quarta-feira, 20 de abril de 2011

VENDE-SE O COLISEU DE ROMA PARA EVITAR A SUA RUÍNA - 3

"Trata-se de um problema de falta de visão política, de miopia. "Qualquer estado sério actuaria de maneira oposta. Sabendo que a sua vantagem competitiva é o turismo (12% do PIB), é aí que convém colocar um bom ministro e os quadros mais competentes, para valorizar o sector, para que cresça. Pois não senhor! Colocaram como ministra uma jovem que não tem qualquer mérito ou experiência na sector, Michela Vittoria Brambilla, amiga pessoal do primeiro-ministro. Resultado: Até a China já ultrapassou Itália como destino preferido pelos turistas mundiais!"
"Se tens conhecimento, porque assim o apontam estudos recentes, que cada euro investido em cultura rende mais do que na indústria manufactureira, então como há uma crise, aumentas os investimentos nos museus, nos espectáculos, na conservação e restauro de monumentos e sítios arqueológicos." Pela lógica seria assim. Em Itália, porém, os dados apontam em sentido oposto. Os financiamentos para a cultura têm sido reduzidos desde que Berlusconi é primeiro-ministro, tendo caído 40% entre 2001 e 2011. Passaram de 2.386 a 1.429 milhões de euros, de acordo com o Orçamento do Estado. Tendo em conta igualmente a inflação, a redução é ainda mais ruinosa, atingindo os 50,5%."
"Para dar um abanão na crise que sufoca a economia estado-unidense -recorda Stella- Barack Obama reuniu-se com os dirigentes de Twitter e Facebook. Perante o mesmo problema, em Itália Berlusconi prepara um Plano Vivenda, para que seja mais fácil espalhar betão, construindo alojamento. Uma receita que foi boa e útil nos idos de 60, mas agora é velha e totalmente inadequada."
"Chegam de todo o Belo país exemplos do descuido generalizado na área do património transalpino. Em Bolonha, por exemplo, cidade do centro norte, burguesa e acomodada, destino favorito dos alunos Erasmus, com a universidade mais antiga do Mundo e uma vida cultural  tão original quanto variada, a Pinacoteca Nacional vê-se forçada a encerrar salas de forma programada, por falta de pessoal. Em Palermo sucede o mesmo no Palácio Abatellis, onde só há guias disponíveis em japonês e o maravilhoso retrato da Anunciada de Messina só pode ser visitado durante a manhã.
No portal avermelhado de Bolonha, a placa indica "Pinacoteca Nacional. Aberta de terça a domingo, das 9 às 19 horas". Não especifica que, na verdade, os visitantes não vão poder entrar nas 30 salas do antigo convento que alberga obras-primas da Idade-média, do Renascimento e do Barroco italiano. Conviria por isso acrescentar que algumas destas maravilhas vão estar fora do alcance dos visitantes, devido aos corte orçamentais.
"De hora e meia em hora e meia encerramos uma ala do museu, para podermos abrir outra. Fazemos assim porque há falta de vigilantes e não temos o dom da ubiquidade", diz-nos Massimo Trezza, que desde 1987 toma conta do esplêndido políptico dourado de Giotto, dos óleos de Rafael, ou das pinceladas  barrocas dos Carracci, mestres da escola bolonhesa. Foi trabalhador precário, mas em 1994 conseguiu efectivar por concurso público. Agora não está nada tranquilo. "As coisas vão de mal a pior. Até há poucos meses, os electricistas controlavam a iluminação quatro vezes por semana. Agora reduziu-se o contrato e só o fazem uma vez semanalmente. Quanto aos do ar condicionado, só os chamamos em caso de avaria grave." São dez e meia e há que mudar de ala: "Os senhores visitantes fazem o favor de sair, que temos de ir abrir a parte barroca."
Maria do Rosário San Giovanni é funcionária efectiva desde há 11 anos e coloca a cinta corrediça que impede o acesso dos visitantes à sala onde está exposta a Santa Cecília, de Rafael, no seu êxtase melómano. Os turistas, surpreendidos, encaminham-se para outras salas do Guido Reni. "Se algum de nós adoece é um problema. E para conseguir férias, só por sorteio", comenta a empregada. (Continua)

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