Abro com uma local ambivalente. Por um lado, bem triste para Tomar, pois é mais uma machadada no prestígio nabantino que já houve. Por outro lado, uma satisfação para os caxarienses, que passam a poder apanhar o SUD e o LUSITÂNIA na própria terra, quando até agora tinham de ir a Chão de Maçãs ou a Pombal.
JORNAL DE LEIRIA, 11/10/2012, página 13
O tema recorrente desta semana parece ser a manifesta falta de liderança política. O MIRANTE titula que "Falta de um líder político em Santarém provoca guerra", tendo necessitado a intervenção da PSP em plena Assembleia Municipal. No CIDADE DE TOMAR António Alexandre afirma que "Assim não vamos lá", acrescentando a dado passo que "falta a Tomar um líder que a partir da câmara e da cadeira de presidente, saiba usar as nossas potencialidades e saiba moderar os vários interesses, aproveitando tudo o que temos. É isso que nos faltou e falta." Noutra página do mesmo semanário, António Cupertino, que não tenho o prazer de conhecer, cita Fernando Pessoa, escrevendo a seguir que "Um homem para liderar uma câmara como a de Tomar, e ser seu presidente, deveria ter saído do molde em que se fizeram os nossos maiores. Devia conhecer a História, a Geografia e os Homens que fizeram a Cidade que serve."
Um ponto comum, portanto: falta de liderança. Uma lacuna que me parece ser praticamente impossível de preencher nos próximos tempos. Por duas ordens de razões. Uma é o progressivo fechamento dos partidos, que a nível local não me parece que sejam um grande viveiro de líderes, por motivos de todos conhecidos. Quem sabe pensar e pensa de forma autónoma, não consegue suportar durante muito tempo a disciplina partidária, num contexto de crescente mediocridade, sendo que aos independentes não são facultadas hipóteses de encabeçar listas partidárias, salvo raríssimas excepções. Exemplo: Há quatro anos ainda consegui participar na eleição interna do cabeça de lista socialista, que felizmente perdi. Este ano nem isso é já possível, de acordo com o novo normativo interno, entretanto engendrado e aprovado pela maioria segurista.
A outra série de razões tem tudo a ver com a particular idiossincrasia dos tomarenses. Ser líder supõe ter um ascendente intelectual, cultural, político, reconhecido pelos seus concidadãos. Sucede que, infelizmente, os tomarenses se consideram em tudo os melhores do mundo, pelo que não reconhecem qualquer primazia ou ascendente a quem quer que seja. Donde a triste constatação segundo a qual os nossos conterrâneos são muito difíceis de aturar. Não só por se considerarem sempre os maiores, apesar de a realidade demonstrar o contrário a maior parte das vezes, mas também e sobretudo por terem um comportamento "soviético": consideram que "eles"= Estado, governo, autarquia, devem facultar ensino, educação, assistência médica, desporto, cultura, emprego, segurança, saneamento, e por aí fora. Tudo à borla e com qualidade. Cuidam também que só têm direitos, sendo os deveres para cumprir pelos outros. Com fregueses assim, quem quer ser prior de semelhante paróquia?
Uma nota final para a crónica de António Lourenço dos Santos, provável futuro cabeça de lista do PSD, segundo o que se vai ouvindo por aí, cada vez com mais insistência. Vem n'O TEMPLÁRIO e critica asperamente o comportamento da oposição, ao chumbar o PAEL na Assembleia Municipal, prejudicando assim gravemente uma série de empresas credoras, cansadas de aguardar que o Município lhes pague o que deve há longos meses.
Entretanto o assunto perdeu acutilância. Segundo a Rádio Hertz, apesar do chumbo, o executivo acabou por solicitar o empréstimo, uma vez aconselhado pela respectiva associação. A política é amiúde assim: muita parra e pouca uva. Sobretudo quando paradoxalmente andam todos à procura de um líder.
1 comentário:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
N'O Templário' desta semana, que recebo por correio eletrónico pela módica quantia de 30 Euros anuais (aconselho outros leitores a fazerem o mesmo com este ou outro jornal de sua preferência), chamou-me a atenção um artigo do Sr. Carlos Carvalheiro, "Crítica Construtiva", acerca de um email recebido pelo Fatias de Cá de uma espetadora, que assistiu, no Castelo de Almourol, à representação da peça "Viriato".
Excerto dessa crítica citada no artigo:
«(...)Os actores dobravam sem falar (o que logo no início, nos causou alguma decepção), alguns sequer se davam ao trabalho de abrir a boca, muitas crianças e jovens sem nenhuma experiência, deixando a peça de uma forma amadora descompromissada, sendo o preço demasiado elevado pela qualidade apresentada. Espero que, esta crítica seja encarada de forma construtiva, pois o país necessita de espetáculos de qualidade".
Bem se percebe, pelo artigo do Sr. Carvalheiro, que não contesta a crítica feita, e que usou a mesma para deixar subentendido, publicamente, que a culpa residirá em eventual falta de meios resultante de cortes ou suspensão de subsídios estatais ou outros. Presumo. Só que eu entendo que essa crítica não devia ser utilizada publicamente para justificar, pelos vistos, um miserável espetáculo, assacando a responsabilidade à presumível escassez de meios (materiais ou outros). Ao menos fosse direto ao assunto.
O que fica bem patente é que o espetáculo foi um embuste chapado, e isso vem acontecendo noutros palcos com outros grupos. Como espetador frequente de Teatro, tenho tido deceções clamorosas; aprecio sobremaneira a representação dos clássicos, a que raramente falto, e não raras vezes venho de lá esmagado pela ligeireza e desprezo como são tratados os espetadores por grupos que vivem muito de subsídios oficiais.
Nos últimos tempos recordo um "Hamlet", que foi uma seca, melhor teria feito se passasse esse tempo a reler a peça; outra vez com o "Otelo", personificado por um actor de cor negra, opção que seria quase perfeita, não se desse o caso de o actor nem ao nível de razoável amador estar, desprovido inteiramente de qualquer formação mínima na arte de representar. Segurou-me até ao fim o actor que representava o Yago; um outro caso, "Mãe Coragem", de Brecht, Abril ou Maio de 2009, no Auditório do CCB, em que a páginas tantas um personagem desatou as berros, por 4 vezes, "Isto é uma Merda!"..., trampa que não constava do texto de Brecht, e que distorcia completamente a estética brechtiana, que se rege pela distanciação do personagem em relação ao espetador; ali ele procurou efeito contrário, o da identificação emocional do espetador com a personagem, só porque estava eminente a queda de um governo; outros casos em que os textos são amputados de cenas e "tiradas", como se estivessem a trabalhar com plasticina, muitas vezes para encurtar a duração da peça ou contornar outro tipo de exigências técnicas (ou materiais).
Se é verdade que o Sr. Carvalheiro se viu obrigado (presumo) a fazer esse espetáculo, contrariado, para satisfazer os mínimos exigidos no contrato que envolve os subsídios, seria imperioso que o Sr. Carvalheiro se recusasse a fazer uma mera coreografia fastidiosa que atira o espetador para as coreografias televisivas. O que o Sr. CCarcalheira terá que rever é o seu plano de realizações, de forma a garantir sempre qualidade ao espetador - que neste caso não mereceu um pedido de desculpa.
Termina assim o artigo de CC: «Bom, mas a conversa já foi longe e uma coisa é certa: "O país necessita de espetáculos de qualidade". Eu não tenho outro remédio: tenho de ir aos espetáculos. Veja lá a sorte que a senhora tem: pode não ir. Além de ficar mais barato».
O Sr. Carlos Carvalheiro só pode estar a representar!!!
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