terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A análise de quem sabe e não esconde

Foto Gerardo Santos/DN

Henrique Medina Carreira (81 anos, nascido em Bissau, em Janeiro de 1931), ex-ministro das finanças e conhecido fiscalista, foi durante anos apelidado de catastrofista, pessimista, apóstolo da desgraça, ave agoirenta e outros. Até que finalmente, com a derrocada da era socratina (ou só cretina?), passou a ser considerado um oráculo credível. Há poucos dias deu uma entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, publicada na edição de 08/01/12.
Porque em geral os nabantinos, julgo eu, gostam pouco de ler, sobretudo textos longos, que cansam muito a cabeça, resolvi transcrever apenas aquelas partes que considero melhor se aplicarem à tragédia tomarense. As perguntas terá de ser o leitor a imaginá-las. Faz bem ao cérebro e é gratuito.
"Quem quer que esteja agora tem de ser diferente dos que estavam, porque não tem espaço de manobra.
O que acontece é que as circunstâncias da época ainda tinham um furo no cinto e agora não há furo nenhum.
Neste momento estamos apenas a colocar-nos no nível de vida que podemos ter. Antes vivíamos com 10% mais e o que a austeridade significa é que temos de viver com 10% menos. Estamos a acomodar-nos àquilo que valemos.
Não, não vamos ficar por aí. Sobretudo vamos enfrentar um grande problema: o da economia! Há as maiores dificuldades para relançar a economia.
Não temos dinheiro e para fazer qualquer coisa que se veja é preciso dinheiro.
Só se vence o desemprego criando investimento.
Nós vimos fugir daqui pessoas e indústrias... ...Porquê? Temos de saber porquê! E temos de criar condições de concorrência para atrair esses investimentos, porque se eles têm razões fiscais ou razões de burocracia... ...ou razões do que seja para ir embora, nunca vamos mantê-los cá, nem os vamos atrair, porque não temos condições!
Precisamos de investimento para fazer aquilo que não existe. Esse é que é o problema.
A corrupção, além de enriquecer ilicitamente alguma gente, o que já não é pouco, distorce o funcionamento da economia. É um problema gravíssimo e em crescendo. A gente não pode é dizer de quem desconfia, não tem provas, mas, como eu costumo dizer, há aí pessoas que chegaram de fora como a Linda de Suza, com a mala de cartão -todos nós as conhecemos- e é ver o que são hoje. E não fizeram nada senão ter passado pela política. A corrupção é alguma coisa que nos está a custar muito caro.
A corrupção é uma coisa altamente destrutiva que tem um outro efeito: num país onde a corrupção vingue, não há bom investimento. Ninguém vem para um país [ou para uma terra] em que está sujeito ao vaivém da corrupção.
[Os eleitos] deviam ponderar as razões porque as pessoas saem, porque as pessoas não são nenhuns gatunos nem são nenhuns garotos. Saem por qualquer razão. Por conseguinte, tem de se ver porque razão é que as pessoas se vão embora.
O mercado [e os fornecedores] desconfiam é da nossa economia. No dia em que souberem que a economia vai produzir dinheiro para lhes pagar, eles não têm problema. Mas qualquer credor ou emprestador de dinheiro é assim! Quem ganha dez e deve cem, não vai longe!"

Depois de lerem isto, (caso não se tenham cansado entretanto) os senhores autarcas que temos ainda continuam a pensar que há tempo para prosseguir o jogo do empurra, também conhecido por jogos florais reles? É só uma pergunta.

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