sábado, 23 de outubro de 2010

A NOSSA RESPOSTA A "ALGUMAS PERGUNTAS"

Foi um amável leitor-comentador deste blogue que recomendou a leitura da longa peça supra. Lida e relida, confesso não ter ficado nada encantado. Tratando-se de uma jornalista profissional experiente, julgo que o texto-resumo da semana podia e devia ser bem mais percutante. Ao invés, está-se, quer-me parecer, perante algo muito semelhante à recente sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Tomar. E bem na linha do que ocorre em geral neste país e nesta cidade: Há imensos atiradores e todos se fartam de disparar mas, de forma voluntária, nem um só acerta na "mouche". Nem lá perto. Faltará ainda identificar cabalmente o alvo? Ou será mesmo falta de pontaria? 
Neste caso, anda-se nitidamente à roda do pote, dissertando sobre "os mercados", "este orçamento de Estado" e o pretensamente enigmático sorriso de Mira Amaral. 
Quanto às perguntas subsequentes, bastava ter a coragem de nomear o âmago do problema, para elas fluirem naturalmente, como meras evidências. E o âmago do problema é este -Nem o governo, nem os cidadãos, conseguem viver sem recorrer ao crédito, sendo que esse crédito tem de vir do exterior, devido às carências internas em matéria de massa monetária em circulação. Dito isto, Mira Amaral sorria porque, sendo presidente de um banco, devia pensar para com os seus botões -"Deixa-os pousar que a gente logo conversa". Sobre aos mercados, sempre se estiveram e continuarão a estar-se nas tintas para tudo o que possamos pensar ou dizer, enquanto não pudermos prescindir da sua boa vontade. Por isso podem continuar a impôr os seus ditames, sem estados de alma. Sempre na linha de que "O nosso negócio são números."
Além da dita falta de acutilância, a análise política da semana começa como uma citação, quanto a mim algo obtusa, do líder da CGTP Manuel Carvalho da Silva. Segundo a jornalista, o dirigente sindical "propôs uma medida alternativa ao actual pacote de cortes na despesa com serviços e prestações sociais, nos salários dos funcionários públicos e aumento de IVA, incluídos no Orçamento de Estado para 2011: que os accionistas de um grupo específico de empresas aceitassem entregar ao Estado os lucros que recebem durante apenas seis meses. ... ...só esta medida serviria para recolher cerca de 85% do valor que o governo se propõe arrecadar com as medidas incluídas no OE para 2011."
Uma pessoa lê, relê, volta a ler, e tem dificuldade em acreditar. Mas então Carvalho da Silva, com uma longa experiência de sindicalista e de dirigente sindical, doutor por uma prestigiada instituição, ainda ousa lançar uma hipótese digna dos anos 50 do século passado? E essa hipótese abstrusa é depois citada na imprensa de referência, como uma coisa fora de série? Este pobre país está mesmo pelas rua da amargura...
No fim de contas, os tais accionistas entregariam ao Estado 50% do seu rendimento, em virtude de quê? Não é verdade que todos somos iguais perante a lei?  Que nos guiamos pelo princípio "um homem, um voto"? Não é verdade que usamos as mesmas estradas, as mesmas ruas, os mesmos hospitais, os mesmos recintos desportivos, os mesmos parques e as mesmas praias? Então porque raio há uns que são obrigados a entregar 20, 30, 40 ou 50% dos seus rendimentos ao Estado, e outros que nada pagam?! Excluindo, obviamente, as crianças, os estudantes, os velhos, os doentes, os incapazes e os desempregado involuntários,  é evidente que não existe qualquer justificação plausível. Tal como seria injusto confiscar metade dos dividendos aos accionistas, que já pagaram antecipadamente os impostos devidos, recebendo apenas o remanescente.
Nestas condições, é meu entendimento que a estranha sugestão de Carvalho da Silva tem mais a ver com demagogia, inveja, pseudo luta de classes, do que com uma honesta contribuição para a resolução da nossa crónica crise. A qual, infelizmente, só poderá ser ultrapassada quando decidirmos viver apenas e só com aquilo que temos, por pouco que seja. Há séculos que o povo murmura algo parecido com "Quem cabritos vende, e cabras não tem; certamente lixa alguém."
Tudo isto que acabo de alinhar é puro reaccionarismo? Será. E a crise? E a curiosa hipótese avançada por Carvalho da Silva?  Quem viria a beneficiar com a repentina fuga de todos os capitais estrangeiros investidos entre nós, provocada pelo tal confisco de 50%? Os trabalhadores? Ou quem persiste em manipulá-los com ideias demagógicas?

8 comentários:

Anónimo disse...

Por que razão sorria Mira Amaral ?
Pela inocência de Carvalho da Silva.
Além de os senhores do mundo serem os accionistas das grandes empresas, que põem e dispõem, eles nunca iriam abrir mão dos lucros, por vários motivos.
Porque as empresas têm de prestar contas aos seus accionistas, e estes querem é dividendos.
Porque as empresas precisam de capital para investir. Uma verdade maior em tempos de dificuldades de crédito bancário, como os que vivemos. Um bom exemplo está nas Mendes Godinho de Tomar. Enquanto a empresa não distribuiu dividendos e reinvestiu,sobrevivieu. Quando passou a distribuir dividendos começou a sucumbir.As perguntas que a jornalista coloca são as habituais. Os mercados abrangem toda a actividade humana, até a venda de humanos. Como se sabe o tráfico humano é dos maiores negócios do mundo.
Em 1996 o vice-presidente de uma grande empresa multinaional europeia, daquelas que eram consideradas modelo social, em entrevista a um jornal inglês declarou ser necessário acabar com a moral católica na empresa - uma empresa tradicionalmente gerida por judeus ou maçons. Havia que acabar com os benefícios dos trabalhadores como aconteceu.
A jornalista pergunta por que é que um modelo tão social como o europeu está em desagregação. Porque deixou de existir o fantasma do comunismo, o capitalismo teve de mostrar a sua verdadeira face. Face que em globalização é terrível.
Vem por aí uma grande reestrutração na Europa, e no Mundo. Portgal vai sofrer imenso com ela, e será um dos perdedores. Quando a Srª. Merkel diz que o multiculturalismo falhou na Alemanha, e exige, com a França, equílibrios orçamentais, ela está também a avisar a Europa de que o multiculturalismo vai acabar no Continente, que será dominado pelo Pensamento Único.
Os problemas portugueses arrastam-se à séculos. Agora é a vez de colocar a casa em ordem, e quem o manda é o capitalismo mundial na voz de uma sua capataz, Merkel, protestante, logo motivada ao sucesso.
Por que é que eu tenho dado tanta atenção à reorganização dos Registos de Conservatória e Notariado ? Porque tal reorganização está ligada à expansão do capitalismo mundial imobiliário, especulativo.
Podem crer, Tomar vai ser extremamente prejudicada com toda a reorganização mundial e nacional. Depois falarei mais sobre a reorganização mundial.
Já aqui escrevi que o Marechal vietnamita Giap (o que derrotou franceses e americanos) foi o primeiro a afirmar que os economistas são os generais de amanhã. Porque é que a esquadra naval americana tem andado a fazer manobras em conjunto com a do Vietname ?
Por que ´que Israel tem andado a fazer manobras nos Balcãs (com romenos, gregos, etc.)
Não foi por acaso que eu fiz o meu Mestrado em Estratégia, esta como Arte da Guerra e não a conversa da treta que sobre ela por aí anda. Por que é que tive de assinar um documento a declarar que a não podia publicar sem autorização do Congresso dos EUA ?
O Mundo nunca foi para inocentes. Não desanimem que isto vai para pior.
SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Prefiro o artigo da Única, da passada semana, de Clara Ferreira Alves..

Anónimo disse...

Este blog está cada vez melhor. Os posts, talvez demasiado longos, e alguns comentários informam sobre coisas importantes, que não vimos tratadas na comunicação social, local e nacional. Há aqui gente muito bem preparada, que argumenta e não insulta.
Continuem, estão a prestar um serviço público.

Anónimo disse...

E eu o do Comendador Marques da Correia:é que se percebe o que ele escreve, talvez porque só escreva do que realmente percebe.Não vás sapateiro para lá do chinelo...

Anónimo disse...

Como seria muito interessante ver o Prof. Rebelo na Assembleia Municipal, com o tempo de antena do CDS, ou do BE, ou da CDU, ou até dos Independente ou mesmo do PS a dissertar e a fazer vingar as suas assertivas teses.

Uma certeza há - se o Prof. Rebelo estivesse na Assembleia, o órgão teria uma actividade profícua.

Mas, como não está, o órgão é uma desgraça, ninguém se aproveita, não fazem nada de útil e gasta-se imenso dinheiro.

Realmente, mais valia fechar!

Não era preciso eleições, nem senhas de presença, NADA!

Tomar ficava mais rico!!!!!!

Anónimo disse...

Eu também apreciei especialmente a revista Única de há duas semanas. A começar pela capa. Lembrei-me logo do ferreira das farturas...

Anónimo disse...

"
O Mundo nunca foi para inocentes. Não desanimem que isto vai para pior.
"

Meu caro Sérgio Martins,
Retive e sublinhei.
Mas agora fico à espera que fale dos conformados que abundam na cidade de Tomar, aqueles que vivem à custa do eràrio público e que irão ver o seu nível de vida reduzido a parti de 1 de Janeiro do próximo ano. Personagens que apenas desejam levar a água ao seu moinho, sobreviver de forma disfarçada nesta selva a que alguns chamam "civilização" mesmo que não sejam tão ingénuos quanto possam aparentar.

A.A.

Anónimo disse...

Meu caro A.A.
No mundo de hoje não pode haver conformados.
Diziam que no Brasil também só havia conformados e veja a revolução que está a ocorrer naquele país.
A grande revista brasileira Veja, há alguns meses atrás, destacava na capa que o Brasil dividia-se em dois: o do terceiro mundo e do primeiro mundo.
O do terceiro mundo é o dos conformados: subsídios, samba e carnaval.
O do primeiro mundo:a melhor tecnologia do mundo em extração de petróleo no "of shore", aeronáutica (até investem em Évora, no terceiro mundo), e outros sectores.
Em Portugal terá de acontecer o mesmo. Terá de haver uma descolagem entre os que aspiram ao desenvolvimento e os que se conformam com a decadência. Tomar é um hino à decadência.
Tem razão, os conformados que abundam em Tomar e no País não são inocentes. Sugiro que se analise aqueles que se servem da Festa dos Tabuleiros para só trabalharem de três em três anos, vivendo o resto do tempo de subsídios. E não há protecção de autarcas ?
Como já aqui escrevi, e o António Rebelo destaca no post de hoje de manhã, Tomar vive dos funcionários públicos e dos subsídios, o que vai pagar caro. Mas isso interessa aos tomarenses ? Eles sabem onde fica Tomar ?
SÉRGIO MARTINS