ESBANJAR ATÉ HAVER

Detalhou o PÚBLICO, na edição de domingo passado, a situação dramática de algumas autarquias em termos de receitas. Vivendo em geral com a corda na garganta, os municípios não sabem agora como resolver o problema do endividamento crónico, dado que as receitas próprias encolhem cada vez mais, e o governo começou a cortar nas transferências correntes.

De todos os casos referidos pelo citado diário, os mais insólitos foram o de Mondim de Basto e o de Alpiarça. No município nortenho, com um orçamento da ordem de 7 milhões de euros, o presidente tinha mandado atribuir aos funcionários, à conta do orçamento, 89 telemóveis. Agora com a crise, concluiu que afinal 20 são suficientes, pelo que cancelou 69...

Em Alpiarça, feudo da CDU durante mais de vinte anos, conquistado pelo PS no início deste século, o presidente da edilidade, a braços com uma dívida de 22 milhões de euros, exclamou que só o euromilhões é que permitiria resolver a situação económico-financeira do Município. Como política é pelo menos original.

Nesta terra gualdina, com um orçamento um pouco acima dos 61 milhões, dificilmente se virá algum dia a saber quantos telemóveis pagos pela autarquia estão em circulação neste momento, ou qual é exactamente a dívida total do Município.

Isto porque o próprio orçamento apresentado tem mais a ver com a contabilidade criativa, ou artística, do que com a realidade. O que se entende perfeitamente. A pretexto de manter tudo em aberto para os eventuais projectos no quadro do QREN, vai-se aproveitado para escamotear outras coisas. Por exemplo esta: O total dos gastos com pessoal anda à roda dos 10 milhões de euros = a um sexto das despesas previstas = 16,6%. Porém, se tomarmos as coisas por aquilo que elas são na realidade, a autarquia não vai conseguir arrecadar mais de 30 milhões de receitas correntes, mais coisa menos coisa. Sendo assim, as despesas com pessoal passam a 33%, que somados a mais 11 milhões de aquisições de bens e serviços, darão um total superior a 65% das receitas correntes, unicamente para o funcionamento da máquina municipal.

Ou seja, 257 euros anuais por eleitor só para pagar aos funcionários + 290 euros anuais por eleitor para comprar bens e serviços = 547 euros anuais por eleitor = 110 contos = 1 euro e meio por dia e por eleitor = 300 escudos diários. Só não é caro porque os funcionários são muito trabalhadores e simpáticos, pelo que estamos muito bem servidos. Tudo o que é bom custa dinheiro! Digo eu!