sábado, 28 de janeiro de 2012

O que pensa a tia Merkel...


Sabem-no todos os sobrinhos felizardos: É sempre conveniente saber o que pensa uma tia rica, sobretudo quando nos vai dando algum dinheirito para extravagâncias, como tem sido o caso. A chanceler alemã Ângela Merkel, tutora de facto dos perdulários sobrinhos do sul da Europa, (e dos outros!), concedeu uma longa entrevista a seis grandes jornais europeus: LE MONDE, EL PAIS, LA STAMPA, THE GUARDIAN, GAZETA WYBORCZA e SÜDDEUTSCHE ZEITUNG. Em Berlim, no passado dia 19. Eis as passagens que pareceram mais significativas, a partir da versão francesa, do Le Monde de 26/01/12, página XII.

"No início, tratava-se de saber se na Europa não estávamos simplesmente a ser vítimas dos especuladores, dúvida que originou um debate intenso. Agora, e é o passo decisivo, conseguimos perceber quais as causas dos nossos problemas. Nestes últimos 18 meses, numerosos países desenvolveram esforços incríveis e iniciaram reformas dolorosas, o que me leva a assegurá-los de todo o meu respeito. Penso que no conjunto encontrámos um bom equilíbrio entre a solidariedade europeia e a responsabilidade nacional. Se conseguirmos aprender a lição dos todos os erros e omissões, após a crise a Europa será muito, muito mais forte do que era antes. É esta a minha convicção profunda.
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Se somos solidários, não devemos por isso esquecer a responsabilidade de cada um. Os dois vão a par. É absurdo prometer sempre mais e mais dinheiro se não lutarmos contra as origens da crise. Em Espanha, por exemplo, 40% dos jovens estão desempregados, o que é também uma consequência da legislação do trabalho. Compreendam que não estou a criticar, pois tenho muita estima pelos esforços de reforma espanhóis. Outros países, como a Alemanha ou os Europeus do Leste, já procederam a dolorosas reformas dos respectivos mercados de trabalho. Defendo que nós, europeus, devemos aprender uns com os outros. E a Alemanha também pode inspirar-se nos outros países nalguns aspectos.
Tendo em conta os biliões de ajudas e fundos de socorro, nós alemães também devemos ter cuidado, se não queremos um dia estar esgotados. As nossas possibilidades também não são ilimitadas. E o conjunto europeu sairia prejudicado.
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Procedo de acordo com a minha consciência. Durante trinta e cinco anos vivi num país que, graças a Deus, no fim de contas não conseguiu sobreviver, devido à sua incapacidade económica e política, que foi varrida pela sede de liberdade dos seus habitantes. Estou profundamente convencida que a Europa, com a sua democracia, os seus direitos do homem, os seus ideais de liberdade e os seus valores, tem muito para dar aos seus habitantes e ao Mundo.
Actualmente a Europa ainda representa 7% da população mundial. Se não nos solidarizarmos, a nossa voz e as nossa convicções mal se conseguirão ouvir. A minha motivação reside na ideia europeia de paz, de valores e de prosperidade. É por isso que pretendo que não nos limitemos a passar através da crise. Não quero que a Europa se transforme num museu de tudo aquilo que conseguimos no passado. A Europa que ambiciono vai conseguir inovar. Sei bem  que isso significa para muitos uma grande, grande mudança. É por isso que devemos ajudar-nos mutuamente. Se recuarmos nos nossos esforços; se formos apenas simpáticos e recuarmos nos projectos de reforma, estaremos de certeza a prestar um mau serviço à Europa.
... ... Tudo o que faço, faço-o porque estou intimamente convencida de que a Europa é a nossa grande oportunidade, uma oportunidade que devemos preservar. Sofri durante trinta e cinco anos, até ao derrube do Muro, por não poder ir livremente à Europa Ocidental. Era o meu sonho. É o meu continente. Um continente cujos habitantes acreditam nos mesmos valores que eu. Um continente com o qual podemos ajudar a modelar o Mundo. Com o qual nos podemos comprometer em relação a tudo o que assegura o futuro da humanidade: dignidade humana, liberdade de opinião, liberdade de imprensa, direito de manifestação, governança económica durável, luta contra o aquecimento global. ... ...
A minha visão é a União política, pois a Europa deve seguir a sua própria via. Devemos aproximar-nos pouco a pouco em todos os domínios políticos, porque nos apercebemos  que qualquer problema dos vizinhos tem cada vez mais a ver connosco e vice-versa. Para a Alemanha e para os europeus, a Europa é política interior.
Num longo processo, tranferiremos cada vez mais competências para a Comissão Europeia, que passará então a funcionar como um governo europeu nas competências europeias. O que implica um parlamento forte. O Conselho que reúne os chefes de governo será por assim dizer a câmara alta, o senado. Finalmente, temos o Tribunal europeu como instância judiciária suprema. Pode ser assim a configuração futura da União Política Europeia, algures no futuro, como já referi e após numerosas etapas."

1 comentário:

alexandre leal disse...

Prof.

Obrigado por facultar a interessante entrevista da nada interessante alemã.

Mas como a senhora se esqueceu de comentar o "atentado" que uma administração hospital estará a perpetrar contra Tomar, passou despercebida !

Cumprimentos