quinta-feira, 3 de junho de 2010

A OBESIDADE E A CRISE

Paulatinamente, a obesidade vai-se transformando na pandemia do mundo actual, sobretudo na Europa do Sul e na América do Norte. No nosso país, basta observar as ruas das grandes cidades, as escolas, os estádios, as salas de espectáculos. Por todo o lado, são cada vez mais numerosos os cidadãos de muito larga circunferência abdominal
Quando, ocasionalmente, se fala com desses obesos claramente patológicos, as conclusões são quase sempre as mesmas -"Eu por acaso até nem abuso; como pouco e tenho cuidado com aquilo que como. E faço exercício, não tanto como desejaria, mas vou fazendo. Devo ter qualquer problema hormonal, que me faz engordar em demasia, mesmo sem comer." Apesar desta música de circunstância, sabemos bem que a obesidade resulta sempre de um excesso de nutrientes em relação às necessidades do organismo. Como sabemos também que a continuada ingestão de carnes, molhos, gorduras, fritos e açúcares, tudo associado à falta de exercício, está na origem da maior parte das maleitas que acabam com o martírio da obesidade, levando os pacientes para os cemitérios.
Acontece que, embora menos evidente, a obesidade pandémica também vai alastrando na política. Apenas um exemplo, a nível nacional: Há na A.R. 230 deputados, para cerca de 10 milhões de habitantes. Um por cada grupo de 43.478 eleitores. Agora imaginem que a França, com os seus 62 milhões de habitantes, tinha proporcionalmente o mesmo número de eleitos na Assembleia Nacional. Teríamos um parlamento francês com 1450 parlamentares. Uma enormidade, não era? Por isso se contentam com 570, ou seja um deputado para 110.500 habitantes... O que daria um parlamento português com mais ou menos 90 deputados. Não seriam suficientes?
A nível local então, o abismo ainda é maior: O Município de Tomar, por exemplo, tem um executivo composto por sete eleitos, cinco dos quais a tempo inteiro. Um vereador por cada 5.572 eleitores; um tempo inteiro para cada 7800 eleitores. Agora faça o leitor o mesmo cálculo para o Município de Paris, com os seus 5 milhões e meio de habitantes... Isto para já não falar no caso inglês ou norte-americano, cujo modelo social e político é regido por outros princípios, diferentes dos nossos.
Excessivamente adiposa em termos de eleitos, a autarquia tomarense, tal como as suas congéneres em maior ou menor grau, consome demasiado para aquilo que na realidade produz. Com os seus quase 600 funcionários, um por cada 65 eleitores, está cada vez mais obesa, mas nem por isso consegue cumprir cabalmente as funções básicas que lhe estão confiadas, forçando a crescente contratação externa de bens e serviços (11 milhões 317 mil euros, previstos no orçamento deste ano). Daqui resultará inevitavemente, mais cedo ou mais tarde, o colapso provocado por uma doença originada pela obesidade: diabetes, cancro, AVC, enfarte... A não ser que os eleitos tenham a coragem de iniciar uma severa cura de emagrecimento, a começar por eles próprios, agora que a austeridade veio para ficar e vai ser cada vez mais drástica.
Ao admitir implicitamente, há uns dias, que a autarquia afinal tem cada vez mais dificuldades orçamentais, ao contrário do que ele próprio afirmara anteriormente, Corvêlo de Sousa teria agido bem melhor se tivesse aproveitado a ocasião para denunciar a manifesta obesidade da "pacaça tomarense", naturalmente provocada pelo excesso de consumo. Ficaria assim em muito melhor posição para enfrenter os dolorosos tempos que aí vêm.
Dirão os optimistas crónicos que a obesidade autárquica também tem as suas vantagens. Pois tem sim senhor! Dá emprego a muito gente. Conjuntamente com o Estado, são as únicas grandes empresas do concelho em termos de emprego. Como em todo o Alentejo... O pior é que, tal como acontece com os medicamentos, o facto de a autarquia ser albergue para tanta gente, também tem os seus inconvenientes, os tais efeitos secundários. Que são cada vez mais numerosos e mais óbvios. Provocam a necessidade da maiores recursos, o que implica taxas e licenças mais elevadas; complicam desnecessariamente o circuito burocrático; tornam cada vez mais lenta a máquina administrativa, são cada vez mais repulsivos para os potenciais investidores.
Noutros tempos, tudo isto passaria despercebido. Agora, com a comunicação electrónica, as boas estradas e os automóveis, os cidadãos andam pela região e até fora dela, aproveitando para comparar os preços, a qualidade, a limpeza urbana, a segurança, o tipo de atendimento, as obras, o que dizem as pessoas... depressa concluindo que nos concelhos limítrofes se vive melhor e com menos dinheiro, uma vez que os comerciantes tomarenses, tal como todos os seus colegas de todo o país, têm o hábito lamentável de repercutir nos preços ao consumidor os custos integrais antes assumidos. E como as alcavalas tomarenses são sempre bastante mais altas, sobretudo por causa da aludida obesidade...
Acresce que, na área da construção civil, dado que os senhores empresários do ramo são praticamente todos do tipo "self made man", "tarimbeiros", para usar um vocábulo nosso, não estão nada habituados a calcular preços de custo e subsequentes percentagens de lucro. Limitam-se, em geral, a perguntar ao contabilista avençado em quanto é que ficou o prédio, uma vez concluído. Depois fazem contas de papel e lápis: dividem o custo total pelo total de apartamentos, com uma ou outra correcção em função do tamanho de cada um, e pronto. Obtido o preço de custo de cada unidade a comercializar, no tempo das vacas gordas multiplicavam por dois e tínhamos o preço final, mais desconto, menos desconto. Agora, com as tais comparações e as consequências da obesidade ambiente, tudo incluído no preço praticado, a construção civil praticamente parou em Tomar. Até um prédio pertencente a uma sociedade controlada por um vereador a tempo inteiro, está há meses a aguardar acabamentos. E com compradores enrascados, porque entretanto venderam os apartamentos onde residiam e agora vêem-se forçados a aguardar melhores dias em casa de familiares. É a crise. Que continuará a agravar-se enquanto os senhores autarcas da circunstancial maioria não tiverem a coragem necessária para desencadear uma rigorosa política de emagrecimento autárquico.
Nos primeiros mandatos após o 25 de Abril, nem o presidente tinha secretária pessoal, quanto mais agora assessores. Hoje em dia, é o que se sabe. E que todos nós andamos a pagar, para benefício de uns poucos. Por isso há cada vez mais cidadãos a votar com os pés. Até quando?

2 comentários:

Anónimo disse...

Dos jornais.
Um militar reformado da Marinha pediu, como mandam as regras, autorização superior para se candidatar a uma Câmara Municipal. Autorização concedida, foi eleito Vereador. A Marinha cortou-lhe a pensão de reforma, por não permitir acumulações.
Por que é que os militares, pelo menos a Mrinha, seguem tal política e outros poderes não ?

Anónimo disse...

Faltou dizer que este Marinheiro é Vereador sem tempo, ou seja, só recebe senhas de presença nas reuniões da Câmara.