Numa altura em que os tomarenses estão muito preocupados com o futuro do hospital, pareceu-me oportuno traduzir um artigo científico sobre a nova abordagem terapêutica do cancro da próstata. Apesar de saber que nesta terra a principal doença não é o cancro da próstata, mas o da apatia, da hipocrisia e do medo da política.
Copiado de Le Monde, 21/01/12
"Um livro americano, cuja tradução sai esta semana em França, denuncia o abuso das prostatectomias, operações frequentemente inúteis e arriscadas, tanto para a função urinária como para a sexual."
"Tradução de um livro americano, publicado em 2010, Poupa-me a próstata (Thierry Souccar éditions, 352 páginas, 24 euros em França e em francês), que sai esta semana em França pode vir a relançar uma vez mais o debate sobre o rastreio do cancro da próstata e o excesso de cirurgias de ablação. Nos Estados Unidos, onde todos os anos são diagnosticados 200 mil tumores deste tipo, um grito de alerta muito explícito (Invasion of the Prostate Snatchers, ou seja "A invasão dos ladrões de próstata") levantou celeuma nos media e vendeu 52 mil exemplares.
Escrito a duas mãos, por um oncologista, Mark Scholz, director executivo do Instituto americano de investigação sobre o cancro da próstata, e um paciente, Ralph Blum, que vive desde há 20 anos com um tumor cancerígeno na próstata., "este livro é portanto uma colaboração entre dois especialistas, ambos certificados; um no papel, outro no seu próprio corpo", resume Mark Scholz. Com argumentos científicos de um e pessoais do outro, ambos os autores denunciam o domínio excessivo dos urologistas e os seus excessos de intervencionismo.
Segundo Mark Scholz, mais de 40 mil das 50 mil prostatectomias totais efectuadas anualmente nos Estados Unidos não se justificam, porque "a grande maioria destes homens teriam vivido os mesmos anos sem a intervenção cirúrgica." E tais excessos são são tanto mais inaceitáveis quando, segundo diz, a percentagem de complicações é elevada. Após a ablação prostática, um em cada dois pacientes tem problemas sexuais diversos, e "só 5% declaram que as suas erecções são tão boas como antes da cirurgia. Há registo de perdas urinárias em 7% dos pacientes operados pelos melhores urologistas", diz o médico, mostrando estudos comprovativos.
Ao longo dos vários capítulos, explica as particularidades do cancro da próstata , do respectivo rastreio, e porque razão as biópsias são uma "caixa de Pandora." "Quando o seu médico de família o encaminha para um urologista, a sua primeira preocupação tem de ser a das implicações terríveis que existem no facto de se precipitar sobre uma biópsia da próstata", aconselha Mark Scholz. "A seguir é indispensável também, caso se aceite a biópsia, abster-se de aceitar qualquer tratamento irreversível, até que diminua a emoção provocada pela nova situação clínica, para se ter tempo de analisar atentamente todas as vantagens e inconvenientes da terapêutica proposta."
O oncologista faz igualmente o ponto da situação de todas as opções terapêuticas, já validadas ou ainda em fase de estudo ou experimental e destaca a nova preferência denominada "vigilância activa", protocolo preciso que pode ser proposto nos casos de certas formas localizadas e pouco evolutivas. Alternando com a voz do especialista médico, Ralph Blum conta os seus dois decénios de convivência com o cancro da próstata. Se o rastreio quase diário do seu PSA (marcador sanguínio dos tumores prostáticos) e a narrativa das suas experiências algo extremas (medicinas muito alternativas, nomeadamente) tornam por vezes a leitura algo cansativa, o seu ponto de vista em espelho fornece elementos diferentes e bastante instrutivos.
Que se passa com o debate sobre o rastreio do cancro? "A dosagem do PSA não é si mesmo um problema, alega Scholz. O que preocupa é a reacção exagerada dos pacientes e dos médicos, perante as informações sobre a referida percentagem. A solução não deve consistir em controlos mais espaçados, mas sim convencer os médicos a adoptar uma visão mais moderada, sempre que aconselham uma biópsia, logo que a percentagem de PSA aumenta ligeiramente. Sobretudo quando outras razões podem explicar esse aumento."
Recentemente, alguns especialistas americanos adoptaram uma posição ainda mais firme. Em Outubro de 2011, um comité independente -US Preventive Services Task Force- recomendou o abandono dos testes PSA de rotina nos homens com mais de 50 anos e de boa saúde, porque não permitem salvar vidas e conduzem a exames e tratamentos inúteis. A mais recente análise de um estudo americano englobando 75 mil homens, publicada no Journal of the Nacional Cancer Institut no princípio de Janeiro, mostra, com treze anos de recuo, que a prática anual do toque rectal e de um teste PSA não reduz a mortalidade por cancro.
Em França, onde as autoridades sanitárias nunca recomendaram o rastreio sistemático, o debate é igualmente vivo entre os defensores desta estratégia, em particular a Associação Francesa de Urologia, e os seus detractores, entre os quais algumas agremiações de médicos de clínica geral. Apesar da controvérsia, o rastreio do cancro da próstata é uma realidade em França.
Em 2007, foram feitos 5 milhões de dosagens de PSA, dos quais 3,35 milhões no âmbito de rastreios de rotina. Desde então esse número terá aumentado, chegando a 7/8 milhões anuais. Consequência: o total de diagnósticos de cancro da próstata cresceu igualmente de forma exponencial. Passou de 13 mil em 1990 para mais de 71 mil em 2010, com o total constante de 9 mil mortes anuais.
Para o urologista Olivier Cussenot (Hospital Tenon - Paris), o actual rastreio "não organizado" não está adaptado à epidemiologia de tais cancros: "Metade das prescrições são realizadas em homens de mais de 65 anos, mas começar nesta idade não se justifica pois o tratamento dos tumores detectados não diminui a mortalidade e altera a qualidade de vida." Na sua opinião seria preferível um rastreio precoce aos 45 anos, com o objectivo de identificar os casos de risco, e depois uma simples vigilância de cinco em cinco anos.
As ablações prostáticas também aumentaram em flecha, passando de 6 mil anuais em 1998 para 26 mil e 500 em 2007. Desde então recuaram ligeiramente, para 22 mil em 2010. "Houve abusos, mas actualmente as prostatectomias estão a diminuir, apesar do aumento das formas localizadas de cancro", disse-nos o urologista já referido. É uma evolução que resulta do crescente recurso a tratamentos mais precisos e à vigilância activa."
O professor David Khayat (oncologista, CHU Pitié-Salpetrière - Paris) insiste por seu lado na necessidade de uma informação esclarecida e esclarecedora dos pacientes. Tanto para decidir um rastreio como para a escolha de uma terapêutica ou de uma vigilância activa. "A estratégia de vigilância armada, que proponho a muitos pacientes, com critérios rigorosos, permite a mesma percentagem de sobrevivência que qualquer outro tratamento, segundo os estudos", concluiu o oncologista."
Sandrine Cabut, Le Monde, Science & Techno, 21/01/12, página 3
2 comentários:
Muito interessante Professor.
Talvez saiba que o CHMT tem na Unidade de Tomar um serviço de urologia muito respeitado e prestigiado, com uma produção(consultas , cirurgia, exames especiais ) notável.
Nem tudo será mau!
Cumprimentos.
O Presidente da República disse aquilo que qualquer um de nós diria se estivesse no lugar dele. Eu pelo menos fá-lo-ia sem reservas!
Senão vejamos:
O Senhor Presidente vê e ouve falar do seu amigo Catroga na EDP! Ora o Senhor Catroga que já recebe uma reforma de 9600,00€, vai para a EDP fazer o quê? Vai e não se escusa a tal acto de bravura, porque os 9.600,00€ não lhe chegam para pagar as despesas.
O Paulo Teixeira Pinto, esse jovem rapaz amigo no nosso Presidente, o chamado boycrente, que depois de mamar à grande no BCP sem perceber muito do ofício, se reformou com pouco mais de 40 anos de idade com aquela miséria de 17.000 "aérios"!
O General Rocha Vieira, também ele intimo de Cavaco Silva, governador em Macau. Basta ver quanto recebe o Melancia, cerca de 100.000 "patacas", para se perceber que as reformas de cada um serão similares.
O nosso Presidente está a dizer ao Dr. Passos Coelho implicitamente, que com esta brincadeira de cortar aos funcionário públicos, quem se lixou foi ele, porque um Presidente não pode ir para a EDP ou para as Águas de Portugal.
«Ganda nóia!»
Enviar um comentário