Usando uma conhecida frase idiomática muito nossa, somos portugueses, mas estamos a ver-nos gregos para ultrapassar a crise. Aqui em Tomar então, nem jeitos, quanto mais agora modos! Já os helenos, povo orgulhoso porque com uma longa e gloriosa história, (onde é que eu já ouvi isto em relação a Portugal?) estão em princípio muito pior do que nós. Além de se estarem a ver gregos, tal como por aqui, têm mesmo azar. São gregos e nós somos portugueses. Todavia, não há só vantagens para o nosso lado. Basta pensar que os gregos não têm nenhum soba Jardim.
Comungando dos sucessivos alertas de PP Coelho e agora do senhor presidente Cavaco Silva, julgo ser útil apresentar três casos pessoais, de outros tantos cidadãos helenos, que estão a ver-se gregos para ir sobrevivendo com a dignidade possível, num país cada vez mais caótico. Começo com Hara Zoutou, bibliotecária.
"As pessoas fecham-se sobre si próprias; têm medo." Hara Zoutou, 32 anos, é bibliotecária na Escola Politécnica de Atenas. Ao terminar os estudos superiores de arquivista, esta jovem ateniense loura julgou ter encontrado a segurança de emprego. Agora está com medo de perder o seu posto de trabalho. Apesar de ter estatuto de funcionária pública.
Sob a pressão da troika dos credores da Grécia -Comissão Europeia, FMI, BCE-o governo admite suprimir 30 mil empregos públicos já este ano. "Se começarem, nunca mais vão parar", explica-nos esta militante de esquerda. Mora no bairro de Exarcia, o poiso preferido dos anarquistas, e trabalha no mais contestatário dos estabelecimentos de ensino atenienses. Tem participado em todas as manifestações. Tal como muitos dos seus concidadãos, Hara Zoutou exerce vários ofícios. "É uma grande mentira quando os europeus dizem que somos preguiçosos." Passa agora a ganhar 900 euros, após a recente redução de 200 euros mensais. Paga 400 euros de renda. Para arredondar os fins de mês, faz catálogos informáticos para bibliotecas privadas, e dá consultas de grafologia, mas os clientes são cada vez menos, por causa da crise.
Quer manter a esperança, o alento, a vontade de rir. Contudo, diz-nos "as pessoas fecham-se cada vez mais sobre si próprias; têm medo. Quando nos reunimos entre amigos, a crise vem sempre à baila. Estamos a perder a nossa energia. Não merecemos isto. Estão-nos a impedir de ser criativos, de ser produtivos. E temos só trinta anos."
Eu não digo que o pior ainda está para vir?! Mais uma razão para afixar quanto antes e em local visível três conhecidos anexins lusos: "Quando vires as barbas dos vizinhos a arder, põe a tua de molho." "Quem vai para o mar, avia-se em terra." "Homem prevenido vale por dois".
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