domingo, 29 de janeiro de 2012

O ESTILO OURIÇO


Bastante curiosa esta petição, subscrita por todas as forças políticas com assento no parlamento nabantino, e cuja primeira signatária é do PSD. Começa por se declarar "Pela suspensão imediata do processo de reorganização do CHMT". Logo abaixo, omite a transferência  da valência de Ortopedia para Abrantes. Finalmente limita-se a exigir que a urgência passe a "ser classificada de SUMC". Afinal em que ficamos? Suspensão imediata? Reclassificação da urgência? 
Como documento a enviar para a A.R., já vi melhor, mais claro e mais coerente.

O documento acima reproduzido e o distintíssimo texto do cidadão Virgílio Lopes (que pode ser lido nos comentários ao post anterior), fornecem um excelente pretexto para estender o guardanapo. Procurarei ser o mais sintético possível.
Fui a quase todas as manifestações soi-disant pró-hospital, só falhei aquela da manhã, frente à porta do mesmo. Em todas, procurei informar-me sobre os fundamentos da contestação, que começou com o surgimento na cidade de "avisos necrológicos", não identificados, porém demasiado perfeitos e oportunos para  obra de espontâneos. Em qualquer caso, até agora está por saber-se quem convocou as manifestações, sendo contudo conhecidos os oradores espontâneos e os do costume.
Apesar da pluralidade de concentrações, quatro se não erro, apenas são conhecidas a reivindicações, afinal condensadas numa só: "suspensão imediata do processo de reforma". Acessoriamente sabe-se também que tal suspensão seria para melhor debater o problema. Mas quanto a fundamentação, alternativas, outras propostas, até agora zero.
Chegou-se até a uma situação assaz insólita: os que exigem que a administração do CHMT fundamente as suas decisões, não justificam minimamente as suas. Tal como ainda não apresentaram documento algum para demonstrar que vai haver privatização ou venda dos hospitais de Tomar e Torres Novas. Ou que indique que algum andar de alguma das unidades vai ser entregue a privados. Ou que o Hospital de Tomar está a ser tratado injustamente. Sobre tudo isto, até agora tem sido só blábláblá.
Nestas condições, é evidente que se procura fomentar a clandestinidade, o boato, a calúnia, a suspeita, o processo de intenções, a chicana política, tudo coisas aceitáveis em regimes ditatoriais, mas que a Tomar chegam atrasadas quase quarenta anos. Mesmo a transitória união política local, mais parece produto de algum cabotinismo e de óbvia manipulação política, do que da honesta defesa dos interesses do concelho. Num regime livre, aberto, tolerante e com um governo legítimo, não há razão alguma para acções clandestinas. A não ser que os reais objectivos possam não ser assim tão transparentes.
A palavra de ordem "Pela suspensão imediata do processo", que sem dúvida por mero acaso se ouviu logo no início da primeira manifestação, continua a carecer de justificação cabal, como já vimos acima, mais tem afinal filiação bem conhecida, na Itália e sobretudo na Grécia. Neste país, o governo do PASOK tem usado e abusado de palavras como suspensão, adiamento, debate, fundamentação, alterações, incapacidade, inadequação à realidade grega, e outras que tais. Tudo para protelar as medidas exigidas pela troika. De tal forma que, passados dois anos do primeiro resgate, o país mantém-se à beira do precipício, vulgo bancarrota. Segundo Bruxelas, porque as medidas propostas não foram implementadas. 
Neste momento, enquanto em Itália já não há adiamentos nem suspensões, nem debates, nem desculpas de mau pagador, (como na época Berlusconi),  mas um governo de tecnocratas, liderado por Mário Monti, um ex-funcionário da UE, na Grécia a situação é angustiante para todos. De um lado, o desacreditado governo grego, a precisar de mais auxílio externo como de ar para respirar. Do outro, a troika, o FMI e a UE, com exigências cada vez mais gravosas. Agora, para desbloquear um novo e vultuoso resgate externo, exigem: A - Acordo prévio com os credores, que permita reduzir a dívida pública actual em pelo menos 60%; B - Transferência para o Parlamento Europeu e para a Comissão Europeia da soberania grega no que concerne às finanças; C - Despedimento de 150 mil funcionários públicos em 2012, 2013 e 2014 (Há dois anos apenas propunham 50 mil despedimentos no Estado. Mas com as sucessivas suspensões...).
É isto que se pretende para Portugal e para Tomar? Ainda fará algum sentido, mais de 30 anos após o 25 de Abril, a política do "quanto pior, melhor"? "Os ricos que paguem a crise"? E se não houver ricos que cheguem?
Posso estar redondamente enganado, equivocado ou a ver mal as coisas. Mas então façam-me um grande favor: Abram-me os olhos, mostrem-me a verdade. Mas com documentos fiáveis, que de conversa estou farto. De boas intenções está o inferno pavimentado.
Para concluir, quem leu até aqui, continua sem saber qual a relação com o título. Pois trata-se de uma categoria de cidadãos em vias de extinção na Europa do Norte, mais ainda abundantes em Portugal e sobretudo em Tomar. Quando a situação deixa de lhes agradar, ou os interlocutores não se deixam ludibriar, o cidadão-ouriço faz como o animal homónimo -enrola-se e começa a picar por todos os lados. É o caso do distinto cidadão Virgílio Lopes. Com o devido respeito.  

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