quinta-feira, 25 de abril de 2013

Mais uma forte machadada nas balelas da esquerda

Le Monde, 24/04/2013, página 3 - Fonte EUROSTAT

À esquerda a tabela em % dos défices públicos em 2012. Portugal está num vergonhoso quarto lugar, só ultrapassado pela Espanha, Grécia e Irlanda. Do lado direito, também em %, o crescimento económico previsto para 2013. Pior do que nós só a Eslovénia, Chipre e a Grécia.
Perante estes dados, quem pode acreditar em palavras de ordem do tipo "Há outro caminho" "Mudança" "Derrubar este governo" ou "Fora com a troika"? Como dizia o outro: Há mar e mar, há viver e sonhar!
Ainda não convencida/o? Então faça favor de continuar a leitura. Verá que não será tempo perdido:

"A Europa empanada preocupa o mundo inteiro"

"O velho continente já abrandou a austeridade pela calada. Agora carece de outros recursos eficazes para relançar a economia"

"Análise - Washington - Enviado Especial"

Os 188 ministros das finanças e respectivos governadores dos bancos centrais, reunidos na capital americana de 18 a 21 de Abril, mostraram-se inquietos perante a depressão que afecta a economia europeia. Não tanto devido à anunciada redução do PIB de 3%, após um recuo de 0,6% em 2012, mas sobretudo por causa do persistente marasmo económico. Temem que alastre ao resto do mundo, devido a um eventual afrouxamento do comércio e dos investimentos mundiais.
Porque a Europa, nomeadamente a Zona Euro, já devia ter retomado o crescimento. A regularização das contas avança em todos os países, a ritmos comparáveis ao que foi realizado aquando das crises da dívida, que se sucederam ao longo dos anos 90 e 2000, na América Latina, na Ásia ou em África. As reformas institucionais já foram decididas, quer se trate da união bancária ou do reforço da solidariedade económica e financeira. Os bancos foram também recapitalizados grosso modo. As taxas de juro são baixas. Portanto, em teoria pelo menos, não há qualquer avaria na economia do Velho continente.
E daí? E daí, há a avaria: vai-se instalando um circulo vicioso. As reduzidas margens de valor acrescentado das empresas levam-nas a não admitir novos empregados. O desemprego vai chegar aos 11% na Europa "avançada", em 2013 e 2014. Por isso, a procura é incerta, mesmo nos sectores em desenvolvimento. Perante um quadro tão sombrio, que augura um aumento dos risco de crédito, os bancos emprestam o menos possível, o que prejudica sobretudo as PME, principais criadoras de emprego.
"Se me oferecessem um lugar de ministro das finanças na Europa, não aceitaria de modo nenhum, porque continuo a não saber quais as medidas para ultrapassar a depressão", exclamou um dos "mestres" da economia mundial presente em Washington.
Afrouxar a consolidação orçamental, ou seja reduzir a austeridade? Olli Rehn, comissário europeu para os assuntos económicos, foi claro durante a reunião: "Vou dizer-vos um segredo. O ritmo de ajustamento orçamental na Europa já afrouxou desde 2012." Exactamente metade entre 2012 e 2013.
Bruxelas aceitou a ideia de conceder à França ou à Espanha prazos mais longos para conseguirem cumprir os critérios de Maastricht. Actualmente, a diferença de rigor entre os Estados Unidos e a zona euro já não é a que se julga. A austeridade europeia implica uma dieta 50% inferior à de uma América que vai ver o seu crescimento amputado este ano de 1,5 pontos.
Segundo remédio mágico: relançar a máquina económica pela procura [exactamente o que pretendem a CGTP e o PS segurista]. Actualmente só a Alemanha, a Noruega e a Estónia estão  em condições de adoptar essa via, sem contribuir para degradar ainda mais a competitividade europeia já enfraquecida. É pouco. Na Alemanha os salários recomeçaram a subir mais que nos países vizinhos. A proximidade de eleições legislativas, lá para o final do ano, deverá confirmar o fim do rigor salarial, com a aparecimento altamente simbólico do salário mínimo.
Terceiro recurso: A redução das taxas de juro do BCE. Várias vozes alemãs já disseram que uma tal facilidade será possível se a situação o vier a exigir, e caso não haja risco inflacionário. Mas uma tal redução terá de ser apenas simbólica, uma vez que a taxa de referência do BCE já é baixa: 0,75%
Quarto medicamento: Reformas estruturais para desbloquear energias e diminuir os défices. A reforma do mercado do trabalho, a simplificação dos procedimentos administrativos, o aumento  da idade da reforma, ou fim de alguns monopólios (taxis, farmácias, notários) levam anos e anos para dar frutos visíveis.
A doença de que sofre a Europa terá assim de ser procurada alhures, mais precisamente na falta de confiança. Os indicadores da atitude dos consumidores e das empresas estão em queda há mais de um ano. Os actores económicos europeus não acreditam no futuro porque os responsáveis comunitários ou nacionais não lhes explicam claramente porquê, como e até quando o saneamento económico e o relançamento vão prosseguir.
Ninguém arrisca afirmar em público que a austeridade já afrouxou este ano, com receio de assustar os mercados e tornar problemáticos os financiamentos das dívidas soberanas. O que conduziu ao resultado caricato de debater o afrouxamento da austeridade, entretanto já reduzida, mesmo em Inglaterra, bem como ao aumento da tentação populista de um relançamento orçamental pelo proteccionismo.
 Mas como acusar a opinião pública de cada país de se refugiar numa clara negação da realidade, quando se sente abandonada aos seus fantasmas em plena tempestade, por dirigentes europeus afásicos e imediatistas? Com tal negação, corre-se o risco de perpetuar o medo do futuro, a desconfiança em relação às empresas, a recusa da mudança e a "panne" do crescimento. A crise económica da Europa mais não é afinal que outro aspecto da sua crise moral e política."

Alain Faujas, Le Monde, 24/04/2013, página 3

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