quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O "Vai "xá" patrão" e o hijabe argelino

A chalaça é de princípios do século passado. Quando os galegos ainda imigravam para o Porto e para Lisboa. Num certo estabelecimento de bebidas, o cliente manda vir quatro cafés. O empregado galego regista o pedido e remata com o tradicional "Vai "xá" patrão!" -Não é chá rapaz, são quatro cafés! "Vai "xá" patrão!" -Mau, mau! Tu és surdo rapaz?! Sabes preparar cafés? -Sei sim patrão. Põe-se o café no moinho, depois põe-se no coador do saco, depois mergulha-se na água a ferver... -Pronto! É isso mesmo! Traz lá então os quatro cafés... -Vai "xá" patrão! -E ele a dar-lhe! -Mas tu sabes ou não sabes fazer café?!-Sei sim patrão.  Põe-se o café no moinho...
Este exemplo de diálogo de surdos tem a sua razão de ser, pois o cliente e o empregado não falavam bem a mesma língua, mas duas variantes dela. Acontece que na variante galega do galaico-duriense -o falar que está na origem do português, do galego, do leonês e do mirandês- na variante galega, escrevia, não se usa o jota português de Juvenal, por exemplo, nem a jota castelhana de Juan, mas sim o X, como em Xuventude = Juventude, ou Xunta  em vez de Junta. Donde o "Vai "xá" patrão! = Vai já patrão!
Na urgente e indispensável reforma do CHMT e no que concerne ao Hospital de Tomar, quer-.me parecer que estamos mais ou menos na mesma. De um lado o governo e o ministro da saúde, forçados a usar uma linguagem de rigor, de poupança, de reformas estruturais, tal é o insustentável descalabro em todos os sectores, com "buracos" que vão levar anos a tapar. Do outro, os funcionários e os cidadãos, usando a linguagem do conforto, da segurança, da alergia à mudança, camuflada sob milhentas formas, que vão do "são necessários mais estudos" ao clássico "suspenda-se até melhor ocasião e melhor proposta". Da incomunicabilidade prática entre as duas partes, resultam os inúmeros e cada vez mais frequentes diálogos de surdos em todos os sectores a reformar. Freguesias, Câmaras, Hospitais, Institutos, Universidades, Empresas públicas, Direcções-gerais, etc. etc. Todos são favoráveis à mudanças urgentes e indispensáveis. Desde que para eles possa continuar tudo na mesma. Exactamente como no final da guerra na Argélia, nos anos 60 do século passado, quando os franceses se foram. Colocou-se então o problema de saber se as muçulmanas deviam ou não usar o hijabe, aquele véu para cobrir o rosto. Praticamente todos os argelinos interrogados sobre o assunto tinham a mesma opinião:  Era o que faltava, andar agora com o rosto tapado! Sou inteiramente a favor da cara descoberta. Menos a minha mulher, que já não tem idade para isso; e as minhas filhas, que não estão habituadas...
Assim estamos em Portugal. E na Grécia então...

2 comentários:

Tomar Tótó disse...

Refere Vª. Exª. o caso dos emigrantes galegos do século passado (funções de empregado/criadagem)que conheciam mal a língua portuguesa, o que dificultava o entender das ordens do patrão/empregador. Encontra Vª. Exª. semelhanças com a comunicação actual. Diz "de um lado o rigor do governo, do outro os cidadãos falando a linguagem do conforto".
Devo dizer que tive que ler duas vezes para perceber até onde iam as concepções implícitas no seu escrito.
1-Apesar deste governo insistir na ideia de que os portugueses devem emigrar, os portugueses são os legítimos ocupantes do território em pé de igualdade com estes governantes. Se os galegos foram emigrantes, os portugueses são de cá. E se vamos por aí, são mais do que alguns membros do governo que nasceram ou acabaram agora de chegar. Isto para não falar que foram eleitos com base em mentiras.
2- Quem tem que prestar contas aos cidadâos é o governo. Se um médico é funcionário público, um membro do governo é muito mais. Porque o primeiro tem profissão e carreira e um membro do governo é transitório, muitas vezes sem nada saber fazer além de conversa.
3- Que semelhança pode haver entre um dono de um café (governo?) e os criados galegos (os portugueses?)
4- Numa sociedade decente,os cidadãos tem primazia sobre tudo o resto e a função do governo é defende-los. Criticar um cidadão de Tomar por querer aqui ter serviços, não se percebe.
Ainda por cima as explicações de tudo o que anda a fazer este governo não são claras. É tudo culpa do anterior e só se corta no que a população tem (atendimento e ordenados). Ainda ontem Mira Amaral disse não perceber porque não se negoceiam as PPP com os marajás do regime (Catroga, Mexia, Mello, Esp. Santo, Amorim, Ascendi, Brisa,etc).

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

O senhor Tomar Tótó dá uma resposta quase perfeita.

Perfeita, perfeita foi a burla conseguida pela camarilha no poder. Perfeito descaramento é o dos que a querem esconder.