quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os do norte e nós

Jornal de Notícias de 27/07/2011, páginas 16 e 17

Ficamos assim algo ofendidos quando alguém do norte, como por exemplo Pinto da Costa, fala em tom depreciativo dos "mouros", aqueles que nasceram e habitam a sul do Mondego. A verdade, porém, é que são nítidas algumas diferenças comportamentais, nomeadamente no que se refere à autonomia individual, ao empreendedorismo e à dependência do Estado, directamente ou através do poder local.
As duas ilustrações acima documentam um caso preciso e actual: A Feira Medieval, que se realiza todos os anos em Santa Maria da Feira, nos terrenos em redor do castelo. Mostram antes de mais como se faz boa comunicação, facultando aos jornalistas documentação adequada, completa e atempada. Informam depois que, procurando fazer face à crise, em vez de ficarem atidos ao orçamento camarário ou do estado, resolveram começar a cobrar entradas. Explicam, finalmente, que estas coisas devem ser anuais e devidamente actualizadas em cada edição, pelo que o ideal é uma Empresa Municipal. Não para a transformar em mais um armazém de funcionários, que ninguém sabe ao certo para que servem, em que há vários chefes para cada índio, mas com poucos e bons. Constantemente avaliados através dos resultados conseguidos. Como no futebol, por exemplo.
Claro que a sul do Mondego a música é outra e o ritmo diferente. Cultiva-se sobretudo o espírito tribal e a aversão à inovação. É fundamental que nada mude, em nome de uma pretensa tradição, nalguns casos de resto bem recente, como forma de manter a todo o custos as posições que tanto trabalho deram a alcançar. Há lá alguma coisa melhor nesta vida do que pavonear-se, barrete ao ombro e cinta preta,  num cortejo a que assistem muitos milhares? E aquela feira de vaidades que é o Cortejo do Mordomo? E os lugarzinhos sentados para a bênção e o erguer dos tabuleiros? E os convidados políticos?  E o suculento "buffet froid" para 500 convidados, em tempo de crise? E as argoladas e outras aselhices, antes, durante e depois do cortejo, que transformam um evento de promoção, num caso de aversão para muitos visitantes?
Custa caro, dá sempre prejuízo e tem fraco impacto no mercado turístico, devido à estranha periodicidade? É verdade!  Mas podia ser de outro modo com a actual organização "amadora", efectivamente controlada por uma transitória maioria autárquica, que nem tem planos nem procura consegui-los? Claro que não! Tudo evolui neste mundo e neste país, mas a orgulhosa cidade que outrora foi capital templária teima em mudar o menos possível e só quando já não pode ser de outra maneira. 

Bom proveito a todos, que eu não tenho estômago para tal comida.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Tudo evolui neste mundo e neste país, mas a orgulhosa cidade que outrora foi capital templária teima em mudar o menos possível e só quando já não pode ser de outra maneira.
Bom proveito a todos, que eu não tenho estômago para tal comida.
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É impressão minha ou noto nestas palavras um tom amargo, de quem sente uma impossibilidade de mudar o que quer que seja?
Não desanime. Daqui a 4 anos podemos trocar Passos Coelho pelo Tó Zé Seguro, e antes disso também iremos ter a possibilidade de substituirmos Curvelo por alguém que defenda mais a cidade de Tomar.
Mas até lá teremos de aguentar...

A.A.

Anónimo disse...

Porreiro, pá!