domingo, 7 de abril de 2013

Storytelling

Sabe-se que a parisina atmosfera do Quartier Latin excita a meninges, apesar da cada vez mais grave poluição atmosférica. Aí está o fenómeno Sócrates para mais uma vez o demonstrar. A residir há mais de dois anos na outrora Cidade Luz, onde dispende segundo a imprensa à roda de quinze mil euros mensais, o nosso Animal feroz, embora frequente apenas um MBA-Executive, que está ao alcance de qualquer candidato que disponha de duas vezes 13 mil euros anuais e permite escapar ao implacável exame de entrada em Sciences-Po-Paris, já aprendeu qualquer coisinha por aquelas bandas.
A comunicação social portuguesa achou-o genericamente igual a si próprio, mas tal não é inteiramente verdade. Surgiu com um modo novo: outra forma de contar o acontecido = outra narrativa,. Aquilo que os anglo-saxónicos designam por storytelling. Em que consiste? Em apresentar a realidade sob a luz que nos seja mais favorável. E nisso Sócrates sempre foi um perito. Só ainda não sabia era essa do storytelling. Mas já o praticava de forma excelente. Com teleponto e tudo.
Um exemplo flagrante: sabemos todos que deixou o país praticamente de restos e de mão estendida à caridade da troika. Contudo, para o ex-primeiro-ministro, os seus governos parecem ter sido um maná. Ainda hoje gasta à fartazana na capital francesa, anda de avião como quem viaja no metro e dispõe de apartamento de luxo em Lisboa, conquanto não se lhe conheça qualquer fonte de rendimento. Ele próprio esclareceu estar a estudar em Paris graças a um empréstimo da banca. O que lhe permite não pagar IRS em Portugal. 
Compreende-se assim que se tenha em alta conta e insista em apresentar aos portugueses a sua acção governativa como francamente positiva. Se ele próprio não tem razão de queixa, bem pelo contrário, acredita que apenas a inveja e a ingratidão levam os portugueses a detestá-lo.
Infelizmente, o caso Sócrates está bem longe de ser único. Mesmo aqui, nesta cada vez mais mirrada santa terrinha tomarense, os aprendizes políticos que temos também já há muito que praticam o storytelling. Apesar do longo rol de insanidades e do triste estado a que isto já chegou, continuam com a mesma narrativa. Vai tudo o melhor possível, tendo em conta as circunstâncias. O que até corresponde à verdade, se os incluirmos nas ditas circunstâncias. Nunca ninguém viu eucaliptos a dar pêssegos... Donde resulta que todos consideram ter feito até agora um excelente trabalho autárquico, que só não resultou em pleno devido à má vontade da oposição. Dos outros. O costume.
Vai daí, fingindo esquecer todos os erros anteriores, resolveram quase todos voltar a apresentar-se em Outubro. Com a mesma bagagem ideológico-partidária de sempre. Compreende-se. Apesar dos insucessos, nenhum dos eleitos ganharia mais fora da política local. Para eles, portanto, tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis. 
Vamos portanto ter em Outubro, pela terceira vez desde o início da crise, o PSD sem ideias e sem programa. Os IpT com muita parra e pouca ou nenhuma uva. O PS com as baboseiras do costume: medidas de crescimento, parceria CMT-IPT, como se dois coxos corressem melhor que um só, incremento da participação pública na economia. Aumento do peso do Estado. Alargamento da burocracia, etc. etc. Tudo isto numa altura em que François Hollande, o presidente francês mais diplomado de sempre (ENA, HEC, Sc-Po-Paris), entregou o volante europeu a Merkel e está pelas ruas da amargura, com a mais baixa popularidade de sempre na 5ª República. Tal como aqui se previu em tempo oportuno.
Nestas condições, valerá a pena ir votar em Outubro aqui em Tomar? Para escolher quem, porquê e para quê?

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