Três eminentes personalidades nacionais na área económica pronunciaram-se hoje na imprensa diária sobre o período difícil que o país atravessa. Damos a seguir conta dos pontos que nos pareceram mais importantes, aproveitando para os relacionar com o descalabro tomarense. Como sempre, as partes entre aspas são do autor citado, as outras são de Tomar a dianteira.
No diário I, António Câmara, professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa, fundador e CEO da YDreams, uma sociedade portuguesa de informática, líder mundial em realidade aumentada, relata a sua experiência numa entrevista. Afirma designadamente que o problema dos portugueses em geral é na área da gestão e das vendas. São demasiado sofisticados. Têm muita dificuldade para rentabilizar qualquer produto. Exactamente como tem vindo a acontecer em Tomar, com a Festa dos Tabuleiros e etc., acrescentamos nós. O conhecido catedrático e empresário termina dizendo que o problema não é a matemática, pelo contrário. "A maior parte das pessoas da YDreams é dez vezes melhor a matemática que qualquer americano que trabalhe na Google. Não há comparação. As pessoas cá não têm padrões, é inacreditável. Os exames de matemática em Portugal são mais difíceis que no MIT. Há talento em Portugal para fazer isso, a questão é transformar isto num negócio gigantesco." A tal dificuldade para produzir riqueza...como ocorre em Tomar. Sabe-se esbanjar, mas produzir riqueza...
A propósito do lançamento do seu novo livro "Nó cego", naturalmente sobre a crise, o economista e conselheiro de estado Vítor Bento deu uma entrevista ao PÚBLICO. Nela refere que "A indústria exporta o produto, enquanto o turismo concorre com outros destinos, mas aqui o efeito económico é o mesmo e acho que temos algumas potencialidades, criando até um cluster alargado do turismo com base na saúde. Temos um bom clima e o custo de vida é mais barato do que no centro da Europa, podemos exportar serviços e atrair estrangeiros para estas actividades. A terceira idade é outra. Podemos ser a Flórida do Norte da Europa. Podemos replicar em parte o que a Flórida fez para os Estados Unidos. que é atrair os reformados do resto do país para disfrutar do bom clima, acabando por ser uma forma de turismo mais permanente."
Na nossa opinião, a não confundir com o fantasioso projecto que se diz existir para os Pegões, e que englobaria, hotelaria, habitação e campo de golf. Não será apenas mais uma balela, como o famoso parque temático, o hotel de charme no ex-convento de Santa Iria, para a compra do qual até já havia candidatos e tudo, ou a anunciada unidade hoteleira, também com golfe, da Quinta da Granja?
Em conclusão, Vítor Bento acha que os nossos custos de produção estão cerca de 20% acima do nível de competitividade, o que constitui um verdadeiro nó cego. "Para sairmos dele, neste momento, o único caminho é baixar os salários. E é o que deveríamos evitar a todo o custo. Há ano e meio, escrevi sobre a possibilidade de redução de salários. Os que então me criticaram vão ter agora os seus salários reduzidos, porque praticamente todos trabalham no sector público, mas a suprema ironia não é essa. É que vão baixar, não para aumentar a competitividade da economia, mas apenas para pagar a fantasia de que o Estado a gastar muito é que faz a economia crescer." Aviso aos amadores, que exercem ali para os lados da Praça da República.
Em paralelo com António Câmara e Vítor Bento, o professor da Universidade Católica João César das Neves, cujo email já é um programa completo (naohaalmoçosgratis@fcee.ucp.pt) é peremptório, no DN de hoje: "A despesa pública não é uma montanha que precise de terraplanagem a golpes de IVA. É um vulcão que explode tanto mais, quanto mais impostos lhe atirarem para cima. Não vale a pena cortar-lhe um pedaço, como este orçamento de 2011 pretende. O mal não está no nível, mas na tendência imparável. Este é o monstro que fez fugir Guterres e Barroso, e que Sócrates jurou vencer em 2005. ... ... ...
O cancro a operar são os milhões em direitos, regalias, institutos, subsídios e salários, todos justificados, todos blindados na lei e que o País não pode pagar. Mesmo aparados aqui e ali, ressurgem sempre. ... ...
O problema é político. Será que quem lidar mesmo com a situação se aguenta no poder? Não é por acaso que, dos países em dificuldades, Portugal foi o último a reagir. Os mercados percebem isto perfeitamente. O Orçamento de 2011 não é a prova de que o governo lida com a situação.São meras juras de drogado, que os credores, que não são parvos, conhecem à distância."
À atenção da actual e circunstancial maioria tomarense, que julga gerir a autarquia, cuja dívida cresce ao ritmo de mais de um milhão de euros mensais, de acordo com dados não auditados, fornecidos pelos próprios serviços municipais. Chegará inevitavelmente o dia em que os eleitores tomarenses também passarão a não ser parvos. E o vereador Carrão sempre poderá então passar a desempenhar cabalmente um lugar de acompanhante/animador de grupos de turistas séniores da Europa do Norte, como propõe Vítor Bento.
8 comentários:
O pais endoideceu! O sr. Relvas, a propósito do OE-2011, disse ontem que "não foi para isto que se fez o 25 de Abril"!
Caro Rebelo:
Apesar de ter descoberto este blog há pouco tempo, tenho de reconhecer que é bastante interessante e, acima de tudo, pertinente nas questões que coloca. Tem posts bem escritos e também é, pelo menos da minha parte, um dos poucos sítios onde parece de verdade que há alguma discussão a sério sobre os problemas do nosso concelho.
Infelizmente por razões profissionais não resido em Tomar, mas nem por isso deixo de tentar acompanhar aquilo que se passa na minha Terra, e realmente o concelho tem vindo a perder fulgor social e económico claro nas últimas 3 décadas sem que existam estratégias claras de futuro e, a existirem, sem concretização prática.
Continue com o seu trabalho de reflexão e análise sobre o estado de Tomar que, enquanto o fizer, terá aqui um leitor atento e assíduo.
Cumprimentos de um Pato Bravo!
Anónimo da 01:07. Mais um "que não reside em Tomar, por razões profissionais". É assim, Tomar terra de reformados e ainda alguma função pública. Em breve terra de reformados. Para isso se conduziram os tomarenses e seus lideres, escolhiodos democraticamente. Quanto ao turismo residencial, isso não é para o interior e ainda menos, o interior sem acessos. Como Tomar.
Pedro Miguel
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O cancro a operar são os milhões em direitos, regalias, institutos, subsídios e salários, todos justificados, todos blindados na lei e que o País não pode pagar. Mesmo aparados aqui e ali, ressurgem sempre. ... ...
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O último que feche a porta e desligue a luz!
O turismo sénior não é para o interior nem para terras muito frias e húmidas no inverno e muito quentes no verão, como Tomar. Olhem para a instituição no Castelo de Bode...
Olhem para a instituição no Castelo de Bode...
Não está a correr bem?... ouvi dizer que aquilo é uma mina para os proprietários...
PM
Ouviu dizer que é uma mina para os proprietários ? Uma mina da ganhos ou de custos ?
Mas, em Tomar não admira. Eu já vi na televisão uma proprietária de uma pastelaria dizer que "Tomar é uma terra rica".
Há dezenas de anos que o concelho está em crise, mas não, é falso, está tudo ótimo.
Não se fique pelo que ouve dizer, confirme.
De facto a inveja nesta terra é rainha...
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