"Temos de mudar isto tudo", afirmou José Gomes Ferreira na sua comunicação durante o Congresso de Tomar. E foi alinhando os exemplos e respectivas consequências. Taxas exageradas e burocracia excessiva, que afastam os investidores e desencorajam os moradores; PDM irrealista, que impede de construir em imensas zonas verdes, que depois ardem de um ponta à outra; planeamento excessivo, com o intuito subjacente de criar dificuldades para depois vender facilidades; excesso de pessoal de secretaria, mas falta de trabalhadores braçais; ausência de planos tácticos ou estratégicos; péssima qualidade de atendimento... Tudo isto já aqui foi dito e redito, vezes sem conta. Está portanto cheio de razão José Gomes Ferreira, que mostrou conhecer bem a terra onde nasceu e viveu até aos 14 anos.
Aconteceu porém o inesperado, logo a seguir à sua justíssima intervenção. Um autarca em funções -o vereador do PS José Vitorino- apresentou-se como cidadão e empresário, após o que manifestou discordância em relação a dois exemplos apresentados pelo orador: um pedido de licenciamento para um campismo, que foi chumbado sem mais delongas e a indispensável simplificação ou até a supressão do planeamento a régua e esquadro.
Em relação ao caso do campismo, Vitorino achou que o pedido foi muito bem indeferido, porque aquilo não era um projecto nem coisa parecida (subentendido: não seguira a devida via sacra com as respectivas alcavalas). Diplomata, Gomes Ferreira concedeu que se calhar o exemplo fora mal escolhido, mantendo contudo a posição de fundo contra o excesso de arrogância e de burocracia que impera aqui e por esse país fora. Acto contínuo, o autarca PS aproveitou a cedência parcial do orador para carregar no pedal. Invocando o caso espanhol, sustentou que o planeamento é necessário, pois tem de haver rigor e uma correcta ocupação dos solos, para evitar o agravamento da actual situação de povoamento cada vez mais disperso que por aí temos.
Sem se dar conta da incoerência, enveredou logo a seguir pela descrição de um problema pessoal, enquanto empresário, relacionado com um prédio da Rua de Coimbra, já habitado, e com as respectivas infra-estruras, também já terminadas e em serviço, mas que a autarquia se recusa a receber. Concluiu dizendo que o diferendo "já se arrasta há dez anos". Temos assim um planeador vítima do planeamento. Em termos simples, um cidadão a provar do próprio veneno que produz.
Como diria Fernando Pessa: E esta hein?! Para não exclamar: Isto só mesmo em Tomar!
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