quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma visita guiada ao Castelo dos Templários



No texto "Especialistas em realidade virtual", de 10 do corrente, publicou-se uma planta pouco conhecida do conjunto monumental Castelo dos Templários/Convento de Cristo. Feita por fotomontagem a partir de gravuras de Lacerda Machado e Vieira Guimarães, como nela se indica, acrescentou-se a vermelho o traçado conjectural do alambor templário, bem como os troços do horrivel muro de betão já edificados.
Estudiosos admiradores dos templários e da sua casa-mãe em Portugal -com Dedragonis- pareceram algo surpreendidos e solicitaram esclarecimentos adicionais, uma vez que não residem em Tomar e a vida está difícil para todos. Aleguei que é difícil explicar o intrincado problema do traçado primitivo da muralha templária, salvo nos respectivos locais. Continuei contudo a meditar no problema e eis ao que cheguei.
Aqui temos duas vistas panorâmicas do conjunto Castelo/Convento. A primeira, já conhecida, é uma planta feita com documentos dos anos trinta do século passado. Por deficiência de edição, está "ao contrário" em relação à norma convencional -o Norte é para baixo, quando é geralmente representado para cima em qualquer desenho geográfico, como é o caso. Por causa das legendas, não é funcional invertê-la. A outra vista é uma fotografia de satélite da Googlemaps. Para maior facilidade de consulta comparativa, foi também representada com o norte para baixo.
A planta topográfica representa todo o conjunto. Por razões práticas, o fotografia de satélite foi cortada entre  13/14/15 e 11/11 (ver os números na planta). E vamos ao esclarecimento do hipotético mas muito provável traçado da primitiva muralha templária.
Olhando para as ruínas da inacabada sala do capítulo (nº 10, na planta), verífica-se que o desenho tem um erro grave. Na realidade, como bem se vê na foto, a fachada poente (lado direito do observador)das ditas ruínas não está encostada ao lado nascente (à esquerda) do Claustro Principal (nº 15). Detalhe importante, pois o alicerce da referida construção nunca acabada é justamento um troço do primitivo alambor templário, de resto bem visível a partir dos varandins a sul do Claustro Principal.
Daí a muralha vinha até à Charola (nº 4, na planta) pelo espaço onde está agora o terreiro da entrada (nº 9, na planta). Olhando com atenção para o exterior sul do oratório templário -que servia de templo, casa do capítulo, torre de defesa e torre de vigia- vê-se perfeitamente onde houve muralha, entretanto apeada: na zona onde os blocos de pedra da parede não foram aparelhados. Segue-se o adarve por cima do primitivo portal, mais tarde transformado em janelão -entre a actual torre sineira e a Capela de S. Jorge (por onde agora entram os visitantes). 
Temos depois o Claustro do Cemitério (nº 7 na planta), cujo lado poente foi construído encostado à muralha templária, tal como sucedeu com os Paços do Infante, a nascente (nº 1 e nº 5). A chamada Portaria Filipina (nº 21), já do século XVII, confirma isso mesmo, com a íngreme escadaria a galgar o antigo alambor, entre o nível do Vale de S. Martinho, onde estão  os Claustros da Hospedaria (nº 13), de Santa Bárbara (nº 14) e Principal (15).
Copiado do blogue cavaleiros guardiões de Santa Maria dos Olivais

Por conseguinte, a Enfermaria Conventual (nº 23), de finais do século XVII, tem a sua fachada norte em cima do que resta da demolida muralha templária, ocupando a Sala dos Cavaleiros (nº 22) o local da torre templária gémea da agora chamada de D. Catarina, na extremidade oposta da fortaleza (nº 27), visivel na aguarela de 1629, de Pier Maria Baldi, em Viagem de Cosme de Médici a Espanha e Portugal (círculo vermelho).
Não se trata neste caso de mera conjectura, mas de descrição da realidade observada no local. No século passado, os responsáveis pelo então Hospital Militar Regional 3, mandaram escavar o falso primeiro andar da citada enfermaria conventual e encontram as bases da antiga muralha, que ainda hoje podem ser visitadas, mediante acompanhamento de quem saiba.
Concluindo: A parte do alambor que agora foi involuntariamente posta a descoberto, para grande contrariedade dos senhores autarcas e gente do IGESPAR é apenas o sector inferior do antigo alambor, desmontado aquando das obras da enfermaria, que se prolonga até algures à esquerda do Portal Filipino (nº 21).
Esta terra não é para curiosos e oportunistas encartados, mas para quem tenha já percorrido as 7 partidas do mundo e justifique de  pelo menos 50 anos de tarimba e de estudo da realidade local. Não é por se participar nuns pomposos eventos da treta, ou se ter uns papéis universitários obtidos em saldo que se passa a especialista encartado do Castelo dos Templários e do Convento de Cristo. Essa é que é essa!

7 comentários:

FUNICULIN disse...

Muita das vezes para se perceber algo é necessário ter um bom currículo de vida no local. Não são somente as habilitações académicas o suficiente para se compreender a realidade nesse mesmo local.

Quanto ao Sr. Secretário de Estado da Cultura faltará uma formação em estudos da humanidade porque somente em estudos portugueses esses não chegam, além de uma forte dose de humildade para poder ouvir quem sabe.

Sobre a dita "patroa" daquele monumento já aqui foi dito o seguinte.

Mas que bosta deixou essa técnica superior da carreira técnica superior do IGESPAR,I.P. em Sagres? Quem quiser ter a resposta é somente perguntarem ao Município de Vila do Bispo. Ou então poderão perguntar em Campo Maior pelo estudo efectuado da sequência estratigráfica e artefactual do povoado calcolítico de Santa Vitória.
Tem de facto tudo a ver com o Convento de Cristo além das vastas(!) publicações onde nenhuma tem nada comum com as terras de Tomar.
Não admira que o regime de substituição dessa directora tenha sido despachado também por uma directora de departamento de gestão em substituição.

RUI GONÇALVES disse...

Olá. Sempre fez um post. Estou contente. Leio logo com a atenção merecida... abraços.

Nuno Alvares disse...

Boa tarde.

Tenho sido um assíduo leitor deste blog mais por força do que se está a passar com o caso do alambor do castelo Templário de Tomar.
Tenho sido um mero espectador, como disse, mas acho que chegou a altura de dizer algo.
Sobre o caso do alambor, poucos são os que dão a cara para a sua defesa. Muitos são os que assistem de sofá à espera ora que as coisas corram mal para os que cometeram tão estúpido atentado ao patromónio tomarense ora à espera que os que dão a cara na sua defesa se espalhem ao comprido e batam com a respectivas caras no referido alambor; o mesmo será dizer: que os primeiros "façam a folha" aos segundos aproveitando-se da sua vantagem autoritária. Para gáudio dos outros...
Mas piores do que os primeiros, existem ainda uns terceiros, esses sim verdadeiramente perigosos. Refiro-me às conhecidas "toupeiras". Os que fazem o jogo dos primeiros para rasteirar os segundos.
Não perceberam? Não faz mal, irão perceber. Eles até não disfarçam nada.

Bem a propósito, o anterior comentário diz tudo (vindo de onde vem, carregado de cinismo e falta de educação), ora leiam novamente:

"Olá. Sempre fez um post. Estou contente. Leio logo com a atenção merecida... abraços."

Então o autor deste blog "sempre fez um post"? (especialmente só para si!) Que arrogância senhor Degraconis! O que tem o senhor feito pela defesa do alambor para merecer um post neste blog? Ou em qualquer outro? Ou o seu grupo de guardiões que se remeteram ao silêncio e que afinal não guardam nada? Nem sequer denunciam a situação ou reagem colocando-se ao lado dos que lutam pela defesa do nosso património. Do que é que têm medo?

"Leio logo com a atenção merecida..." (!!!!!!!!)

Então alguém lhe dedica um post a explicar a situação, na sequência de uma questão sua, e "logo lê com a atenção merecida"? Quando? Quando lhe der jeito?
Que falta de consideração e de educação!

Respondi-lhe eu aqui, não que o autor do blog precise que alguém responda por ele mas porque sei que o mesmo terá a polidêz de não lhe responder mal. Por educação.
Por mim retirava pura e simplesmente o seu comentariozinho...

Anónimo disse...

A vida custa....

A melhor visita que fiz ao Castelo/Convento de Tomar (para mim inesquecível), teve como guias Nuno Villamariz Oliveira (autor do livro "Castelos Templários em Portugal" que tenho vindo a ler aos bochechos) e a actual diretora do convento, organizada pela delegação de turismo de Tomar.

(Diz o autor que no local da controvérsia do alambor, por aí fora..., por aí fora... há um "Alambor Conjeturável", o que bastaria para evitar a destruição feita. Mas isto é um àparte).

Os dois, durante mais de duas horas, em todos os espaços percorridos, deram brilhante lição sobre o Castelo e a sua história, com momentos de vivo debate entre eles. Visitámos até escavações dirigidas pela diretora que me pareceram (a mim que sou leigo na matéria) revelar uma excelente e dedicada profissional.

A senhora diretora, que só conheço de vista (nunca nos cumprimentámos sequer), mostrou grande profissionalismo, conhecimento, e entusiasmo pelo estudo desse Memorial.

Mais recentemente estive num evento internacional no Convento e pude desfrutar de uma sua preleção sobre o Memorial, que confirmou parecer-me ser um quadro de qualidade da administração pública.

Saber como conseguiu esse lugar... - teria de saber também como cada funcionário público chegou a empregado do Estado.

Cá o brotas, que trabalhou sempre no setor privado, também seguiu os seus carreiritos, e concorrentes eventualmente com mais capacidade que eu terão perdido os lugares que ocupei na minha vida profissional.

Confessem-se...., confessemo-nos..., no confessionário entre portas. Não tenham vergonha. Sujeitem-se a essa catarse...

O meu Zézito falhou neste aspeto. Mas quê!... ele também é funcionário público.

Nas últimas eleições autárquicas, dos 500.000 candidatos, cerca de 300.000 eram funcionários públicos.... Como querem então que estas coisas mudem? E que Portugal vá para a frente?

Custa, custa....

Mais a uns que a outros.

Pior quando se tem mais olhos que barriga.
(não vale a pena bisbilhotar a vida alheia, que é coisa feia)

Unknown disse...

Para Canoneiro:

Para mim, a funcionária citada no comentário perdeu qualquer credibilidade, a partir do momento em que no exercício das suas funções mentiu intencionalmente, para tentar salvar as aparências.

RUI GONÇALVES disse...

Senhor não entendo o seu comentário nem a sua agressividade. António Rebelo no seguimento de uma sugestão minha havia dito que não seria conveniente elaborar um post mas sim explicar no local. Convite ao qual acedi prontamente. Posteriormente publica um post dedicado ao tema. Acha estranho o meu comentário? Acha estranho dizer que o irei ler com a atenção merecida, que seria mais do que a meio do trabalho eu iria conseguir despender? Sim foi um comentário curto mas uma forma de dizer que tinha tido dado conta do post e que me alegrava pelo facto. Não entendo-o nem percebo que defesa é essa ao Senhor António Rebelo, como se eu o tivesse ofendido com o meu comentário. Li sim agora o artigo e teria todo o gosto em trocar opiniões mas – e o Sr. António Rebelo que me desculpe – não o irei fazer porque estou em crer que esta discussão teria continuação. Estranho que fale em cobardia e medo quando é V. Exa. A primeira a esconder-se num pseudónimo e ter o perfil oculto. Fique bem.

Um Bem haja e boa noite.

RUI GONÇALVES disse...

Só lhe direi mais uma coisa: Não julgue sem saber. E sim refiro-me ao caso do Alambor. Não temos é necessidade de andar a vanglorizarmo-nos pelo que fizemos ou deixámos de fazer, mas acredite que teve certamente mais repercussões do que o senhor ou senhora pensará.

Calculo que esteja cheia de vontade de continuar esta conversa mas informo que não me darei à maçada de vir ver a sua resposta.

Lamento no entanto - e volto a pedir desculpas - que o que iria ser uma troca de opiniões tenha sido minado desta forma, e não direi consentido porque calculo que este espaço não tenha qualquer tipo de censura como a que este senhor(a) pede quanto ao meu comentário que tanto ofendeu a quem não se dirigia minimamente.