quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mais turistas penitentes

Foto António Freitas

Somos um concelho médio, mas rico em ocorrências insólitas. Não é preciso grande esforço para encher páginas de jornal. O pior é que nem sempre é pelo melhor motivo, como é desejo de quem escreve.
Três de Outubro. Dia de Assembleia Municipal extraordinária, nos Paços do Concelho. Subindo as escadas, um casal de turistas ingleses (que depois vim a saber que estavam instalados no Hotel dos Templários) pergunta-me onde é a Art Gallery, a galeria de arte em linguagem cá da terra. Foi grande a minha surpresa, pois ignorava que houvesse tal coisa nessa nobre casa, onde "o povo é quem mais ordena", ou pelo menos assim se lê nos azulejos. Valeu-me na circunstância uma deputada municipal, que me informou ser no r/c.
Uma vez ali, os turistas bateram com o nariz na porta, apesar de o horário afixado -com o timbre dos "serviços de museologia", uma designação bem pomposa- indicar que devia estar aberta. Quando já se dirigiam para a tesouraria municipal, vendo-os andar assim a modos que em penitência, de Herodes para Pilatos, tive pena e decidi ajudar. Pedi esclarecimentos às funcionárias sobre a estranha situação. Explicaram-me que havia um protocolo com o Politécnico, que usualmente destacava alguém para ali, mas parece que o referido protocolo entretanto findou, pelo que a galeria de arte ultimamente tem estado encerrada.
Transmiti aos visitantes, que lá se foram Corredoura abaixo, com aquele ar tipicamente britânico de quem já viu de tudo e mais alguma coisa. Lamentável! Se é para estar fechada, ao menos suprimam a informação "galeria de arte", nos folhetos distribuídos aos turistas. Não enganem quem nos visita. Coloquem na porta em letras gordas Encerrado, Cerrado, Fermé, Chiuso, Closed.
Pobre terra e pobre gente, que enche a boca com turismo, mas que não vê, não quer ver, não compreende sequer o que é prestar serviço, informando capazmente os visitantes. Cabe até perguntar se não seria melhor dar outras directrizes ao pessoal autárquico afecto ao turismo, ou mesmo entregar esses serviços a uma empresa de outsourcing. Ficava mais barato e os turistas desejariam regressar, ao invés do que acontece agora, pois a pesada herança sociológica dos funcionários públicos do ramo já provocou retornos menos positivos. Com este do casal de ingleses, perdidos na escadaria dos Paços do Concelho.
Cabe porém ao comandante -neste caso o presidente da Câmara- disciplinar as tropas e mandar retirar o horário afixado. No mínimo!

António Freitas

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