quinta-feira, 18 de outubro de 2012

HÁ MESMO OUTRO CAMINHO ???

"Afinal não são assim tão maus..."


"O governo socialista está mesmo atado de pés e mãos pelos seus dogmas, como se lê na imprensa de centro-direita? Eis uma tese no mínimo muito difícil de defender, que resulta mais do partidarismo que do exame sério da política em curso. O ministro da administração interna segue uma política de segurança bastante afastada dos supostos preconceitos da esquerda pura e dura. A negociação em curso com os parceiros sociais tem como objectivo já anunciado ampliar, mediante um compromisso patronato/sindicatos, a adaptação do mercado de trabalho às novas realidades. Numa palavra: flexibilizar. Contra a corrente de um certo discurso de esquerda, o governo socialista já admitiu que o custo do trabalho é um elemento importante na competitividade francesa. Uma inesperada fuga de informação -ou terá sido propositado?- vinda da presidência da república, indica que Hollande está em vias de transferir para os impostos directos uma parte  da TSU patronal, tendo em vista reduzir os custos de produção.
Para muitos economistas, o governo socialista está mesmo a ir demasiado longe. A austeridade imposta aos franceses pode prejudicar o crescimento económico. E é verdade que, dada a ausência de uma retoma europeia, a redução dos défices pode muito bem arrastar-nos para o círculo vicioso da recessão. Tradicionalmente, logo que a esquerda conquista o poder, começa por cantar "Le temps des cerises". Desta vez, começou pelo tempo dos caroços. Onde é que está a falta de iniciativa, a moleza?
A política agora em vias de implementação só poderá surpreender os que não lêem os textos e esquecem os itinerários. O verdadeiro projecto de François Hollande, herdeiro de Mitterrand mas filho ideológico de Jacques Delors, é a introdução em França da política de compromisso social, tão frequente no resto da Europa. Apoiar a produção, redistribuir pelos impostos: o hollandismo é afinal uma social-democracia. O que não constitui uma garantia de sucesso, tanto mais que ainda estamos na fase das intenções e dos projectos. Mas indica um rumo.
Durante décadas, a direita lamentou que a esquerda francesa não acompanhasse as suas primas mais realistas da Europa do Norte. Está agora a fazê-lo. Estão à espera de quê, para aplaudir?"

Laurent JOFFRIN, editorial, Nouvel Observateur, 11/10/2012, página 3

O editorial de Laurent Joffrin tem quatro partes. A tradução refere-se às duas últimas.

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