Anabela Freitas, líder do PS local, disse na passada sexta-feira, no habitual programa da Rádio Hertz, que "Carlos Carrão renunciou ao hospital". Entendi a frase como significando que o presidente interino já está por tudo, no que se refere ao hospital. A ser assim, a dirigente socialista acertou em cheio. Creio igualmente que Carrão já está por tudo, não só em relação ao hospital, mas a todos os outros problemas do concelho. Isto porque, se a realidade é mesmo como a vejo, o agora presidente em exercício foi até muito recentemente um excelente vereador. Do tipo popularucho, modelo "Preço Certo/Fernando Mendes". O que significa comezainas/tintol, passeatas, bailaricos, subsídios, inaugurações, palmadas nas costas e por aí. Tudo à custa dos cofres municipais, que é como quem diz dos contribuintes.
Sucede que, infelizmente para ele e para todos nós, essa fase eufórica, dita das vacas gordas, finou-se e não vai ressuscitar. Sem dinheiro, sem projectos, sem ideias, sem rumo, sem mentalidade adequada e sem densidade cultural, qualquer autarca com bom senso já teria solicitado eleições intercalares e calçado os patins logo a seguir. Acontece todavia que estamos em Tomar, terra de gente obstinada até à medula. De eleitores que sistematicamente se revelam alérgicos à mudança. De cidadãos impermeáveis à dinâmica societal. Produto exclusivo de tal quadro, o agora presidente da edilidade tudo procurará fazer para durar até às autárquicas do ano que vem. Às quais tenciona candidatar-se como líder da lista laranja, justamente com esse argumento-marreta: "Eu não abandonei o barco em plena tempestade!"
Percebe-se a manobra. Falta porém apurar antes três coisas. Em primeiro lugar, nada indica que seja inevitável a aceitação pelo PSD de Carrão como cabeça de lista. Se o não quiseram em 2009, vão escolhê-lo agora, em plena crise que ele não entende sequer? Em segundo lugar, está longe de ser um dado adquirido que um "comandante" em frangalhos consiga ganhar o que quer que seja. Em terceiro lugar, quando assentar esta poeira hospitalar -o que não tardará- os problemas já aqui mencionados por diversas vezes continuarão a aguardar soluções adequadas e rápidas. O que implica o voto favorável de pelo menos uma das duas formações oposicionistas. Posto que nem ipetistas nem socialistas se mostraram até agora disponíveis para dar o braço a torcer, e ainda menos para se comprometerem pelo voto com uma maioria relativa, claramente a nadar na dramática realidade local, que saída ou saídas vai conseguir Carrão?
Tal como no mundo do espectáculo, na política é muito importante saber discernir quando está na hora de abandonar a ribalta. Desgraçadamente, amarrados às suas obstinações respectivas, os integrantes da maioria relativa e alguns outros membros do executivo, não querem aceitar que a sua meia hora de glória já foi. Nestas condições, podendo sair agora pelo seu pé, acabarão mais tarde por ser arrastados pelos acontecimentos. Sabe-se lá em que estado psíquico. E com graves prejuízos para o concelho, que é realmente o que me preocupa...
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