segunda-feira, 27 de abril de 2009

ABANDALHAR TOMAR



António Rebelo
Dizia Nini Ferreira, com quem nem sempre estive de acordo, que os turistas gostam da cidade mas os tomarenses vêem-na com outros olhos. É precisamente o meu caso. Olho para esta terra com carinho e paixão; sofro quando lhe fazem mal, mesmo que involuntariamente.
Tomar não é, no contexto nacional e internacional, uma terra qualquer. Foi a capital templária e a terra onde se geraram os fundos que permitiram o arranque e desenvolvimento da Empresa dos Descobrimentos, a maior da nossa história. A imensa e sublime Casa da Ordem, que nos fita, aparentemente muda, lá de cima, é indubitavelmente motivo de orgulho, mas impõe-nos também enormes responsabilidades. Se fomos, durante séculos, titulares do segundo banco em cortes. Se, já na época moderna, fomos uma cidade de referência na região centro. Se, desde a radiosa alvorada de Abril, temos vindo a perder protagonismo, algo deve estar errado connosco. É portanto nossa responsabilidade primeira tentar identificar, com coragem e sem fantasias, tudo aquilo que obsta ao nosso desenvolvimento como comunidade que já conheceu muito melhores dias.
Como já tive ocasião de referir em escritos anteriores, um desses obstáculos ao nosso progresso é a nossa evidente falta de hospitalidade. Não que sejamos menos acolhedores que os habitantes de quaisquer outras localidades. O que acontece aqui nas margens do Nabão é que os nossos autarcas nem sempre se têm dado conta das carências em termos de trabalho empenhado para o bem comum. Dão-se opiniões fazem-se críticas, lançam-se sugestões, e eles nada. Não ouviram, não leram, não sabem. E as mazelas vão-se acumulando, em termos de estruturas de acolhimento de quem nos honra com a sua visita. Ruas, caminhos, calçadas, casas de banho, parques de estacionamento, indicações, guias, circuitos, nada disso tem estado ou está, que se saiba, à altura do que é esperado pelos turistas, quando comparado com outras cidades com responsabilidades semelhantes.
Claro que os visitantes raramente se queixam, poucas vezes reclamam, pois não ignoram que a maior parte dos casos, (para não dizer sempre), seria tempo perdido sem qualquer proveito. Não deixam, porém, de difundir junto de amigos e conhecidos que foram mal acolhidos, mal informados, mal guiados, mal servidos... A constatação de que o total anual de visitantes do Convento de Cristo não tem progredido ao mesmo ritmo da entrada de turistas estrangeiros no país, devia ter-nos já levado a analisar cuidadosamente a questão, de forma a poder ultrapassá-la com sucesso, caso os nossos autarcas tivessem veramente como objectivo central servir a causa pública. Em vez disso, o que tem vindo a ocorrer é o progressivo abandalhamento do turismo local, cujo melhor exemplo foi o encerramento injustificado, e inimaginável para alguns, do Parque de Campismo, que ninguém fora de Tomar entendeu. É que já dura desde 2003.
Águas passadas não movem moinhos, dizia o povo e continua a ser verdade. Olhemos então para o presente e para o futuro, no sentido de melhorar o que está mal e quanto antes, numa índiscutível óptica de dedicação à coisa pública, aos interesses reais da comunidade tomarense no seu conjunto. Não basta tratar do açude do Mouchão ou da Agenda Cultural. É urgente reparar as centenárias calçadas de acesso pedonal ao Convento, arranjar estacionamento para autocarros junto à Várzea Pequena. Manter abertas, limpas e vigiadas as diversas casas de banho da cidade e do Convento, proceder à asfaltagem do parque de estacionamento da Cerrada dos Cães, reclamar junto da entidade competente a alteração e adequação dos circuitos e dos horários de visita do Convento, a contratação e/ou formação de pessoal qualificado na área do turismo receptivo, a recuperação e o uso racional do ex-Hospital Militar, fechado e ao abandono há mais de dez anos, servindo ocasionalmente de armazém de espólios de responsabilidade camarária, numa promiscuidade inaceitável, etc. etc
Sobretudo e por favor, deixem de abandalhar Tomar, mesmo que involuntariamente! Sei bem que todos têm o direito ao trabalho. Por isso me abstenho de mencionar casos mais concretos. Mas há coisas que não nos honram de maneira nenhuma. Antes nos envergonham ou nos deviam envergonhar. As duas fotos acima ilustram um desses casos de nítido abandalhamento.
Em termos de promoção, é óbvio que as coisas ou se fazem o melhor que seja possível, ou então está-se a fomentar o contrário daquilo que se pretendia. O Congresso da Sopa, feliz ideia de Manuel Guimarães, prosseguida com paixão tomarense por Manuel Bento Baptista, após o súbito falecimento do seu iniciador, conseguiu alcançar um estatuto de notoriedade e qualidade, ímpares no país. Após anos e anos de desinteressada devoção à causa pública, Manuel Bento resolveu retirar-se, o que se entende perfeitamente. Pois tanto bastou para que já se comece a abandalhar o que estava a um nível bem acima da média. O modo como está a ser publicitado o acontecimento gastronómico deste ano, bem vísivel em qualquer das fotos, despromove-o. Transforma-o em "congressozinho das sopinhas", mesmo que nem seja essa a intenção. Em termos de publicidade, propaganda, marketing, promoção, é como dizia da política o senhor de Santa Comba -o que parece é!
Em nome da minha e da vossa cidade, rogo-vos, de joelhos se for preciso, retirem já essas misérias das ruas! Façam as coisa com honestidade e com dignidade! Se não sabem que chegue, peçam ajuda! Nenhum tomarense digno desse nome ousará recusar-se a colaborar. Porque acima dos partidos e da ideologia de cada cidadão estão os interesses de Tomar!

7 comentários:

Anónimo disse...

E a deflorestação de Tomar, sr. Barros? Quanto a isso há novidades, olá se há!!!
Então não é que se calhar por causa de tantas críticas ao abate assassino de árvores um pouco por toda a cidade os irresponsáveis pela nossa santa terrinha mandaram plantar árvores numa das novas rotundas junto ao túnel da Refer, ao fundo da avenida Nuno Álvares Pereira. Até aqui nada de extraordinário!
O que torna este facto digno de menção honrosa é a quantidade de árvores plantadas na tal rotunda com uma área semelhante à que foi construída perto da Jacome Ratton: nada mais nada menos que 30! TRINTA!!! Isso mesmo, leram bem e eu não me enganei! É ir lá para ver!!! Aquilo parece o meu pelotão na formatura do meio-dia para o almoço: ALINHADINHAS quase milimetricamente!!!

Vai ser o bom e o bonito quanto as desditosas ficarem adultas. Ou são esparguetifoides e lá se conseguem organizar em tão pouco espaço, ou se forem de encher e caducifóleas irá ser o bom e o bonito quando vier o Outono com toneladas de folhas a vadear alegremente por ali abaixo.
Não há miséria que não dê em fartura! A não ser que eu esteja a ver mal a coisa e aquilo seja um viveiro! Quem mandou fazer aquela aberração ou está na andropausa e dão-lhe umas guinadas no hipocampo, assim tipo choque eléctrico que fazem o Tico e o Teco disparar mal, ou é míope e não se apercebe da magreza da área...ou então foi por causa da birra do sono!

É mais um exemplo do ajavardamento da cidade...
venha o próximo!

Anónimo disse...

RECTIFICAÇÃO:

A rotunda-maravilha a que me refiro no comentário anterior fica na avenida da estação imediatamente antes do túnel da Refer e não na av. Nuno Álvares Pereira.

Rui Ferreira disse...

Se não se falar nisto, até parece normal!

Anónimo disse...

Concordo com tudo.

O autarca ou autarcas que acabaram com o estacionamento de autocarros na Várzea Pequena deviam ser chamados a responder pelos prejuízos causados.

Porém, a imprensa local, o comércio, os habitantes da cidade têm as mesmas responsabilidades por não se terem levantado contra tal decisão. Não lembrava ao diabo. É revoltante. Que estupidez!

Anónimo disse...

Que é que queria que se fizesse? pegarmos em paus e pedras e corrê-los à pedrada? Afinal de contas o que diz a democracia é que os eleitos estão mandatados pelo povo para fazerem o que fazem! Logo, estaão legitimados nos seus actos!
Ah!, dir-me-á você, o que fizeram foi contra os interesses do povo!
Respondo eu: por isso é que a democracia começa e acaba no dia das eleições!

Anónimo disse...

Penso que a Câmara de Tomar, cidade templeira, considera esses turistas do garrafão ao mesmo nível dos chamados pés-descalços de mochila e tenda ás contas e púcaro á cintura. Daí, num aturado exercício de eugenia, ter desmotivado a vinda a Tomar dessa gente, por forma a "purificar" o tecido demográfico nabantino...

Tudo para bem do povo eleitor, pagador...e sofredor!

Anónimo disse...

Aqui em Tomar só são benvindos barões e baronesas, ricos-homens e suas concubinas, patrões e outros de Mercedes, charlatões engravatados, outros de cabelos pintados, vendilhões e outros charlatões, de boas falas só doutores, desde que sejam bons actores.