domingo, 7 de abril de 2013

"Ao redor da lição francesa"



Houve em tempos no rio Nabão concursos internacionais de pesca desportiva. A dada altura, veio uma equipa francesa, do Gardon Tourangeau, cujo material contrastava bastante em relação ao dos portugueses. Enquanto estes dispunham de excelentes canas de pesca, de magníficos carretos, de modernos camaroeiros e do último grito da moda em bancos articulados, os gauleses apresentaram-se praticamente com o material mas barato que havia no mercado e apenas o necessário.
Feita a pesagem final, conclui-se que os concorrentes de além-Pirinéus tinham conquistado todos os principais prémios, para enorme espanto do nabantinos. Simplesmente porque, em vez de se limitarem a "mostrar o material, dar banho à minhoca e ir aguardando", foram espalhando engodo à volta de cada pesqueiro. Exactamente aquilo que a câmara devia fazer em relação aos investidores, mas apenas usa para com os eleitores locais, procurando comprar votos mediante prebendas de toda a ordem. E como as verbas disponíveis não chegam para tudo...
O então líder dos pescadores tomarenses -o saudoso Nini Ferreira- que não ganhou para o enxovalho, pois fora ele a convidar os franceses, em vez de insistir nas técnicas tomarenses, que se revelaram toscas e caducas, publicou um livro. Nele explicava o método gaulês e recomendava a sua adopção urgente pelos pescadores nabantinos. A  obra tinha por título "Ao redor da lição francesa" e conheceu algum sucesso na época.
Relembrei o "escândalo da pesca" esta manhã, durante a habitual leitura do Le Monde. Como é sabido, os socialistas locais mais em voga saudaram, como convinha, a vitória de François Hollande nas presidenciais francesas. E quando nestas linhas preveni que os tempos deixaram de estar para socialismos serôdios e entorpecentes da iniciativa privada, fui logo alcunhado -pela calada, como convém à coragem nabantina- de "vendido ao Relvas e à direita neo-liberal".
Onze meses mais tarde, os factos aí estão, a mostrar quem tem razão. No Le Monde datado de ontem a página 10 é bem esclarecedora: "O método Hollande de novo acusado. As críticas multiplicam-se no seio da maioria socialista em pânico. Mas o presidente recusa remodelar o governo de modo precipitado."
A segunda ilustração supra é da mesma natureza: "Uma impopularidade recorde muito precoce". "É um novo pico de impopularidade para François Hollande, em Abril. Segundo o barómetro CSA para o jornal LES ECHOS, realizado nos dias 2 e 3 de Abril, na altura da confissão de Jérôme Cahuzac, junto de uma amostra representativa de 933 pessoas, a popularidade do chefe de estado afundou-se abaixo dos 30%, com 29% de opiniões favoráveis. É a primeira vez que tal acontece desde a sua tomada de posse.
Onze meses após a eleição, Hollande bate o record de impopularidade de Nicolas Sarkozy, o anterior presidente, que apenas atingira 30% de opiniões favoráveis em Março de 2011. Durante a V República, só Jacques Chirac desceu ainda mais (26%), mas já no final do seu segundo mandato.
De acordo com a  mesma sondagem, 67% dos franceses não confiam no chefe de estado para "enfrentar com eficácia os principais problemas". Um aumento de cinco pontos em relação ao mês anterior. São os empregados e os operários os mais severos: 71 e 70%, respectivamente, declaram não confiar no actual ocupante do Eliseu. Em causa, o desemprego e a redução do poder de compra, que os atinge particularmente.
Entre os quadros e outras profissões intermédias, François Hollande consegue descer 13 pontos num mês, obtendo agora apenas 31% de opiniões favoráveis nestas categorias profissionais. O chefe de estado está confinado à sua base política: 70% dos simpatizantes socialistas ainda confiam nele. Mas eram 76% em Março. E não se trata apenas nem principalmente do desgaste provocado pelo escândalo Cahuzac, dado que uma parte da amostragem foi interrogada antes da confissão do ex-ministro do orçamento.
A gravidade da crise económica e o aumento do desemprego degradam a confiança no chefe de estado. Além disso, a sua prestação televisiva, na passada quinta-feira, 28 de Março, não conseguiu inverter a situação. Outro tanto sucede com o primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, com 66% de opiniões desfavoráveis. Um aumento de cinco pontos em relação ao mês anterior."

Perante isto, amigos socialistas tomarenses, há duas vias possíveis: ou continuam pelo caminho dos sonhos e outras fantasias ideológicas, ou resolvem descer às tristes realidades terrenas. Se optarem por esta segunda hipótese, podem desde já contar comigo...para conversar. Até lá, vão vestindo as gabardines e abrindo os chapéus de chuva. Se até o Le Monde, usual bíblia dos socialistas franceses, já diz o que diz, tudo indica que o futuro vai ser cada vez mais sombrio.
Depois não venham dizer que ninguém vos avisou atempadamente!

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