e brilhantes crânios da matemática, saídos das melhores grandes escolas e universidades, alguns ainda com borbulhas de acne, tenham substituido, sem piedade nem boas maneiras, gestores algo barrigudos, para quem uma boa informação confidencial fazia as vezes de estratégia de investimento.
Até ao início dos anos 70, a finança tinha-se mantido matematicamente subdesenvolvida. Uma tabela de logaritmos era suficiente, segundo o matemático Nicolas Bouleau, autor de Matemática e riscos financeiros. (Éditions Odile Jacob, Économie, 256 pages, 24,50€, em França e em francês). Tudo mudou de repente, com a decisão de pôr as moedas a flutuar. Contratos a termo sobre divisas foram então lançados no mercado de Chicago, seguindo o modelo dos que já aí existiam desde há mais de um século para as matérias-primas. As empresas passaram a ter a partir daí a possibilidade de se protegerem contra as variações do dollar, do yen, do deutchmark, tal como os agricultores contra a descida do preço base do trigo ou do milho.
Mas a valorização destes novos produtos financeiros, ditos produtos derivados, não é nada simples. Por isso, universitários americanos atrelam-se à tarefa e acabam por redescobrir a investigação realizada no início do século passado, pelo francês Louis Bachelier, considerado como o pai da matemática financeira. Bachelier tentou na sua época modelizar as cotações da bolsa, a partir de raciocínios probabilistas baseados nos jogos de azar. Em 1973, Fischer Black e Myron Scholes afinam a sua famosa fórmula sobre os preços das opções. E é a partir daí que toda a finança começa a recorrer às ferramentas matemáticas, as quais, no entanto, tinham sido concebidas para o estudo de outros fenómenos: agitação térmica, filtragem de ruídos, movimento de uma partícula de polen no ar, etc.
Já no fim dos seus dias, o japonês Kiyoshi Ito, considerado o maior probabilista do século XX, foi surpreendido pela notícia de que a integral escolástica, que ele tinha desacoberto , tinha começado a ser usada para os mercados e era utilizada pelos corretores de bolsa do mundo inteiro. Alavancada pelo desenvolvimednto da informática, a finança pôde conhecer durante trinta anos um período de euforia criadora, com a lançamento constante de novos produtos. Cada vez mais complexos e com modos de emprego cada vez mais difíceis de entender. Em princípio, também mais úteis e protectores.
É esta história. Que terminou mal. Porquê? Como é que produtos concebidos como protecção contra os riscos financeiros, levaram a riscos cataclísmicos? Como é que o rigor matemático pode provocar um tal caos?
Os crânios matemáticos da finança são agora acusados de não se terem preocupado o suficiente com a realidade, e de se terem deixado embalar pelos bonus substanciais e, sobretudo, pela bela verdade matemática dos seus modelos. Acusam-nos igualmente de não se terem questionado o suficiente sobre a finalidade moral do seu trabalho -como fizeram os físicos nucleares nos anos 40. Teria, portanto, chegado o tempo de "desmatematizar" a finança. De agir para que a profissão de banqueiro volte a ser, na feliz expressão de Jacques Attali, "modesta e aborrecida".
Absurdo! contestam em coro os acusados, para os quais a finança não constitui excepção. A matemática faculta um melhor entendimento dos factos e as constantes inovações melhoram o seu funcionamento. Absurdo, também, porque a crise dos "subprimes" revela sobretudo carência e não excesso de matemática na finança. Esta apenas enfrentou uma situação de catástrofe, semelhante a uma inundação do século para uma barragem, que os modelos matemáticos existentes ainda não podiam integrar como hipótese. As próximas construções teóricas só podem ser mais sólidas, uma vez que já integrarão a nova possibilidade. Em resumo, a matematização da finança não teve nada a ver com o que acabou de se passar, mas antes com a irracionalidade dos homens, muito mais difícil de modelizar. Exactamente o que já tinha compreendido Isaac Newton, em 1720, quando perdeu muito dinheiro com a falência da South Sea Company: "Sei calcular os movimentos dos corpos pesados mas não a loucura das multidões".

Pierre-Antoine Delhommais, delhommais@lemonde.fr Tradução de A.R.

5 comentários:

Anónimo disse...

"três parcipantes"

OU SERÁ "TRÊS PARTICIPANTES"?
O QUE FAZ A SENILIDADE ;-)

SELF MADE MAN!

Anónimo disse...

"Sei calcular os movimentos dos corpos pesados mas não a loucura das multidões".

Pois está de ver que saberás copiar, pastar, voltar a copiar e traduzir, em automático, opinar e afins, mas nunca poderás saber o que é gerir ou decidir. Azares!

Anónimo disse...

GIRO TANTA COISA QUE NEM VOSSA EXCELÊNCIA CALCULA... E GIRO MUITO BEM POIS SOU COMPETENTE E TENHO METADE DA TUA IDADE! O PEDRO MARQUES QUE TE DIGA :-)


SELF MADE MAN!

Anónimo disse...

Este SELF MADE MAN, sr. Rebelo, não passa dum narcisista com complexo de inferioridade. Até aqui tudo bem! O problema é que me parece que não revela tendências suicidas.

Unknown disse...

"pastar" é tradução automática de "paste"?