Jornal i, 07/01/12, página 6
A recente entrevista do ministro Miguel Relvas ao semanário O MIRANTE, de 05/01/12, já começa a provocar reacções, mesmo nos meios geralmente mais pacatos, como Tomar. Basta reparar nos sete comentários ao post anterior. Nos do vereador Luis Ferreira e neste do dirigente e industrial hoteleiro algarvio Elidério Viegas é patente a opção favorável à extinção das Entidades Regionais de Turismo e à futura gestão do sector promocional pelos privados.
Salvo equívoco da minha parte, o hoteleiro algarvio parece defender que "devem ser os privados a gerir o turismo", tendo em mente as usuais verbas governamentais e a convicção de que o turismo é sobretudo a hotelaria, o que não corresponde à realidade. Se assim não fosse, não se compreenderia a necessidade de acabar com as ERT, como condição para que os privados possam gerir o turismo, coisa que em boa verdade os órgãos a extinguir nunca fizeram ou tentaram sequer fazer com um mínimo de eficácia. Terão servido para muita coisa. Para isso não.
Muito mais claro é Luis Ferreira, no seu primeiro comentário ao post anterior, indo até ao detalhe de quantificar de forma aproximada o investimento público anual a fazer para os eventos-âncora, numa clara demonstração de que terá andado a ler bastante na área da mercadologia, vulgo marketing, atitude que naturalmente cumpre louvar. Quanto à sua prestação enquanto vereador do turismo, aceita-se que tenha orgulho nela, pois representou uma nítida melhoria. Contudo, nada de exageros, uma vez que o modelo adoptado era, por razões óbvias, aceitável quanto baste, mas apenas para a fase anterior ao factor NHD.
O grande problema, parece-me, reside no facto de tanto o hoteleiro algarvio como o vereador tomarense estarem implicitamente a contar com o ovo no cu da galinha, ou seja com fundos públicos para a promoção e realização de eventos susceptíveis de atrair espectadores-visitantes. A ser assim, estarão ambos atrasados na frenética evolução societal a que estamos todos a ser submetidos. Não parece terem tido em conta nos seus raciocínios respectivos a existência do novo e incontornável factor NHD.
Como bem sabem todos os que andam nestas coisas da política há muitos anos, neste país a grande habilidade sempre foi a de seguir a receita de Lampedusa: mudar qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma. Infelizmente para os tarimbeiros e talvez felizmente para Portugal, desta vez tal não é possível. Terá mesmo de haver mudanças substantivas, susceptíveis de evitar que tudo possa continuar na mesma, basicamente devido ao já referido factor NHD.
Quer isto dizer que doravante a preocupação central terá ser a criação de riqueza, consubstanciada em retorno rápido, em vez da tradicional prática de atirar verbas para cima dos problemas, como forma de os tentar resolver. O que implica tomar consciência de que, por agora e na área do turismo, a iniciativa privada só tem condições para liderar o processo e dar conta do recado em Lisboa, Porto, Algarve, Fátima e pouco mais. Nos restantes casos, mormente em Tomar, o sector do turismo é ainda tão incipiente que seria contraproducente arrastá-lo para mais uma aventura, de consequências imprevisíveis. De resto, cabe recordar que os privados sempre estiveram bem representados nas ex-Comissões Regionais de Turismo, não constando que tenham desenvolvido um grande trabalho, salvo raras e honrosas excepções.
Pelo seu peso populacional, político, económico e turístico, cada cidade portuguesa além das regiões supracitadas é um caso particular, a exigir tratamento individualizado, tendo em conta os seus recursos, sob pena de vir a ser pior a emenda que o soneto. Tanto mais que a tradicional falta de humildade e de realismo leva muitos autarcas a garantirem que o seu município tem um património extraordinário, susceptível de dinamizar toda uma região, mas depois vai-se a ver...presunção e água benta, cada um toma a que quer.
Se me chamasse Miguel Relvas, começaria por dizer aos profissionais das principais cidades do país "Organizem-se e proponham-me modelos, num prazo de..." Aos das cidades mais modestas, mas com recursos, como por exemplo Alcobaça, Batalha, Ourém, Évora e Tomar, proporia um modelo de empresa mista polivalente, em regime experimental, durante dois anos completos. Só depois extinguiria as ERT das principais cidades, numa primeira fase; as restantes na fase seguinte, após a conclusão do período experimental. A não ser assim e tendo em conta o factor NHD, não estou a ver que se possam alcançar resultados de nível europeu. Num mundo em que a crise passou a ser o estado normal, sem empenhamento, profissionalismo, qualidade e fiabilidade, não se vai a lado algum.
Aqui chegado, o leitor estará intrigado com o factor NHD. Pois não tem nada de misterioso, uma vez que se trata mesmo do refrão preferido do ministro Gaspar: NÃO HÁ DINHEIRO! E sendo assim...a necessidade terá de criar o engenho.
Muito mais claro é Luis Ferreira, no seu primeiro comentário ao post anterior, indo até ao detalhe de quantificar de forma aproximada o investimento público anual a fazer para os eventos-âncora, numa clara demonstração de que terá andado a ler bastante na área da mercadologia, vulgo marketing, atitude que naturalmente cumpre louvar. Quanto à sua prestação enquanto vereador do turismo, aceita-se que tenha orgulho nela, pois representou uma nítida melhoria. Contudo, nada de exageros, uma vez que o modelo adoptado era, por razões óbvias, aceitável quanto baste, mas apenas para a fase anterior ao factor NHD.
O grande problema, parece-me, reside no facto de tanto o hoteleiro algarvio como o vereador tomarense estarem implicitamente a contar com o ovo no cu da galinha, ou seja com fundos públicos para a promoção e realização de eventos susceptíveis de atrair espectadores-visitantes. A ser assim, estarão ambos atrasados na frenética evolução societal a que estamos todos a ser submetidos. Não parece terem tido em conta nos seus raciocínios respectivos a existência do novo e incontornável factor NHD.
Como bem sabem todos os que andam nestas coisas da política há muitos anos, neste país a grande habilidade sempre foi a de seguir a receita de Lampedusa: mudar qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma. Infelizmente para os tarimbeiros e talvez felizmente para Portugal, desta vez tal não é possível. Terá mesmo de haver mudanças substantivas, susceptíveis de evitar que tudo possa continuar na mesma, basicamente devido ao já referido factor NHD.
Quer isto dizer que doravante a preocupação central terá ser a criação de riqueza, consubstanciada em retorno rápido, em vez da tradicional prática de atirar verbas para cima dos problemas, como forma de os tentar resolver. O que implica tomar consciência de que, por agora e na área do turismo, a iniciativa privada só tem condições para liderar o processo e dar conta do recado em Lisboa, Porto, Algarve, Fátima e pouco mais. Nos restantes casos, mormente em Tomar, o sector do turismo é ainda tão incipiente que seria contraproducente arrastá-lo para mais uma aventura, de consequências imprevisíveis. De resto, cabe recordar que os privados sempre estiveram bem representados nas ex-Comissões Regionais de Turismo, não constando que tenham desenvolvido um grande trabalho, salvo raras e honrosas excepções.
Pelo seu peso populacional, político, económico e turístico, cada cidade portuguesa além das regiões supracitadas é um caso particular, a exigir tratamento individualizado, tendo em conta os seus recursos, sob pena de vir a ser pior a emenda que o soneto. Tanto mais que a tradicional falta de humildade e de realismo leva muitos autarcas a garantirem que o seu município tem um património extraordinário, susceptível de dinamizar toda uma região, mas depois vai-se a ver...presunção e água benta, cada um toma a que quer.
Se me chamasse Miguel Relvas, começaria por dizer aos profissionais das principais cidades do país "Organizem-se e proponham-me modelos, num prazo de..." Aos das cidades mais modestas, mas com recursos, como por exemplo Alcobaça, Batalha, Ourém, Évora e Tomar, proporia um modelo de empresa mista polivalente, em regime experimental, durante dois anos completos. Só depois extinguiria as ERT das principais cidades, numa primeira fase; as restantes na fase seguinte, após a conclusão do período experimental. A não ser assim e tendo em conta o factor NHD, não estou a ver que se possam alcançar resultados de nível europeu. Num mundo em que a crise passou a ser o estado normal, sem empenhamento, profissionalismo, qualidade e fiabilidade, não se vai a lado algum.
Aqui chegado, o leitor estará intrigado com o factor NHD. Pois não tem nada de misterioso, uma vez que se trata mesmo do refrão preferido do ministro Gaspar: NÃO HÁ DINHEIRO! E sendo assim...a necessidade terá de criar o engenho.
2 comentários:
Sem mais delongas, prof.Rebelo, percebendo a sua analise, permita-me acrescentar que no caso de Tomar, os valores que avanço baseiam-se na minha experiência de gestão do sector, de âmbito Municipal, como é sabido.
Quanto aos retornos rápidos no sector do turismo conheço alguns, mas que compreenderá não defendo para Tomar. Eles rodam à volta da droga e da prostituição, que entendo não serem especialidades turísticas onde Tomar deva apostar. Temos a marca Templária, temos as festas do espirito santo (de Tomar e Carregueiros), temos a Sinagoga, temos espaços de qualificação ambiental única, temos muitos outros eventos (sopa, lego, bons sons, tomarinbando, teatro, encontros desportivos, de bandas e de folclore), restauração com alguma diversidade, campings, hotelaria de diversas graduações e ahhh.. O património mundial da UNESCO, que só dá despesa a Tomar e receitas nicles...
Por tudo isso a sua sigla NHD não é limitação. O que é limitação é o NHPPTN - não há pachorra para tanta nabice...
Meu caro conterrâneo:
Espero que não tenhas pensado que tentei insinuar actividades menos respeitáveis ao usar a expressão "retornos rápidos". A brincadeira que por aí circula, sobre um eventual "Curral das Freiras 2" (O 1 é na Madeira, como se sabe) no ex-convento de Santa Iria, não passa disso mesmo:uma brincadeira inofensiva.
Quanto à falta de pachorra para tanta nabice, conviria arranjar outro termo, pois nabos somos nós, os nados e criados na antiga e mítica Nabância, agora pesarosos com o que alguns estão a fazer a Tomar. E quanto mais tempo, mais tragédia...
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