terça-feira, 9 de abril de 2013

Excelentes pessoas mas políticos execráveis

Um dos mais graves problemas da política portuguesa é o fulanismo. Consiste basicamente em considerar qualquer crítica de base ideológica como um ataque pessoal. Nas cidades pequenas então, é uma autêntica epidemia, na prática sem remissão possível. Procurando minorar na medida do possível os efeitos de tal peste social, parece-me útil esclarecer alguns aspectos: A - Tenho excelentes relações com todos os membros do executivo local. Até tuteio desde sempre a maior parte deles; B - Sempre fui por eles bem tratado em questões pessoais, com destaque para o presidente Carrão; C - Considero-os a todos excelentes pessoas e honrados cidadãos, que procuram desempenhar os seus cargos o melhor que podem e sabem. Infelizmente, a experiência tem vindo a demonstrar que sabem pouco e podem ainda menos.
Dito isto, que não é pouco, nada me obriga ou leva, em termos pessoais, a louvá-los ou a criticá-los. Já no que se refere à política, o caso é outro. Considero-os TODOS execráveis, naturalmente uns mais, outros menos. Começa logo pelo mero cumprimento das leis, que a todos obrigam. De cada vez que tento consultar determinado processo, cujo acesso é (ou deveria ser) livre, nos termos da Lei 46/2007, mera  transcrição portuguesa de uma directiva europeia obrigatória, aflora-me a ideia de que os membros do executivo municipal se comportam como um espécie de gang de malfeitores, procurando iludir a polícia. Fazem tudo para evitar, ou pelo menos adiar, o inevitável. Com que objectivo prático? Só para sacanear, de forma a desencorajar futuros pedidos? Nem pensem!
Afora tal comportamento, ao arrepio do conhecido aforismo "quem não deve não teme", a ganância parece ser também um factor determinante na política autárquica local. Todos querem quanto mais votos melhor, pelo que vale tudo para os tentar comprar a prazo. Temos assim centenas de subsídios, dezenas de instalações cedidas gratuitamente, o autocarro municipal sempre numa roda viva, bem como outras práticas do mesmo jaez, tudo na maior opacidade possível. Como convém aos aproveitadores, tanto de dentro como exteriores.
Nesta linha, a mais recente decisão, votada por unanimidade, brada aos céus: O executivo deliberou que a receita do próximo Congresso da Sopa reverterá integralmente para o CIRE. Trata-se, bem entendido, de uma instituição meritória, acima de qualquer suspeita. Mas francamente, a que título resolve uma autarquia atascada em dívidas e sem fundo de maneio para pagar sequer aos credores em conta corrente, gastar assim sem mais nem menos cerca de 50 mil euros = 10 mil contos? Simples acção de solidariedade? Ou compra de votos? Com a agravante de vir a transformar-se numa tradição.
Para que os eleitores possam ter uma ideia fundamentada das despesas mensais e anuais da autarquia com turismo, cultura, desporto e educação, seria muito interessante a publicação de todos os benefícios concedidos e respectivos custos reais, incluindo vencimentos: autocarro, comboio turístico, folhetos e desdobráveis, subsídios diversos, sedes, pavilhões, ex-estádio, piscinas... Logo se veria se são ou não simples mãos rotas... com o dinheiro dos outros. 
O presidente Carrão afirmou recentemente, durante uma troca de mimos com o vereador Pedro Marques, que a continuarem tais acusações, um dia destes os cidadãos nem os podem ver. Temo que esteja equivocado. Na verdade, ouvindo a população por essas ruas fora, fica-se com a ideia de que, exceptuando os de alguma maneira dependentes da política, os eleitores JÁ ESTÃO FARTOS deste executivo. De tal forma que nem tencionam ir votar em Outubro próximo. Logo veremos se não passa de falso alarme.
Entretanto, a esperança é a última coisa a morrer.

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