quinta-feira, 27 de outubro de 2011

UMA VOZ INCÓMODA



Sem qualquer intuito de irritar quem quer que seja -muito menos o nosso habitual comentarista "Cantoneiro"- resolvi difundir este livro do empresário Henrique Neto por me parecer tratar-se de uma perspectiva indispensável para quem queira realmente tentar ultrapassar a crise "por cima", tendo em conta as coisas  como elas são. Trata-se naturalmente de uma obra mais virada para a indústria e a tecnologia, pois Henrique Neto foi o obreiro não só da IBEROMOLDES, que do nada passou a holding de 12 empresas com um total de cerca de mil trabalhadores, mas igualmente do extraordinário desenvolvimento dessa indústria, centrada na Marinha Grande.
Virado como sempre sobretudo para a realidade local, passo a transcrever um excerto de Henrique Neto sobre as autarquias: "O poder autárquico foi muito importante a seguir ao 25 deAbril, quando se tratava de democratizar o funcionamento das instituições e de criar novas infra-estruturas de saneamento básico, vias de comunicação e algumas estruturas sociais. Entretanto, o poder político autárquico instalou-se, rodeou-se de clientelas e de conivências, usou e abusou dos recursos -humanos e financeiros-, e chegaram a corrupção e o nepotismo.
Relativizar a questão com o argumento de que o poder autárquico é mais eficiente e mais económico, para a mesma função, do que o poder central, poderá ser verdade, mas não justifica os vícios do poder autárquico.
Na maioria das autarquias, a aliança dos autarcas com as empresas de construção e de obras públicas arruinou a paisagem portuguesa, consumiu recursos enormes, nacionais e europeus, e terá criado algumas grandes fortunas que por aí andam e se vêem sem precisar de óculos. Será esta a razão porque os governos de José Sócrates nunca aceitaram a criminalização do enriquecimento sem causa justificada. (cor de Tomar a dianteira)
Acontece também que as autarquias se habituaram, pelas razões descritas ou por mero atavismo, a serem meras comissões de obras públicas e raramente se assumem como governo do concelho. A sua relação com as empresas e a economia local é reduzida ou inexistente, e o pensamento estratégico com vista ao desenvolvimento é raro, ainda que existam exemplos positivos.
A crise económica que vivemos pode e deve ser atacada também a nível autárquico pela dinamização, a partir da sede do poder concelhio, da avaliação da situação das empresas, da identificação das suas dificuldades e oportunidades e, principalmente, pela criação de formas pedagógicas de debate e de cooperação entre os empresários. Se possível através, através da existência real nas autarquias de um pelouro do desenvolvimento económico, certamente mais importante do que a maioria dos pelouros existentes, se não de todos eles."
(Páginas 199/200)

Tenho a impressão que para se documentar no que diz respeito às autarquias, Henrique Neto terá estado em Tomar e conversado com alguns cidadãos locais...

Uma estratégia para Portugal, Henrique Neto, prefácio de João Salgueiro, Lua de papel, 1ª edição Setembro de 2011, 206 páginas, 16 euros.

9 comentários:

Virgílio Lopes disse...

VERDADE!

Uma voz muito incómoda,há muitos anos, para toda a cáfila que nos tem governado e governa, para os Jerónimos e Franciscos que teimam em não aprender nada com a vida e com a história.

Uma voz que faz um diagnóstico que reune um consenso quase geral mas que aponta terapias - rumos e desígnios - que os "homens do sistema" ignoram,em termos de implementação prática,real.

Uma voz que foi sempre afastada dos centros de decisão,virtualmente respeitada mas proscrita.

Uma voz que devia ter tido assento em pastas económicas de governos da República,que deveria ter assento no Conselho de Estado,no essencial composto por jarrões do bloco central de interesses que lançou o país para o estado em que se encontra.

Uma voz que alberga cultura e conhecimento prático da vida.

Uma voz que nunca se alimentou nem refrescou nos líquidos e fluídos perversos da política profissional,assente no tráfico de influências,nos favores e na corrupção.

Levanto-me e bato palmas ao HOMEM E EMPRESÁRIO que nunca abandonou os ideais humanistas do povo de esquerda,mesmo quando hipócrita e conjunturalmente "apoiado" por arautos do neo-liberalismo.

Por HENRIQUE NETO responde uma VIDA e uma OBRA,nunca esquecendo a sua origem,a sua matriz.


Virgílio Lopes

Francisco Pimenta disse...

Poder Autárquico
Quando o ex-Presidente António Paiva tomou posse do seu 1º mandato e me fui apercebendo do abismo a que ele (com o beneplácito dos seus pares)conduzia o concelho de Tomar, que deixei de assistr às reuniões de Câmara e de Assembleia. O meu fígado deveria ser poupado.
Após dez anos de ausência, estive presente na última assembleia e, pelo que assisti, decidi não voltar tâo cedo. Tirando uns quadros eletrónicos, nada mudou. A política é a mesma.
Pelos contactos que profissionalmente tive de manter com a autarquia tomarense e pelo seguimento que os mesmos tomavam, fui levado, há vários anos, a dizer que sou contra o poder autárquico. Fizeram-se autênticas e incompreensíveis "aberrações" que já estamos a pagar.
Francisco Pimenta

Anónimo disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

O autor do prefácio do livro retrata bem a inconsistência política de Henrique Neto.

Um ressabiado do PS escreve um livro e convida, para o prefaciar, um salazarista.

Porque cuspiu HN do mesmo veneno contra J.Sócrates que esta direita golpista que está no poder?

Porque continua com o cartão do PS? Por ser um cartão de visita para os Mários Crespos dos nossos mídea ou para o "Prós e Contras" do bota-abaixo este país?
("Mas diga lá como é que se faz, como é que vamos sair da crise"! - implora a peixeira de direita das televisões. E os Netos respondem: temos que correr com o Sócrates)

Quando o Manuel Pinho, o melhor Min. da Economia dos últimos 37 anos, com aquela metáfora gestual disse ao pequeno-burguês Bern. Soares do PCP, "O que tu tens é dor de corno!", e foi demitido, o Sr. Neto disse no "Público":

"Ele já prejudicou o país, do ponto de vista económico, suficientemente para poder e dever ter sido demitido várias vezes. Agora, é tarde e a más horas, já não tem grande efeito".

Silva Lopes, sobre mesmo assunto, disse: Manuel Pinho "foi um grande Ministro". Daniel bessa, agastado, disse: "Fez boas coisas". O empresariado português e muitos órgãos representativos dos trabalhadores lamentaram a sua saída.

Mais comentários para quê?

Virgílio Lopes disse...

Sr. Cantoneiro,

Embora democráticamente tenha de respeitar a sua ADORAÇÃO e ADULAÇÃO pelo seu Zézito,permita-me chamar-lhe a atenção para o perigoso MANIQUEÍSMO do seu raciocínio:

BONS - O Zézito,os servidores do Zézito,os indefectíveis do Zézito,os apoiantes ferverosos do Zèzito,os adoradores e aduladores do Zézito,os amigos do Zézito,os inimigos do Mário Crespo.

MAUS - Todos os restantes,especialmente o Mário Crespo,os seus amigos,os seus convidados(especialmente os residentes),os opositores do Zézito (dentro e fora do PS),os críticos do Zézito,os não incondicionais do Zézito,os que lhe elogiam umas acções e criticam outras.

Ou seja,pelo seu escrito,o Zézito e o Mário Crespo são as fonteiras do BEM e do MAL.

Sr. Cantoneiro,

O seguidismo cego e acrítico pode transformar-se em situacionismo,em fundamentalismo,em fanatismo,em culto da personalidade,em irracionalidade intelectual - tudo inimigos viscerais da liberdade, da democracia e do progresso.

Atrevo-me até a citar SARAMAGO:


"O MAL E O BEM,O BOM E O MAU,ANDAM SEMPRE MISTURADOS. NUNCA SE É COMPLETAMENTE BOM OU COMPLETAMENTE MAU"
(in Claraboia)


VIVA O DEBATE POLÍTICO!

Sem endeusar,sem demonizar,mas também sem branquear.


Virgílio Lopes

Anónimo disse...

OK Senhor Virgílio! Parabéns!

O senhor conseguiu, magistralmente, definir, no contexto político actual, o lado correto dos "BONS" que escolhi e onde estou barricado.

Agradeço a máxima moral de Saramago,que pode ser encontrada em qualquer tratado de teologia (e não só)
desde há muitos séculos, mas dispenso.

Português nobilado (que respeito-só por isso), derivado de uma afronta dos luteranos ao Vaticano. Li quatro dos seus livros, ao quarto ("Ensaio sobre a Lucidez") confirmei que não gostava dele... - em manifestação pública nenhuma. São gostos...

Em 25 de Novembro de 1975 apoiou um golpe militar contra a Assembleia Constituinte, como jornalista estimulou-o (nunca se demarcou), e eu ainda tenho boa memória. Além disso era iberista, o que vai contra os meus princípios...

Quanto ao conceito de homem "Bom" e de homem "Mau" nunca o tomo em abstrato, em absoluto.

Há homens Bons e há homens Maus. Isso vê-se na prática das relações sociais e económicas objetivas.

Eu sei que sou um Homem Bom.

Anónimo disse...

CORREÇÂO:

Onde escrevi NOBILITADO, ficará melhor NOBILADO.

Virgílio Lopes disse...

Sr. Cantoneiro,

Sobre o seu assumido maniqueísmo estou esclarecido.

Já quanto às suas "reencarnações" passadas e futuras...

Talvez ainda o venha a ver como um venerando apóstolo de uma qualquer última ceia,onde o seu Zézito pontifique.

Mas...um profeta do MAL...segredou-me que,à data,em Novembro de 75,o Sr. Cantoneiro era um devoto correlegionário político de Saramago,tendo até chegado a constar dos mapas do quadro de pessoal do PCP.

Verdade ou calúnia,Sr. Cantoneiro?

Como compreenderá,isto só tem importância para compreender a sua coerência e fidelidade à verdade histórica na primeira pessoa do singular e aferir a sua proclamação,bem como a sua conjugação do verbo ser:

"Eu sei que sou um Homem Bom"

Já que se trata de um fortíssimo "argumento de autoridade",ainda por cima auto-proclamado.


Virgílio Lopes

Anónimo disse...

Ó senhor Virgílio!!!!

Então o senhor anda a bisbilhotar a minha vida?!!! Coisa tão má de fazer... Isso até parece mal. Esses tempos já lá vão - ou talvez não....

Mas eu vou abrir uma excepção, só para si, que me parece boa pessoa. Peço-lhe o favor de não divulgar! Não quero que se saiba aí em Tomar, de onde sou natural.

-Nesse tempo eu era militante do PCTP/MRPP de que fui Congressista fundador, e de que me orgulho muito!!! Nem imagina as batalhas que travei na altura na defesa da democracia portuguesa, em manifestações de rua, comissões de trabalhadores, moradores,actividade sindical, etc.. Eu sei lá. Dentro das minhas possibilidades e capacidades, já se vê.

Anos mais tarde fui militante do Partido Socialista, de que me orgulho muito. Neste partido, que continuo a estimar como um grande baluarte da democracia portuguesa, um dos seus fundadores, também dei o meu contributo.

Em ambos fui sempre muito respeitado e de ambos guardo belas recordações democráticas e com ambos mantenho as melhores relações.

Há cerca de 20 anos suspendi a militância partidária, sem ódios, sem rancores com ninguém.

Se tivesse que regressar à vida partidária - hipótese posta de parte - era, sem dúvida, ao Partido Socialista.

Caso queira ainda saber mais coisas a meu respeito..., contacte o Dr. Rebelo, que fica desde já autorizado a desnudar-lhe toda a minha vida, bem como apresentá-lo a outras pessoas que me conhecem, caso queira ainda aprofundar a minha biografia, ficando também estes autorizados a revelar tudo o que sabem, sejam eles quem forem.

Julgo que a partir daí não venha a escrever uma biografia minha. Preferia que fosse um romance...

Mas o melhor, mesmo o melhor, era segurar a nossa participação neste blogue nos justos e corretos termos. Dentro das nossas possibilidades, já se vê...

E deixarmo-nos destas tretas

Digo eu.

Virgílio Lopes disse...

Ó Sr. Cantoneiro,

MRPP...
PS...
ZÉZITO...
"Eu sei que sou um Homem Bom"

E qual foi o tachito?

Está tudo dito!
Para já...

Virgílio Lopes