sábado, 1 de outubro de 2011

Um futuro nada agradável

Escrevi no post anterior ser muito provável que  -mesmo sem querer- quase todos os que ontem votaram contra a moção a favor do alambor tenham afinal assinado a sua própria certidão de óbito político, a partir das autárquicas de 2013. Acrescentei que a nova realidade não perdoa aselhices políticas. Trata-se agora de fundamentar tais afirmações.
Quanto à nova realidade, bastará sublinhar que somos agora praticamente governados pelos representantes da troika, que põem e dispõem. E que não tardarão a fazer como na Grécia. Usarão em simultâneo o cajado e a cenoura, do tipo "Estão a trabalhar muito bem, mas têm de fazer mais isto e mais aquilo..."
Neste quadro de autonomia política muito limitada, as perspectivas para 2013 não são mesmo nada animadoras para os actuais beneficiários da política local. No que concerne a Tomar, com ou sem redução de municípios, teremos, na melhor das hipóteses, menos 8 freguesias e menos 2 vereadores. Além disso, cereja em cima do bolo, passará a haver uma única lista para a autarquia, dela saindo depois os membros do executivo, escolhidos pelo cabeça de lista mais votado. O que significa a adopção entre nós do princípio anglo-saxónico "o vencedor leva tudo".
A partir de tais premissas, fácil se torna enumerar os enterros políticos que em Outubro de 2013 vão ocorrer.
Desde logo, oito presidentes de junta e outras tantas assembleias de freguesia, no mínimo, terão de procurar novos lugares, caso pretendam continuar na política. O que implica também que a Assembleia Municipal venha a perder metade dos seus deputados. Uma vez que haverá só oito presidentes de junta, e a lei diz que o número de vogais eleitos deverá ser igual ao dos presidentes de junta mais um, salvo qualquer mudança ainda a ocorrer, teremos a partir de Janeiro de 2014, uma AM de 17 membros, em vez dos 35 actuais. É muita gente pró galheiro!
Tendo em conta que, pela primeira vez, a eleição será de lista única, para a Assembleia Municipal, em Tomar não faltarão problemas. Deixando para melhor ocasião aquelas formações praticamente sem qualquer hipótese de vitória, a julgar pelos antecedentes (BE, CDS, CDU), restam outros tantos putativos vencedores.
Comecemos pelos que actualmente e há mais de dez anos ocupam o poder tomarense. Fazendo parte da cúpula governamental, tudo indica que, por sentimentalismo, Miguel Relvas queira continuar como presidente da Assembleia Municipal nabantina, em nome de uma certa ideia de fidelidade às suas raízes políticas. É humano e, como dizia por vezes certo tomarense típico, "Um homem não é de pau". Não havendo lista para o executivo, terá de ir em segundo no único boletim de voto, para evitar ter de ocupar a presidência da câmara, caso a sua lista vença. Alguém está vê-lo em segundo lugar, numa lista encabeçada por Rosário Simões? Ou por Carlos Carrão? E serão estes candidatos potenciais ganhadores, sabendo os eleitores antecipadamente que, se Relvas lá estiver, será só para praticamente para ornamentar? Com que programa? "O meu programa são as obras"? "Tomar não pode parar"? "No rumo certo"? E o dinheiro para isso? E os cadáveres entretanto deixados pelo caminho (Convento de Santa Iria, Parque de Campismo, Ciganos, Paredão do Flecheiro, Elefante Branco da Levada, Bronca do alambor templário, passivo superior a 80 milhões de euros)? Fala-se, é certo, da eventual candidatura do padre Mário. Basta porém ter em conta a recente afirmação do cardeal Policarpo, segundo a qual "Ninguém sai da política com as mãos limpas", para concluir que se trata de uma reles brincadeira. Uma daquelas piadas tomarenses de mau gosto, dizem fontes geralmente bem documentadas.
Vêm a seguir os socialistas. Atados de pés e mãos durante todo o mandato, (conforme aqui assinalei desde  o início), por uma coligação alimentar ou ganha-pão, serão responsabilizados por todos os cadáveres do PSD, apesar das suas repetidas tomadas de posição, que soam falso.
Também visivelmente sem qualquer programa, apesar das sucessivas proclamações sustentando o inverso, que lista apresentarão? José Victorino outra vez, apesar da sua precária saúde? Anabela Freitas, cuja ligação pessoal a Luís Ferreira a torna alvo predilecto dos IpT? Hugo Cristóvão, o menos comprometido com a lamentável coligação, com a qual nunca concordou? Algum deles poderá vencer, nas circunstâncias particularmente difíceis da campanha eleitoral? Com que argumentos? Com que caras não comprometidas com a coligação e as suas patetices?
E os Independentes? Após duas campanhas, em que, mesmo perante candidatos com menor currículo político, um ex-presidente da câmara não conseguiu recuperar os votos que antes o levaram ao poder, vão insistir terceira vez no mesmo candidato? Como vão justificar a evidente colagem ao PSD, durante todo este mandato, conforme testemunham sucessivas declarações de voto, em contradição com as decisões contando com o apoio dos IpT? Escolherão Graça Costa? Ou Jorge Neves? Ou João Simões? Ou o homem da Junceira? E o tal programazito consistente, sem o qual nada feito na nova realidade? E a inevitável divisão de votos com o PS? Haverá finalmente conversações, seguidas de acordo pré-eleitoral? Com que bases?
Como se pode ver, se a presente situação tomarense não tem nada para agradar, o futuro também não promete dias melhores. A não ser que os tomarenses resolvessem finalmente acordar e começar a trabalhar em prol da sua cidade. Mas isso equivale a pedir que os sinos de S. João toquem tão bem como os carrilhões de Mafra. Mas cada um é para o que nasce e eu nunca vi nenhum choupo a dar pêssegos. Dão é bastante algodão, irritante para as pessoas. E vão ornamentando a cidade...

2 comentários:

Luis Ferreira disse...

Estimado Prof. Rebelo

Considero o seu título muito bem escolhido: "Um futuro nada agradável".

Concordo.
Responsáveis? Quem desde os finais de 1997 lidera a maioria das autarquias de Tomar. O "afundanço" de Tomar tem a cara do PSD, a estratégia do PSD e a inação do PSD.

Todos os problemas de Tomar estão na estratégia seguida, na ausência de rasgo, de inovação, de respeito por quem dentro da autarquia trabalhada e não faz na inactividadee da escovice o seu dia a sia, no fundo a esmagadora maioria dos funcionários.

Quem inventou os negócios da ParqueT? Quem deixou destruir o Mercado e não quer prover à construção de um novo? Quem coopera para que as casas devolutas e emruínas continuem devolutas e em ruínas? Quem não entende que uma terra que quer fazer do turismo a sua estratégia de desenvolvimento, não pode ter mais Coventos de Santa Iria, nem ruas sujas e mal cuidadas, mais ruas encerradas ao trânsito e com esplanadas, restaurantes, cafés e bares...

Quem?
Vai responder que é o PS, que naquilo que lhe tem estado cometido tem trabalhado bem, com determinação e fazendo uma gestão estratégica, preparando os sectores para os novos desafios: boa e eficaz gestão pública, por um lado, e valorização dos mais empenhados no serviço publico, por outro.

Pois... O PS é o suspeito mais fácil sempre. Mas querer que quem durante doze anos foi dizendo que o Rei ía nú e hoje, como pouco mais de 20% dos votos partilha a gestão e nas suas áreas faz a diferença é responsável, pode ser fácil, mas não tem a adesão da realidade, nem passa o teste da verdade.

Em 2013, independentememte dos candidatos e da forma das candidaturas, o PS estará mais preparado do que nunca para liderar a autarquia nabantina. e Tomar vai ganhar muito com isso, como tem ganho pelo facto dos dois vereadores não desistirem de fazer as coisas de forma diferente e mais correcta. O mais fácil para eles teria sido desistir.

Felizmente que nem eu, nem o Vitorino somos pessoas para isso, e por muito que custe a alguns, são cada vez mais os cidadãos que o reconhecem...

Unknown disse...

Obrigado pelo teu comentário, que tem o mérito da frontalidade. Não mandas dizer -dizes. E fazes muito bem. Do meu ponto de vista, mas como sabes sou bastante má-língua, dizem os teus sócios transitórios, há nesta tua escrita como que um ar socratiano, um enfeitar da realidade, que aparece assim bastante diferente daquilo que eu vejo e oiço por aí.
E depois aquele voto de ontem, contra o alambor, parece-me que não prestigia ninguém. Ou estarei enganado?
Por falar em alambor, não me poderás enviar cópia da vossa declaração de voto sobre o assunto?

Cordialmente,

António Rebelo