quarta-feira, 20 de julho de 2011

Realidade tomarense e realidade dos tomarenses

Enquanto os tomarenses activos nestas coisas da participação cívica -que são relativamente poucos- se vão procurando entreter com algumas peripécias dos recentes festejos, como por exemplo o "escândalo TVI", a autarquia tomou mais uma decisão heróica, sem dúvida  fundamental para o futuro de todos nós -atribuiu a um grupo associativo local um lauto subsídio de 3 mil euros para os próximos 5 anos, o que vai permitir a todos os cinéfilos locais ver cinema de qualidade uma vez por semana, às quintas-feiras. Pagando, claro está! Na mesma semana em que o barracão/mercado, que continua com sérios problemas de temperatura e sem solução à vista, deixou de ter segurança. A empresa privada que a assegurava achou que o calote camarário já ultrapassava as marcas, o que a levou a rescindir o opaco convénio antes celebrado. Em cima da mesa? Por debaixo da dita? Ambas as hipóteses? Fora do primeiro círculo do poder local, ninguém sabe. E mesmo no dito...
E a seguir? A "segurança" nos dois parques de estacionamento, que custa à roda de 400 mil euros anuais aos contribuintes? Os TUT, que se ficam pelos 380 mil? Uma coisa é muito provável, cuido eu: até 2013, ou a gerência autárquica em funções arranja coragem para se desembaraçar de 30 a 40% dos seus 580 funcionários, na sua maioria dispensáveis; ou audaciosamente consegue que aceitem uma redução remuneratória equivalente; ou será confrontada inevitavelmente com a situação de não poder pagar-lhes com pontualidade. A  menos de 6 meses das previstas autárquicas...
Para que não venham uma vez mais com lampanas do tipo "isto é só conversa do gajo...", anotem lá esta afirmação de Medina Carreira, que não é tomarense nem costuma ter papas na língua: "A simples existência de partidos não assegura que sempre se faça o que deve ser feito. Aí reside uma das fraquezas da democracia: os que se apossam do poder invocam uma legitimidade formal para praticar políticas sem qualquer legitimidade material." (Portugal, que futuro?, página 135) Um bruxo dos bons, este dr. Carreira! Mesmo sem viver em Tomar, consegue sintetizar, em poucas mas ajustadas palavras, a nossa triste e penosa situação. E já antes tinha ido até mais longe: "Os sistemas político-económicos não dependem exclusivamente da vontade dos homens, por muito poderosos e sábios que sejam. Em cada tempo é possível criar e manter um determinado modelo. Mas, passado que ele seja, e quando se alterarem significativamente as circunstâncias em que se fundou, não resistirá mais e caducará." (Portugal, que futuro, página 131). O subtítulo da obra citada vem mesmo a propósito: "O tempo das mudanças inadiáveis". Exactamente o que se aguarda para o mercado, o ex-estádio, os ciganos, o bairro 1º de Maio, a festa dos tabuleiros, o rio, o apoio às colectividades, o desenvolvimento local, o turismo, a cultura, o investimento, o emprego, a competitividade, a qualidade. Tudo, em suma! Salvo a persistência do que temos tido e temos. E assim acontece... dizia o outro.

1 comentário:

Anónimo disse...

que comentário azeiteiro, mesmo no timbre de Rebelo: muita conversa, zero de conteúdo. Já chateia ouvir sempre a mesma cassete...