terça-feira, 25 de outubro de 2011

Obras para engorda


Citado pela Rádio Hertz, Corvêlo de Sousa fez esta peculiar declaração: "...Principalmente a obra [de ligação pedonal Cidade-Convento pelo Mata, integrada na candidatura "Envolvente ao Convento de Cristo"] teve em vista duas coisas; ou seja: proporcionar que um esgoto do Convento, que vai dar ao muro da Horta dos Frades, fique ligado à rede municipal de saneamento."
Antes de mais, há aqui um problema de coerência frásica. Tal como os três mosqueteiros afinal eram 4, neste caso as duas coisas principais, afinal resumem-se a uma só -a ligação do esgoto conventual à rede urbana de saneamento. Segue-se que o presidente da edilidade não diz toda a verdade, se é que a conhece. Noutros termos: há uma parte da verdade que ele conhece mas omite deliberadamente, e outra que certamente desconhece, porque nunca foi ao local.
A parte que ele não pode desconhecer é picara, como sucede amiúde com as candidaturas a fundos europeus, em que a ganância e o exibicionismo bacôco se sobrepõem a tudo o resto. Neste lamentável caso da Envolvente ao Convento de Cristo, além do desastre alambórico e o mais que se pode ver por ali (garantimos que os paredões em betão e o previsto parque de estacionamento para 24 ligeiros, em forma de piscina americana, valem a visita!), basta dizer que a referida candidatura inicialmente era tripartida: Município de Tomar/Instituto de Conservação da Natureza/IGESPAR. Ludibriados os responsáveis do QREN-Mais centro, na altura liderado por António Paiva, o ICN e o IGESPAR retiraram-se, alegando falta de cabimento orçamental. Ficou a autarquia com o menino ao colo. Feita essa parte da obra (instalações sanitárias com recepção, caminho pedonal e arranjo da ex-casa do guarda, tudo por cerca de 200 mil euros = 40 mil contos), constata-se que o colector de esgotos domésticos, -o único que foi instalado, faltando o de águas pluviais, conforme normas europeias- não serve para nada enquanto o IGESPAR não mandar fazer a parte que lhe compete, entre a caixa de visita já instalada na Mata, e as várias instalações sanitárias e outras, dentro do Convento.
Estamos assim perante uma obra até agora praticamente quase inútil, uma vez que o seu objectivo principal, anunciado pelo próprio Corvêlo de Sousa, está por alcançar. Caso único? Pelo contrário. Todas as obras feitas até ao presente são de utilidade e prioridade duvidosas e evidenciam problemas vários. Assim, a Rotunda ainda esta semana ficou outra vez inundada e intransitável, por falta de adequado escoamento, após obras superiores a dois milhões de euros. O ex-estádio, que já teve de levar balneários ambulantes e uma mini-bancada, está agora com sérios problemas relacionados com a deficiente qualidade da relva sintética. A ParqT redundou na tragédia que se sabe. A ponte do Flecheiro exigiu a posterior construção de um acesso pedonal e de um outro para cadeiras de rodas. Ninguém sabe para que servem o Paredão da Rotunda ou a barraquinha do Mouchão, etc., etc., etc. Mesmo a tão apregoada modernização do saneamento básico e a instalação de galerias técnicas na cidade antiga, estão por concluir. Rua dos Arcos, Rua da Graça, Largo do Quental, Rua de S. Sebastião, Rua do Pé da Costa de Baixo, Rua do Pé da Costa de Cima Escadinhas do Alto da Piçarra, Rua do Teatro, Rua Dª Aurora de Macedo, dois terços da Rua Joaquim Jacinto, continuam a aguardar melhores dias. Trata-se certamente, aos olhos dos senhores autarcas, de moradores/contribuintes filhos de um deus menor. A pagarem mensalmente, no recibo dos SMAS, uma taxa de tratamento de esgotos...que não são tratados.
A autarquia estará decerto a aguardar que após 2013 Corvêlo de Sousa seja contratado ou avençado por uma das empresas adjudicatárias de obras no concelho, como sucedeu com António Paiva (tudo na mais estrita legalidade, bem entendido!), para então desencadear novas candidaturas a fundos europeus e novos empréstimos bancários para custear a parte que lhe compete. Se ainda houver fundos e bancos que vão na conversa! Porque a realidade não permite dúvidas: Em todas as candidaturas tomarenses aos fundos europeus, a principal preocupação foi engordar as contas dos respectivos adjudicatários, com frequência simples empresas/biombo de certos conglomerados de obras públicas bem conhecidos. Assim vai esta terra...

1 comentário:

FUNICULIN disse...

Mais uma trapalhada politiqueira do responsável da edilidade tomarense sobre o facto de: "duas coisas principais resumem-se a uma só".

Tudo isto se deve ao vício do início das suas intervenções que geralmente começam por "eu vou ser muito breve" ou "eu vou ser muito rápido a responder".

Assim, com tanta "rapidez" alguma coisa entre muitas terá que ficar para trás. Está visto.

Já não bastava a vereadora "portanto", agora é o "rapidinha" presidente.