Os tomarenses em geral não gostam muito de números, tendência que de resto partilham com a generalidade dos habitantes do sul da Europa. Tendo em conta essa faceta, quiçá causada pelas aulas de matemática, apesar do evidente facilitismo, vou procurar ser simples e sucinto, mantendo embora o rigor da informação.
Foi apresentado na AR e ao país o projecto de Orçamento de Estado para 2012, que será aprovado sem dificuldades, dada a confortável maioria PSD/CDS. Falta apenas saber como agirá o PS, cujo voto é ainda assim importante em termos da credibilidade externa de Portugal. Os agora famosos, porque muito badalados, mercados.
Apesar de se tratar de um orçamento terrivelmente exigente, aqui pelo Vale do Nabão os sentados à mesa da autarquia não se manifestaram muito incomodados. O vereador Luís Ferreira falou até numa redução de apenas 6,5% em relação ao ano anterior. Sem afogar os leitores em algarismos, qual é realmente o estado da coisa? Vamos mesmo ser muito apertados ou não ? Aqui em Tomar estamos no bom caminho? Ou caminhamos a passos largos para o abismo?
A primeira constatação importante é que as transferências do governo para as autarquias, previstas para o próximo ano, são grosso modo equivalentes às de 2005. Em Tomar 8.703.304, em 2005; 8.955.482, no próximo ano. Uma vez que estas transferências resultam dos diversos impostos nacionais cobrados no concelho e tendo em conta uma inflação anual média de 2%, as autarquias vão receber de facto em 2012 menos cerca de 15% em relação a 2005. O que tendo em conta por exemplo o aumento dos vencimentos e dos consumíveis, augura desde já muitos dias problemáticos para os eleitos.
Além disso, no distrito de Santarém, avultam outros problemas, de outra ordem. O principal reside na evidente erosão demográfica, que naturalmente induz reduções de vária natureza, da actividade produtiva aos impostos arrecadados. Para melhor visualização de tal situação, seguem-se três séries de dados sobre eleitores inscritos, referentes respectivamente a 1999, 2005 e 2011: Eis o conjunto referente a 1999, por ordem decrescente:
- Santarém, 53.978
- Tomar, 39.671
- Abrantes, 39.040
- Ourém, 36.525
- T. Novas 31.913
- Coruche, 20.430
Vejamos agora a série de 2005, igualmente por ordem decrescente:
- Santarém, 52.859
- Tomar, 38.745
- Abrantes, 37.780
- Ourém, 37,648
- T. Novas 31.617
- Coruche, 19.331
Finalmente, a situação em 2011:
- Santarém, 54.325
- Ourém, 43.528
- Tomar, 38.070
- Abrantes, 36,226
- T.Novas, 32.812
- Coruche, 19.331
As habituais cabecinhas pensadoras já estarão algo baralhadas com a inclusão de Coruche, que é uma vila de menos de 20 mil eleitores inscritos, numa lista de cidades do distrito, todas com mais de 30 mil. Têm razão. É realmente estranho. Porém, como se verá adiante, faz todo o sentido.
Usando agora como critério de ordenamento, não já os eleitores inscritos, mas as transferências do Estado para os Municípios, como resultado dos diversos impostos cobrados (essencialmente IVA, IRS, IRC), obtemos o seguinte quadro referente a 2012, conforme já vimos anteriormente, com apenas ligeiras diferenças em relação a 2005:
- Santarém, 12.474.463
- Abrantes, 11.094.608
- Ourém, 10.881.644
- Coruche, 9.968.840
- Tomar, 8.955.482
- T.Novas, 8.047.752
Temos assim que Tomar, outrora primeira cidade e principal aglomerado populacional do que viria a ser, a partir de 1868, o Distrito de Santarém, após um período áureo nos anos 60 e 70 do século passado, entrou em acentuada decadência. Apesar de terem sido gastos entretanto mais de 20 milhões de euros, em obras de duvidosa utilidade ou rentabilidade, quanto a população, Tomar foi ultrapassada por Ourém, o que demonstra a força da indústria turística, sempre que as populações visitadas não se limitam a ver passar os visitantes.
Em termos económicos, estamos perante uma verdadeira hecatombe. Fomos relegados para quinto lugar. À nossa frente está até Coruche, uma vila com apenas 18 mil eleitores, além de Santarém, Ourém e Abrantes, enquanto Torres Novas, com 32 mil, se aproxima a olhos vistos, a mostrar que um bom presidente de câmara faz toda a diferença.
Estes dados confirmam aquilo de que já se suspeitava, mas ainda ninguém tinha conseguido demonstrar, com factos verificáveis em vez de meras opiniões: somos cada vez mais uma cidade de turismo de passagem, de burocracia, de velhos, de funcionários, de pensionistas e de aposentados. Nestas condições, a escolha é simples, mas cruel e urgente -OU MUDAMOS OU MORREMOS!
1 comentário:
Só mais um detalhe:
Em área(Km2),CORUCHE é o maior concelho do distrito e o 2º maior do país,só suplantado por ODEMIRA.
Esse indicador também influencia a distribuição de verbas oriundas do OE.
Sobre a evidente decadência progressiva de TOMAR,as suas causas e os seus principais responsáveis,os meus concidadãos só têm de "abrir a pestana".
Se quiserem e puderem...
Virgílio Lopes
Enviar um comentário