segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As lições do Funchal a reter pelos tomarenses




Quadros copiados do DN de 10/10/2011, página 3

Ficaram muito contentes alguns tomarenses, por o jardinismo ter sido severamente castigado. Não têm de quê. Pode-se até dizer que não perceberam o filme. Se calhar porque o visionaram às avessas. Fixaram-se no actor principal, pelo que nunca chegaram a entender o enredo.
Os três quadros supra são aqueles em que  o líder madeirense obteve menos de 50% dos votos expressos. Nos restantes 7  foi além dos 52%, com um máximo de 64% na Calheta, no extremo oposto da ilha, em relação ao Funchal. São igualmente os três círculos mais urbanos, portanto mais parecidos com os concelhos interiores do continente.
Mesmo nesses três, se Jardim foi severamente castigado, a esquerda não esteve melhor. Pelo contrário. Nos dez círculos eleitorais, em toda a ilha, por conseguinte, PS, CDU e BE perdem em média metade do anterior eleitorado de cada formação. Só no Machico e em Porto Moniz é que os socialistas conseguiram salvar de forma relativa a honra do convento. Em todos os outros casos foi um verdadeiro desastre. Outro tanto aconteceu com comunistas e bloquistas. 
Trata-se, no meu entender, de uma situação algo paradoxal, uma vez que estando o PSD no poder há tanto tempo, e sendo agora alvo de severas mas fundamentadas e justas críticas, lógico seria que toda a esquerda melhorasse os seus resultados eleitorais. Foi o contrário que ocorreu. Em relação ao PS, poderá dizer-se que começou agora a pagar os devaneios da era Sócrates, tendo pela frente uma longa travessia do deserto, sobretudo no continente.
Já a CDU e o BE foram vítimas da ineficácia do tradicional discurso prometendo mais benesses, mais empregos no estado, mais cultura gratuita, mais saúde gratuita, mais educação gratuita. Tudo coisas nas quais as pessoas deixaram já de acreditar, por saberem que não há dinheiro para isso. O que coloca toda a esquerda perante a necessidade urgente de mudar de discurso e de intérpretes, caso queira voltar a representar uma corrente política credível.
Mesmo sendo desagradável, há que admitir terem os votos perdidos por Jardim viajado ainda mais para a direita, para o CDS, a chamada direita civilizada, cuja principal palavra de ordem continua a ser "Quanto menos estado melhor". Se na Madeira foi assim, agora imagine-se em Tomar, em 2013, com um executivo laranja totalmente desacreditado e afogado em dívidas, incluindo a oposição socialista e independente, que sempre o apoiou; e com a CDU e o BE fora de tom e fora de tempo, como vai sendo cada vez mais evidente.
Além da espectacular ascensão do CDS, inesperada uma vez que integra o actual governo, que impõe aos portugueses sacrifícios e mais sacrifícios, o outro fenómeno digno de nota reside no conjunto das formações que se podem designar com extravagantes. Todas com bons resultados, destacando-se o Partido Trabalhista, do excêntrico Coelho, um ex-comunista que conseguiu 3 deputados, contra 1 da sua formação de origem. Mais uma prova de que o discurso político tradicional deixou de fazer efeito, como de resto já acontece desde há algum tempo em toda a Europa, particularmente em Espanha, em França e em Itália, países onde a extrema-esquerda já foi importante e está agora reduzida à ínfima espécie.
Faltam dois anos para as próximas autárquicas (salvo improvável incidente).  Tempo para começar a pensar noutras soluções, que o usual chavão "esquerda unida" parece já ter dado o que tinha a dar, que em Tomar foi sempre = a nada. É lamentável, mas é assim.

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