quarta-feira, 27 de julho de 2011

Fora de tempo...

Dizia-me ontem um concidadão que, com toda a certeza, por este caminho ainda vamos ter saudades de António Paiva. Poucas horas mais tarde, o nosso prezado comentador "Cantoneiro da Borda da Estrada" lamentava que Bruno Graça não seja vereador. Isto na mesma semana em que se soube ter a autarquia colocado à discussão pública o novo regulamento de atribuição de subsídios e outras ajudas às colectividades concelhias. Ponto comum aos três factos: os recursos proporcionados pelos contribuintes e a sua afectação.
Temo bem que tanto os simples cidadãos antes referidos como os senhores autarcas,  sem disso se darem conta,  estejam naquela desconfortável situação de Charles Chaplin nos Tempos Modernos : após horas e horas, dias e dias, semanas e semanas, meses e meses, obrigado a repetir os mesmos gestos, exigidos por uma máquina da cadeia de produção, já no regresso a casa continuava em plena rua a repetir os ditos gestos, como se ainda estivesse frente à máquina. Trata-se, como decerto o precavido leitor já intuiu, do conhecido caso dos "movimentos reflexos". Os tais que repetimos por assim dizer sem disso nos apercebermos. A força do hábito.
Dado que os intervenientes citados ou vivem no concelho ou são tomarenses, ou ambos, arrisco uma segunda metáfora no mesmo âmbito. Houve tempos em que, importante cidade de guarnição, Tomar era o mercado natural para muitos produtos consumíveis da ampla região envolvente. Um desses apreciados produtos era o "Queijo das Areias", com origem na zona envolvente da povoação do mesmo nome. Com o passar dos anos, deixou de haver pastores, rebanhos e queijeiras por aquelas bandas, mas como Tomar também deixou  de ser o tal importante centro militar, quase ninguém se deu conta da alteração, uma vez que eram, por assim dizer,  exclusivamente os oficiais do exército aqui residentes que tinham acesso ao referido manjar.
Tenho-o dito de múltiplas maneiras, desde o primeiro post deste blogue, mas nunca será demais repeti-lo, uma vez que as três ocorrências antes referenciadas denotam o usual comportamento tomarense -pensar e agir como se o presente e o futuro mais não fossem que uma repetição do passado. No caso presente, não está em causa que António Paiva tenha conseguido imenso dinheiro europeu para as obras que idealizou e estão à vista de todos. Ou que Bruno Graça tenha desenvolvido ao longo dos anos um admirável trabalho associativo na Gualdim Pais. Ou que os distintos autarcas nabantinos devam manter actualizado um regulamento de ajuda às colectividades. Apenas se pretende vincar que as condições envolventes que tornaram possível a actuação do anterior presidente da câmara de Tomar, a louvável obra de Bruno Graça na Gualdim Pais, ou a atribuição de bastas ajudas e facilidades às muitas e variadas entidades ditas sociais, culturais, recreativas e desportivas, pura e simplesmente deixaram de existir. E muito dificilmente voltarão a surgir, mesmo num futuro longínquo. É portanto imperioso e urgente encontrar outro rumo, outros recursos, outra maneira de pensar as coisas. Quanto mais tarde os eleitores e os dirigentes locais perceberem e aceitarem esta nova e extremamente adversa realidade, pior será para eles e para todos nós. Porque podemos ser acérrimos adversários da chuva e do frio, sem que tal posição tenha ou possa vir a ter qualquer influência nas convencionadas "estações do ano". É a vida, exclamou o outro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem-aventurados os pobres de espírito

Apesar da crise que enfrenta Portugal está cheio de sorte, está preocupado com aqueles cujos rendimentos estão abaixo do exigido para se pagar o IRS extraordinários. Isto é, todos os outros que se danem pois são quase ricos, já que os ricos propriamente ditos também estão isentos.

Temos, portanto um presidente (a letra pequena é intencional) que ignora quase todos os que trabalham e que, que suportam os custos de todos os desvarios incluindo o excessivo orçamento do Palácio de Belém, que vão pagar o gabinete, a secretária o carro e o motorista ao Mota Amaral, que sofrem sobrecargas ficais em catadupa e muitos deles ficam com menos do que ordenado mínimo abaixo do qual estariam isentos do imposto extraordinário.

Temos um presidente que só se preocupa com alguns e como escolhe os mais pobres ou os supostamente mais pobres pode levar o populismo governamental ao extremo de dizer que só se preocupa com estes. Cavaco parece confundir o Palácio de Belém com o Banco Alimentar contra a Fome e confunde as funções de Presidente da República com as de um dirigente da Caritas. Agora temos um presidente dos pobres e só falta que o Diogo Pinto Leite sugira a emissão de cartões de pobres para que os portugueses merecedores estejam devidamente identificados, o ideal seria que esses cartões pudessem ser presos à lapela.

Onde estariam esses pobres quando o Estado quase não lhes dava apoios sociais? Por onde andava Cavaco quando foi necessário promover acções de ajuda alimentar no Alentejo ou quando o distrito de Setúbal foi invadido por bandeiras negras?

Temos um presidente que não parece saber que tem de se preocupar com o país e com todos os portugueses, que ignora que muitos dos que mais estão a sofrer com a actual crise têm rendimentos que serão sujeitos ao imposto extraordinário e são esses que estão sendo sujeitos a uma política de empobrecimento acelerado.

Mas pior do que a pobreza económica é a pobreza de espírito, ainda que estes por serem os mais aventurados têm a garantia de que lhes serão abertas as portas do Céu, têm na Bíblia as garantias que muitos portugueses não terão na Constituição.
"O JUMENTO"

Anónimo disse...

Algumas considerações desapaixonadas:

1 - Tomar tem colectividades (culturais, mas não só) que vivem apenas do que recebem do orçamento camarário;
2 - Este facto dá a imagem de que no concelho existem demasiadas associações;
3 - Paralelamente tem-se a ideia que o orçamento municipal para a cultura (e afins) é escasso, o que não é verdade;
3 - Existe uma sobreposição de colectividades que apenas são justificáveis por anteriores lutas intestinas, ódios de estimação e divórcios jamais cabalmente justificadas;
4 - Amiúde os orgãos sociais das colectividades do Concelho são uma repetição de nomes de "pessoas de bem" com aspirações politico-sociais. Jamais poderá haver dedicação plena quando se sente que as próprias direcções estão a fazer "fretes";
5 - Embora as associações tenham uma importância social ímpar, a acção quotidiana de um grande número delas demonstra que teimam em sobreviver por interesses obscuros que não o do "bem público";
6 - É urgente definir serviços mínimos apertados para as associações poderem recorrer a subsídios e outros financiamentos comunitários;
7 - A Câmara Municipal deveria recorrer cada vez mais, e de forma preferencial, à escolha das associações como parceiros das suas actividades, através de concurso público e não através de ajustes directos quase sempre obscuros e polémicos;
8 - E porque a cultura é um bem precioso e que é urgente preservar, o Vereador com este pelouro deveria ter ideias precisas para a área e não andar a reboque de oportunidades e oportunistas.

O Lacrau do Nabão