É isso mesmo. Aqui em Tomar estamos empacados. Ou antes, estamos como estamos porque a gerência municipal empacou. Parou a meio do acto que devia praticar em contínuo -governar. Mal ou bem, mas governar. Que é justamente o que deixou de ser feito. Devido a evidente falta de habilidade, mas sobretudo por comodidade.
Até o malvado Sócrates governou mal, mas fê-lo até ao fim. Estava noutra realidade. Recandidatou-se e perdeu. Mas pelo menos foi fazendo. Mal, mas foi fazendo até ao fim.
O actual governo vai agindo ao arrepio da tradição nacional-porreirista. Vai cortando e sacando, com coragem e determinação. Como era de esperar, a opinião pública e as centrais sindicais não lhe perdoam. Em nome das conquistas de Abril, vamos ter mais uma greve geral, enquanto que, não por mero acaso, se procura destabilizar o ministro da economia, um estrangeirado como se sabe. Suspeito portanto de pretender implementar em Portugal essa horrenda prática anglo-saxónica dos despedimentos. O que desde o início resolveu fazer a Irlanda. Despediu 30 mil funcionários, o que em % da sua população, corresponderia em Portugal a 100 mil empregos públicos a menos. Apesar de o problema deles não ser a dívida pública, mas os bancos. Ao contrário do que acontece connosco e com a Grécia. Mas quê! Nesta ocidental praia lusitana, quando se invocam as conquistas de Abril, não é das liberdades fundamentais que se fala. Sem essas o povinho passaria muito bem. Liberdade de imprensa? Direito de reunião? Direito à informação? Ora adeus! Trata-se, isso sím, dos empregos, dos convénios laborais, dos direitos sindicais e por aí fora. Exactamente aquilo que o actual modo de produção deixou de poder suportar, banidos que foram os factores que o sustentavam: matérias-primas baratas, abundância de mão de obra barata, superioridade tecnológica, mercados cativos... Começam a dobrar os sinos pelo modelo social europeu, que foi excelente enquanto durou.
Poucos terão notado que até Carvalho da Silva, desta vez assaz cauteloso, embora apelando à greve geral e apoiando a semana de luta decidida pelo PCP, partido onde milita, julgou necessário referir que em Portugal não há uma tradição de manifestações tumultuosas. Hábil modo de moderar ânimos, tranquilizando ao mesmo tempo governantes, autoridades e eventuais manifestantes mais temerosos. Porque já intuiu o que aí vem...
Nos jornais, na TV, na rádio e nos cafés, é praticamente unânime o clamor. O orçamento para o próximo ano constitui um autêntico remédio cavalar. Daqueles que permitem aos doentes que os tomam morrer curados. O grande problema porém, é que, falando embora de alternativas, ainda ninguém enunciou nada de jeito. Esbarram todos numa barreira intransponível até agora: deixou de haver quem pague e os que ainda financiam exigem juros incomportáveis.
Enquanto isto, os autarcas nabantinos do executivo descobriram a pólvora. Séculos após os chineses, mas descobriram-na -empacaram. Não atam nem desatam. Limitam-se praticamente a assinar expediente -entre o qual os vencimentos e outras regalias. Frequentam eventos, almoços e jantares à conta, usam muito os telemóveis, fazem as reuniões obrigatórias, durante as quais vão debitando umas larachas, e pronto. Os assuntos importantes, aqueles que implicam optar, agradar a uns e desagradar a outros; ir desenhando o futuro; esses ficam para a próxima gerência. A arte brasileira do que faz que anda, mas não anda. Por aqui dizemos "marcar passo".
E a pretensa oposição, nicles! Apesar de ir garantindo o contrário. Ao que parece, até já têm uma alternativa. Revolucionária, ainda por cima, no caso dos socialistas (ver comentário de Luís Ferreira no post anterior). É preciso ter lata!
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