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"Um francês em cada cinco consome em cada ano pelo menos uma benzodiazepina ou uma molécula da família", indicou a Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Produtos de Saúde - AFSSAPS (o INFARMED francês), no passado dia 16, numa análise da situação sobre o consumo dessa classe de medicamentos com aplicações ansiolíticas e hipnóticas.
Entre 2006 e Junho de 2011, mais de 25 milhões de pessoas (60% do sexo feminino) tomaram esse tipo de medicamentos, os quais são regularmente postos em causa, porque os franceses os tomam em excesso. Fazem parte da classe dos psicotrópicos, tal como os antidepressivos e os neurolépticos.
Comercializados desde os anos 60, 134 milhões de caixas foram vendidas em França em 2010, das quais metade eram ansiolíticos (Xanax, Lexomil, Temesta, Lysanxia...) e 37,6% eram hipnóticos (Rohypnol, Noctamid...) ou aparentados (Stilnox, Imovane). Segundo as respectivas propriedades, as 22 benzodiazepinas actualmente no mercado são indicadas para tratar a ansiedade, problemas graves do sono, epilepsia e contracções musculares dolorosas. O consumo dos ansiolíticos diminui regularmente de cerca de 1,8 ao ano desde 2002, mas o dos hipnóticos mantém-se estável e bastante elevado.
No consumo de ansiolíticos, a França ocupa o segundo lugar entre os países europeus, logo a seguir a Portugal. No consumo de hipnóticos é igualmente segunda, desta vez atrás da Suécia. Acontece porém que estes medicamentos não são anódinos, comportando riscos para a saúde e efeitos negativos, assinala a AFSSAPS.
Sendo certo que tais tratamentos são indispensáveis para numerosos pacientes, refere o citado organismo oficial, podem também provocar problemas de memória e de comportamento, alterações do estado de consciência e das funções psicomotoras. Efeitos que se agravam no caso dos pacientes idosos.
O professor Bernard Bégaud, da Universidade de Bordéus II, já manifestou nestas colunas as suas preocupações sobre os efeitos nocivos de determinados ansiolíticos (Le Monde, 24/12/10): "Cinco estudos mostram que o uso prolongado de algumas benzodiazepinas por pacientes idosos, pode favorecer o surgimento de demência do tipo doença de Alzheimer." Está a decorrer neste momento um novo estudo para confirmar tais resultados. Além disso, a AFSSAPS indica, entre outros efeitos secundários indesejáveis, um aumento das quedas susceptíveis de causar fracturas nos pacientes mais idosos.
A duração do tratamento neste grupo etário excede com frequência a que é recomendada.. Por outro lado, "o uso de benzodiazepinas propicia um risco de dependência psíquica e física, acompanhado de síndrome de privação aquando do desmame", realça a agência francesa do medicamento.
Existe igualmente uma elevada utilização problemática das benzodiazepinas, designadamente o seu uso abusivo pelos toxicodependentes. Por outro lado, os citados medicamentos podem também ser administrados sem que a pessoa saiba, ou sob ameaça, para violações, roubos...Convém ainda ter em conta que o uso da referida molécula aumenta singularmente o risco de acidentes rodoviários.
A duração de cada tratamento preocupa as autoridades sanitárias. 52% dos pacientes tomam ansiolíticos ou hipnóticos durante mais de dois anos, com ou sem interrupção do tratamento, quando de acordo com as melhores práticas, a duração recomendada é limitada a doze semanas para os ansiolíticos e quatro semanas para os hipnóticos.
Em 21,1% dos casos, a terapêutica com benzodiazepinas inclui igualmente um antidepressivo. E 21% dos doentes fizeram pelo menos uma vez um tratamento com várias benzodiazepinas em simultâneo. Neste contexto, a AFSAAPS propõe medidas para limitar o consumo e propiciar a utilização mais adequada. Receitas de segurança passam a ser obrigatórias para algumas benzodiazepinas, tal como já acontece com os estupefacientes.
Uma outra pista consiste em diminuir o tamanho e o conteúdo das caixas deste tipo de medicamentos, como forma de evitar abusos. Avisos claros vão ser enviados aos profissionais de saúde: avaliar cuidadosamente a situação, antes da primeira prescrição; limitar as posologias e a duração do tratamento; reavaliar regularmente a pertinência da terapêutica; nunca associar várias benzodiazepinas.
Finalmente, segundo a AFSSAPS, "devem ser tidas em conta as terapêuticas não medicamentosas, como a psicoterapia".
Pascale Santi, Le Monde, 24/01/12, página 25
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