terça-feira, 8 de junho de 2010

MAIS CASOS DA CRISE

(Clicar sobre a notícia antes de a ler).

Na sua edição de hoje, o Público publicou, na página 25, esta local de Beja. A capital do Baixo Alentejo tem actualmente 31 mil eleitores inscritos. O concelho de Tomar tem 39 mil. Quanto à dívida bruta (ou bruta dívida?) -fornecedores+banca- não há assim grande diferença. Mesmo sem incluir a previsível indemnização à ParcT.
De forma que, embora Beja seja lá longe, se calhar o melhor será irmos pondo as barbas de molho, para o que der e vier. Como todos sabemos, nestas coisas, quanto mais tarde, pior maré. Ou, numa outra versão, igualmente campestre, "Quanto mais o carneiro recuar, maior será a marradela." E pouco ou nada adiantará continuar a negar as evidências. Sempre que se espanta a realidade, esta regressa a galope.

Enquanto os alentejanos procuram fazer frente com alguma coragem, intensificam-se os ventos agrestes na paisagem económica internacional. Leia-se este pequeno resumo da entrevista dada por Nouriel Roubini ao diário gaulês Le Monde (edição de 8 de Junho de 2010, página 16).
"Nouriel Roubini, professor na Universidade de Nova Iorque, é um dos raros economistas que previram a tempestade financeira de 2008. Convidado a participar na Conferência de Zermatt (Suiça) sobre o tema "Humanizar a mundialização", aceitou falar-nos sobre a actual crise do euro.
-Mencionou há pouco tempo o possível "rebentamento" da zona euro. Mantém esse prognóstico?
-Esse risco existe. O problema principal da União monetária, para além dos défices excessivos, é o facto de alguns países terem perdido competitividade. Um dos meios para a restaurar consiste em renunciar ao euro, regressando às moedas nacionais -dracma, peseta ou escudo.
Se assim não procederem esses países serão obrigados pelas circunstâncias a reduzir os salários, o que provocará uma recessão. Optar pela solução alemã, de reestruturar o aparelho produtivo, levará demasiado tempo. Como última possibilidade, a única opção para evitar o "rebentamento" da zona euro e recuperar competitividade, é provocar o mergulho do euro. Chegou a valer 1,50 dólares e já desceu para 1,20. Pode continuar a descer até à paridade com o dólar. O Banco Central Europeu (BCE) deve assumir as suas responsabilidades, adoptando uma política monetária de compreensão.
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............................................................................................................................................................................-Nos Estados-Unidos, o seu país, deram-lhe a alcunha de Dr Fatal (Dr. Doom) por causa do seu pessimismo. Tem alguma boa notícia para nos anunciar?
-Não sou o Dr. Fatal, mas antes o Dr. Realidade. É que não se trata de ser pessimista ou optimista. Apenas de analisar os factos. E quase tudo o que tenho anunciado, infelizmente veio a acontecer.
A boa notícia é que, perante a crise mundial, há uma reacção política. Por outro lado, se o Norte continua em crise, a economia é mais robusta nos países emergentes. Assiste-se ao deslizamento da economia do Oeste para Leste, da Europa e dos Estados-Unidos para a Ásia, do G7 para o G20."
Entrevista de Claire Gatinois. Resumo e "tradaptação" de António Rebelo.

2 comentários:

Anónimo disse...

... e não quer explicar-nos como pode uma câmara deliberar sobre o seu próprio salário?

PF

Anónimo disse...

Roubini, Dr. Fatal ? Vá lá, não lhe chamam "arauto da desgraça", como a outros Economistas...
Optimismo - pessimismo não passam de categorias psicológicas e não se adaptam à situação económica. Como diz o Roubini, há que intrepertar os factos, e, digo eu, as tendências, e ambos são preocupantes.
Não é verdade que Roubini teha sido o único a prever a crise de 2008. A crise começar a ganhar mais força em 2003, vinha de antes, e já havia livros, traduzidos em Portugal, a prever esta crise mundial de forma profunda.
Roubini tem razão quando diz que países como Portugal, Espanha, Grécia, Itália, os PIGS, ou abandonam o Euro ou desvalorizam os salários.
Desde 1955, com a formação da CEE, que se sonhava com uma moeda única, mas sabia-se que tal iria exigir uma reestrutração estrutural profunda e dolorosa.
Em Março de 1988 dei, no Instituto Politécnico de Tomar, uma conferência sobre Gestão Cambial, onde estes problemas foram apresentados.
Em 1990, quando se decidiu avançar para a moeda única europeia, os Economistas reunidos na sua Ordem, alertaram para os perigos que o Euro iria trazer para Portugal, porque o abandono da desvalorização do Escudo iria retirar competitividade à obsoleta economia nacional. Foi o Dr. Siva Lopes quem deu o pontapé de saída, apoiado pelo Dr. Victor Constâncio e por mim. Dois meses depois, em Março de 1990, a ACITOFEBA, em Tomar, realizou um conferência em que os oradores foram o Dr. Silva lopes e eu, onde se voltou a desnvolver aquele problema - em Tomar o assunto foi analisado, só que passou despercebido...
Saír do Euro e voltar ao Escudo seria uma catástrofe, e não resolveria nada, porque quem conhece os empresários portugues sabe que eles se acomodariam e nada fariam para modernizar as suas empresas. Como os economistas têm avisado, e eu já escrevi muito sobre o assunto, de imediato, os salários é que irão ser desvalorizados, como digo noutro post, e como aconteceu durante o regime Salazarista, o que só vai levar à pobreza, porque os empresários apenas se acomodarão.
A reestruturação do nosso País terá de ser profunda e dolorosa, e vai durar muitos anos.
Explosão social ? Não acreditem. Os portugueses nunca serão capazes do que quer que seja.

SÉRGIO MARTINS