sexta-feira, 4 de junho de 2010

A MÚSICA DO COSTUME...

Seria mentiroso e hipócrita se escrevesse que o comentário supra me deixou indiferente. É claro que gostei. É bajulador? Será. Mas fez-me bem à alma. Como toda a gente, fico contente ao constatar que há quem aprecie o meu trabalho em prol da comunidade tomarense.Muito obrigado ao autor...e adiante que já se está a fazer tarde.

Giro, catita, jeitoso, bonito, espectacular, sensacional, e por aí adiante, são adjectivos (ou modificadores, para dar um ar moderno) tipo armazém. O seu campo semântico é tão amplo que cada um arruma lá o que quer. Quanto à opinião segundo a qual o melhor é aguardar a conclusão da obra, trata-se da costumeira música laranja, para tentar ganhar tempo e tornar as asneiras irreversíveis.
Neste caso do estranho paredão, o problema reside em ambas as faces, e não apenas na que está virada a sul. Conforme se vê nesta ampliação do painel que foi colocado junto ao edifício dos cubos, do lado virado para a rotunda, o terreno ficará em declive, o que atenuará a monstruosidade. O mesmo acontecerá com a pequena pirâmide que ainda lá falta, mas se vê muito bem no desenho. E do lado norte, afunilado e virado para a moagem? Sempre fica para mijatório masculino, ou para mulheres corajosas e desinibidas?
O que se vê do lado esquerdo do desenho não é nada tranquilizador. Aquele rectángulo preto só pode ser uma de duas coisas -ou uma abertura no piso térreo da moagem, ou um portão de quinta. Como não é crível que ousem esventrar a moagem, (mas nunca se sabe, que nesta terra tudo é possível, no domínio do absurdo!) vamos ter certamente um portão de quinta. Comentários para quê? São os arquitectos e os autarcas que temos. Parafraseando Beresford, a propósito da tropa portuguesa, "...é com eles que vamos ter de fazer a guerra, porque não há outros." Pelo menos até novas eleições autárquicas!

Aquando da construção daquela enorme cagada que é o paredão do Flecheiro, fui das poucas vozes a levantar-se contra semelhante enormidade. Paguei as custas. Invejoso, mau feitio, ressabiado, má língua, eterno descontente, nunca concorda com nada, fora as ofensas à minha mãe e à fidelidade da minha mulher. Quando viram que mesmo assim as críticas fundamentadas e de boa-fé continuavam e tinham cada vez mais acolhimento junto do eleitorado, sacaram da costumeira música dos conselheiros de comunicação e imagem -"Vamos esperar que tudo esteja concluído. Vão ver que vai ficar muitio bonito e espectacular. Com esplanadas, bares, muita animação, vida nocturna..."
As obras já acabaram há um ano. O resultado é esta incrível larada. Cidadãos sem acesso automóvel aos seus pertences, becos se jeito nenhum, bancadas fantasmagóricas...e um belo mijatório lá ao fundo, no extremo norte.
Bares? Esplanadas? Animação? Beleza? Onde? Quando? Excepto o bar Duplex, que já lá estava antes e a taberna Treinador, o resto é um lúgubre deserto, tanto diurno como nocturno, com a maior parte das construções desocupadas e/ou em ruínas.

Aqui temos o resultado de mais uma ideia luminosa do autarca da época, que se lembrou de mandar abrir uma travessa, que vai morrer na tal fantasmagórica e perigosa bancada. Qual a sua serventia? Concluída a empreitada, nem sequer a promessa de edificar um muro de protecção foi cumprida. Ficaram os ferros e este triste panorama, digno de um daqueles filmes neo-realistas italianos dos anos 5o do século passado. Só falta incluí-lo nos circuitos turísticos de visita à cidade. Como testemunho da miséria local. Tanto física como sobretudo intelectual.

Entretanto, na margem oposta, a vida continua. Três dias por semana é assim. Um autêntico mercado da idade-média. Sem instalações sanitárias, sem organização, sem conforto, sem ficalização...e agora sem taxas, pelas razões conhecidas. E a ASAE lá vai simulando que não vê nem ouve nada.
Tomar tem sido assim nos últimos anos. De um lado esbanjam-se milhões, em obras de prioridade e até de utilidade duvidosa. Do outro, onde pulsa a economia local, cada qual que se desenrasque. Nem sequer tinham previsto uma passagem para os peões, enquanto que aquela entre a avenida e o mercado, destinada ao trânsito rodoviário, não passa de um reles remedeio. O estacionamento junto à Várzea Pequena é outro nado-morto. Tanto dinheiro gasto, para lugares de estacionamento ocupados gratuitamente durante semanas a fio. E os autocarros de turismo sem terem onde estacionar para que os turistas possam visitar a cidade antiga e os seus jardins... O que não fazia falta nem era prioritário, fez-se. O que fazia e faz realmente falta, continua por fazer.
Nestas condições, não contem comigo para dançar ao som dessa música do tipo "vamos esperar pela conclusão..." Mas cada qual fará como entender! Desde que depois não se venham queixar que os enganaram outra vez!

António Rebelo

2 comentários:

Anónimo disse...

Só falta mesmo o argumento utilizado quando foi construído o penico xibernético - antes estava melhor, não estava?!

É geste desta que vai pontificando em Tomar, brutos encartados a falar grosso e com arrogância.

Alguns já sacaram o deles (à nossa custa, claro!) e passaram-se de fininho, escondidos na sombra.

Deixaram uma rica obra!!!!!

Felizmente que um deles já não factura à conta (directa) da Câmara.

Mas, dos outros dois, um voltou a arquitectar como dirigente máximo e o outro aí vai aparecer em breve para engenheirar. Ambos foram EXPOR tados após um empréstimo!

Devem ser de grande calibre para regressarem tão breve à base!!!!!!!!

É óbvio que, sacudida toda a água do capote, vão voltar ao local do(s) crime(s) e gerir a crise que ajudaram a construir.

E Tomar lá vai aguentando tudo isto e muito mais!

Anónimo disse...

Por pouco tempo.
O arquitecturando já levou cartão amarelo e está sob investigação em razão directa do edifício da rua da fabrica.
O engenhocas que estará de volta, espera a promoção, mas já levou cartão vermelho e com o tempo que passará em tribunal por via dos processos polis, breve mete papeis para reforma.
Não vos preocupais, que tudo está previsto.