Está neste momento a ter lugar na Praça da República, em Tomar, mais um Mercado 1900, uma feliz iniciativa levada a cabo anualmente pelas colectividades concelhias ligadas ao folclore. Consiste numa reconstituição fiel de um mercado dos alvores do século vinte, exactamente no mesmo sítio onde ele tinha então lugar, estando já a ascender à categoria de tradição. As fotos acima são bem elucidativas do esforço desenvolvido, a que os visitantes/consumidores costumam corresponder à altura. Trata-se portanto de algo a manter, a ajudar e a melhorar.
Com o o único intuito de contribuir para a melhoria qualitativa da iniciativa, passa-se a relatar uma experiência de hoje, garantindo que é totalmente verídica. Os nomes e os produtos foram omitidos, por estar em causa apenas o aspecto comportamental.
-Quanto custa isto?
-Olhe, ainda não sei se é à dúzia ou ao quilo.
Virou costas. O potencial cliente aguardou alguns minutos e depois zarpou para outra banca. Quase meia hora mais tarde voltou.
-Então quanto é que custa isto, já sabe?
-Está ai escrito na tabuleta.
-Pese-me três quilos, se faz favor.
-Só mais daqui a um bocado; ainda é cedo.
O cliente afastou-se novamente, indo comentar com um amigo. -O mercado só começa às 11 e meia, disse-lhe este.
Foi novamente à banca.
-Pese-me lá agora os três quilos.
Começou a colocar figos num dos dois pratos de uma antiga balança de agulha ao meio. No outro já tinha posto dois pesos de ferro fundido, um de dois, outro de um quilo.
-Isso não vai caber aí. Se calhar é melhor ir buscar sacos de papel.
-Agora pese só um quilo de cada vez, que o saco não deve aguentar com mais peso.
Assim fez, o cliente pagou, agradeceu e despediu-se.
Mas foi mal atendido. Se fosse alguém menos paciente, ter-se-ia ido embora logo da primeira vez. Deviam ter-lhe dito: -Queira desculpar, mas o mercado só abre a partir das 11,30.
Falta de experiência, falta de treino prévio, falta de ensaio geral, dão origem a falta de qualidade, a falhas e a situações caricatas. Tal como sucedeu com a bandeira nacional içada de pernas para o ar no mastro de honra da Câmara de Lisboa, no dia comemorativo da implantação da República. Também por falta de treino, falta de ensaio geral, falta de qualidade. A velha mania portuguesa do recurso sistemático ao desenrrascanço, que depois logo se vê.
Também por isso, estamos como estamos. E sem indícios de qualquer melhoria nessa área.
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