sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não saber projectar-se no espaço nem no tempo

Quis o acaso que na mesma noite em que o primeiro-ministro anunciou ao país, de forma sincera serena e determinada, uma parte do que nos espera até 2013, aqui se estivesse a escrever sobre outras e bem diferentes atitudes políticas. Mais precisamente sobre borlas num parque de estacionamento municipal e festas pagas pela arca municipal, lá para 2015. Entre outros exotismos nabantinos. Trata-se de dois mundos geograficamente separados por pouco mais de 100 quilómetros, mas temporalmente nas antípodas.
Enquanto corajosamente o primeiro-ministro vai procurando meios que nos permitam a médio prazo deixar de ser os mendigos perdulários da Europa, anunciando com coragem e clareza as medidas necessárias, por mais impopulares que sejam, aqui em Tomar é outro planeta. Espalha-se por algumas ruas e largos gambiarra com milhares de lâmpadas de elevado consumo (e por isso já de venda proibida na UE), reivindica-se estacionamento gratuito, votam-se por unanimidade moções contra as portagens na A 23 e no IC 3, anunciam-se festas à borla lá para 2015 e 2019, continuam-se obras cuja utilidade imediata ou futura está longe de ser evidente. Má vontade dos eleitos locais? Acção deliberada para nos enterrar ainda mais, enquanto comunidade organizada? Vingança mesquinha contra a má-língua?
Creio que não. Factores convergentes indicam antes tratar-se de total incapacidade para se projectar no espaço e no tempo.  Por outras palavras, para conhecer o local a zona e o país, agindo em conformidade; bem como para ter a noção do tempo em que estamos, da cada vez mais rápida evolução e do que inevitavelmente aí vem, procedendo em função disso.
Ao anunciar o corte do 13º e 14º mês, Passos Coelho foi cuidadoso. Acrescentou que será só até ao fim do programa de resgate. Oxalá! Temo porém que deliberadamente se tenha esquecido de acrescentar SE... Se entretanto tivermos resolvido os nossos problemas, se os mercados voltarem a emprestar-nos em condições
razoáveis, se a economia voltar a crescer, se as exportações aumentarem...SE SE SE.
Infelizmente, para o bem e para o mal, as economias que actualmente crescem por esse mundo fora não são as mais recomendáveis, quando comparadas com denominado modelo social europeu. China, Índia, Brasil, Taiwan, África do Sul, Angola...têm custos de produção muito reduzidos, tornados possíveis pelas modestas despesas públicas. E estas porque não há rendimento mínimo, salário mínimo, férias pagas, subsídio de desemprego, 13º mês, SNS, segurança social, abono de família e nalguns casos nem sequer liberdade sindical. Pelo contrário, em países socialmente mais avançados, como por exemplo o Japão, líder na área da economia do conhecimento, a economia estagna há mais de vinte anos seguidos, com crescimentos anuais inferiores a 2%.
Nestas condições, tudo indica para já que, enquanto portugueses, ainda vamos ter de comer muito mais pão que o diabo amassou. Enquanto tomarenses, tudo depende de nós. Se ousarmos mudar, vai ser difícil mas seremos depois recompensados. Se preferirmos continuar como até aqui, dirigidos por quem, apesar de toda a boa vontade, não consegue ver para além do fim do mês, então o nosso fim como concelho está relativamente próximo. Uma das leis inexoráveis da existência é que tudo o que não evolui acaba por morrer.  Tomar há já muitos anos que faz que anda mas não anda. E a maior parte dos seus políticos -eleitos ou não- continua convencida de que o futuro é apenas uma repetição do passado.

1 comentário:

FUNICULIN disse...

Escreve o responsável deste blogue o seguinte:

"Espalha-se por algumas ruas e largos gambiarra com milhares de lâmpadas de elevado consumo (e por isso já de venda proibida na UE), reivindica-se estacionamento gratuito."

De facto este Município de Tomar só tem "inovações" do século passado.

Enquanto, por exemplo, há localidades com as lâmpadas LED na iluminação pública, com poupança de energia na factura com o respectivo agradecimentos do ambiente, aqui pelas bandas de Tomar a foleirice da Feira começa hoje.

E começa num recinto que provoca o caos no trânsito, uma constante que não tem qualquer razão de ser onde até a Feira das Passas já não se realiza na Rua dos Arcos, mas está cheio de lâmpadas acesas a desperdiçar muito dinheiro aos contribuintes.

Agora até os inoperacionais da Assembleia Municipal querem estacionamento à borla.

Os 68,68 euros que recebem por sessão, não chegam para pagar o parque? Sempre ajudavam a pagar a dívida que ainda impera por aquelas bandas.

E para alguns desses inoperacionais que entram mudos e saem calados nem um cêntimo mereciam, pois não passam de uns simples verbos de encher que para ali estão.