sábado, 23 de abril de 2011

A CONFRANGEDORA DESGRAÇA DO COSTUME...



Estes dois excertos foram copiados do suplemento FUGAS do PÚBLICO de hoje. Neles podemos constatar como as coisas vão de mal a pior neste país. Em dois sectores diferentes - na imprensa de referência e nas autarquias. . Comecemos por aquela. Sendo correcto e extremamente útil escrever sobre a "Rota das Judiarias", falta-lhe o neste caso modificador (ou adjectivo) essencial: portuguesas. Porque é disso que se trata afinal. E também há judiarias em Espanha, por sinal até mais importantes e monumentais do que as nossas. Vem a seguir o estranho título "À procura de Sefarad em Portugal", logo seguido de "rota sefarad".
Tudo isto denota iliteracia, incultura, impreparação, incompetência. Bem sabem os leitores o que é "Sefarad"! 
E o o texto, de resto bem escrito, também não explica. O leitor sabe do que trata? Não, pois não? Então tome nota que Sefarad, para judeus = Al Andalus, para maometanos. Razão porque todos os judeus peninsulares, que no reinado de D. Manuel foram forçados a converter-se ao catolicismo ou abandonar Portugal -muitos já antes expulsos de Espanha- espalhando-se até Antuérpia, Amsterdam, Berlim, Bordéus ou Esmirna, são ainda hoje designados por sefarditas ou sefardim, mesmo em Israel, que partilham com os judeus do oriente europeu, os asquenazes ou asquenazim.. Por conseguinte, caso não fôssemos basicamente um país de incompetentes, inchados pela basófia, a designação adequada para a citada rota seria "Rota Sefardita Portuguesa". Porque tivemos muitos e infelizes compatriotas sefardim, sem todavia jamais termos integrado o Al Andalus, a Andaluzia. Temos o Al Garb e já não é mau.
Passando às autarquias e respectivos dirigentes, o texto do jornalista António Marujo, embora em linguagem algo perifrástica, não é mesmo nada meigo para Corvêlo de Sousa e seguidores: "Obras de recuperação já pensadas tardam em começar e o aspecto [da sinagoga] não é o mais cuidado. Luís Vasco, 73 anos, guardião do edifício desde há 27 anos, tem pena que ninguém vele melhor por esta memória da presença judaica em Portugal. ... ...Não fosse o zelo de Luís Vasco e da mais recente Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar, e o museu estaria hoje ainda em piores condições."
Convenhamos que, como cartão de visita, numa reportagem de índole turística, não é mesmo nada abonatório. E o jornalista até poderia ter acrescentado "Isto numa autarquia que desde há anos esbanja milhões em obras despropositadas e descontextualizadas, mas parece não ter umas míseras centenas de euros para mandar rebocar as paredes da Sinagoga, que é propriedade camarária". Só lhe ficaria bem, ao jornalista, não fora o caso de habitarmos num país em que a maior parte dos habitantes tem uma costela galega: Adoram estar ao mesmo tempo de bem com Deus e com o diabo, como bem denota o anexim galego "Deus é bom e misericordioso, mas o diabo também não é mau."
Uma vez que os senhores autarcas nabantinos insistem na quimera da má-língua, como argumento para tentar refutar as críticas cada vez mais numerosas de que são alvo, um pouco à maneira socratina, aproveito mais este triste episódio relacionado com a sinagoga para "despejar o saco". Na verdade, no que me toca, não se trata tanto de má-língua, mas sobretudo de sinceridade e frontalidade. Sabedor de que a maior parte da população está inibida de dizer o que pensa, sob pena de poder vir a sofrer represálias, chamei a mim essa ingrata tarefa de cidadania, uma vez que os alvejados terão alguma dificuldade em retaliar.
Para obstar a que subsista qualquer dúvida sobre o que penso dos actuais membros do executivo, assumo que, na minha opinião e em termos políticos, à excepção de Graça Costa e, em certa medida, de Luís Ferreira, nenhum dos outros tem envergadura, capacidade, competência ou sequer ideias para poder desempenhar as funções que exerce. Não sabem nem estão já em idade de aprender. Para isso seria necessário que alguém lhes tivesse ensinado a aprender, o que não aconteceu, devido ao modelo "sebenteiro" usado em Portugal. Agora, epistemologicamente, é demasiado tarde. Há coisas que nunca mudam!
António Paiva tinha carisma, capacidade de liderança, competência técnica, uma formação universitária diferente e algumas ideias, ainda que erradas. Por isso conseguiu, num primeiro tempo, "endireitar" uma "máquina" que bem precisava, conduzir alguns a "calçar os patins" e obter chorudos fundos europeus. Depois foi vítima do deslumbramento, da notória ausência de uma oposição capaz e do facto de -sobretudo por estas bandas- o exercício do poder ser um poderoso afrodisíaco, dando origem às desgraças que todos conhecemos.
Ao contrário de Paiva, os actuais edis, salvo as excepções citadas, não mostram qualquer um dos referidos predicados. É certo que também não "metem a mão na gaveta". Todavia, como aqui há semanas referiu um dos fundadores do PPD local, agora PSD, "ser desonesto não é só meter a mão na gaveta. Ocupar um lugar que não se consegue desempenhar minimamente, por evidente falta de qualidades, é uma desonestidade e uma intrujice." Aqui fica escrito, para memória futura. Para quando, eventualmente, uma outra maioria possa ter a coragem de tirar os esqueletos dos armários. Já tarda!

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