quarta-feira, 9 de maio de 2012

Afrouxar para matutar

Os leitores terão decerto notado uma brusca quebra no ritmo de publicação. Trata-se de afrouxar para pensar, meditar, ponderar, matutar e outros sinónimos. Porque a situação política nabantina está por assim dizer mumificada, mas também devido ao que vai ocorrendo por essa Europa fora. É grande a expectativa esperançosa face à vitória do PS em França, como grande é igualmente o receio perante o aparente descalabro político grego. Se os socialistas gauleses conseguiram um tangencial triunfo, mesmo com um candidato de substituição, os gregos do PASOK sofreram, pelo contrário, um inédito e monumental trambolhão. Passaram de 44% para 13%. Em ambos os casos por causa da mesma crise, porém com uma diferença fundamental: em França tem governado a direita, enquanto na Grécia têm sido os socialistas, nestes últimos tempos coligados com a direita da Nova Democracia. Que deu outro trambolhão.
Se calhar guiados pelo velho adágio, segundo o qual "Quando vires as barbas do vizinho a arder, vai pondo as tuas de molho", os portugueses mais interessados nestas coisas da política estão todos virados para o que se vai passando em França. É natural. Já há dois séculos o Eça escrevia que a cultura nos chegava de Paris, em caixotes transportados pelo Sud-Express. Os anos passam, mas os portugueses pouco mudam. Mesmo aqueles que por uma questão de moda se mostram agora mais virados para os USA. Ignorando deliberadamente que a sociedade americana está muito longe dos padrões europeus do estado social. Sobretudo nos impostos e no mercado de trabalho...
Apesar de gaulês de formação -ou se calhar por isso mesmo- prefiro virar-me para a intrincada situação grega. Onde pode estar em curso algo de novo e muito promissor. Ou, pelo contrário, o definitivo desmoronar das ilusões esquerdistas. Pela primeira vez na Europa, a extrema-esquerda conseguiu resultados eleitorais que conduziram o presidente grego a chamar os seus líderes e a encarregá-los de formar governo, dando-lhes três dias para esse efeito. Para os leitores terem uma ideia do insólito da situação, imaginem o Jerónimo, o Louçã e o Fazenda a sair de Belém com a incumbência de congeminar e apresentar um governo maioritário. Ou o Bruno Graça e o João Carlos Godinho com maioria na autarquia tomarense...
Uma de duas. Ou desistem, que é de longe o mais provável; ou conseguem começar a governar. Neste caso veremos então se as célebres "causas fracturantes" são algo mais que isso mesmo -pura demagogia para entretém de políticos deliberadamente marginais. Tal como será então possível aferir na prática o que valem palavras de ordem como "Há outro caminho", "aumento da produção nacional", "aumento de salários e pensões", "renegociação da dívida", "Basta de roubos", "Fora com a troika". Mais uma vez a Grécia, onde tudo começou -a democracia como esta crise europeia- serve de laboratório para a Europa. Oxalá tenham êxito. Porque caso contrário... 

5 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor,

Quanto à formação de um hipotético governo "à la grega" com os personagens portugueses que referiu, esqueceu a impossível junção de Jerónimo com Louçã, logo seria impossível esse "happenig"...

Já quanto ao facto (improvável também para mim) de os esquerdistas formarem governo, a sua acção estará votada ao fracasso, inevitavelmente, já que, mal comparado, estará assim como o meu Sporting para o Porto no último jogo, a jogar com menos dois e com um árbitro contra. Ou acha o meu amigo que a serem governo, aquela rapaziada não vai ser trucidada?

Ah, e deixe lá os FP's em paz. Não são eles a causa da desgraça em que nos encontramos e o meu caro sabe-o bem; ponha lá os nomes aos bois e se quiser uma ajudinha, disponha!

Olhe, eu propunha que se mudasse tudo, as moscas, mas também a merda (desculpe a crueza, mas não há outra forma de o dizer) e quem sabe se um dia o Gerónimo e o Louçã e o Seguro portugueses e gregos e espanhóis e italianos não conseguirão conduzir isto a bom porto?

É que ele às vezes há coisas...

Ctos

Unknown disse...

Caro conterrâneo:
Tem razão. PCP/BE seria combinação praticamente impossível no governo. Como de resto acaba de suceder na Grécia, onde a líder dos comunistas nem sequer aceitou encontrar-se com aquele rapaz que encabeça os radicais de esquerda, para conversar sobre a hipotética formação de um governo canhoto...
Sobre os funcionários públicos, permita-me a insistência: Nada tenho contra uma classe da qual fiz parte durante mais de três décadas e que me merece todo o respeito. Dito isto, em relação aos recursos do país há pelo menos 25% de funcionários excedentários, sem cuja saída da função pública não será possível debelar a terrível praga fiscal, nem a tenebrosa e onerosa burocracia que tudo paralisa. São factos meu amigo. Também não sou favorável à ablação da próstata, mas quando e se tiver de ser...

Leão_da_Estrela disse...

Então professor, sendo despedidos os FP's, ficarão ao deus-dará?
Sem indemnização?
Sem subsídio de desemprego?
É que a ser cumprida a Lei (não o que agora querem cozinhar), os FP's terão direito a um mês por cada ano de trabalho de indemnização e a subsídio de desemprego consoante a sua idade e isso tem custos, muitos custos!
Defendo há já muito tempo que não há FP's a mais, há é FP's mal distribuídos, por isso não me escandaliza a mudança de funções e de local de trabalho, desde que garantidas algumas condições que defendam a sua dignidade.

Calculo que o seu tempo não será muito, mas faça comigo um exercício simples:
Número de Câmaras: 308;
Número de vereadores: 1770
Destes 1770 vereadores, cerca de entre 850 e 1000 estarão a tempo inteiro. Cada um deles tem direito, por Lei a um adjunto, que aufere cerca de 2500 Euros, mais carro, telefone, secretária, gabinete e despesas pagas à factura, num cálculo por baixo, à volta de 5 000,00€, ou seja, entre 4 250 000,00€ e 5 000 000,00€ por mês (4 milhões, duzentos e cinquenta mil Euros e cinco milhões de Euros por mês), entre 51 e 60 milhões de Euros por ano. Esta gente não é FP, é rapaziada dos partidos...
Têm direito ainda a uma verba para assessoria que anda à volta de mais dois mil euros, que regra geral têm as mesmas regalias que os adjuntos, ou seja, mais 60 milhões/ano...
Todos os srs. Presidentes de Câmara têm direito a um Chefe de Gabinete; aufere, creio que 80% do seu vencimento (que não é o mesmo em todos os concelhos como muito bem sabe), "meta" lá mais, por baixo, 70 milhões...já vamos em quanto? pois...170 milhões. E NENHUM DELES, EMBORA VIVA À CONTA DA TETA DO ERÁRIO PÚBLICO, É FUNCIONÁRIO PÚBLICO!
Bom, junte-lhe:
As 40 000 associações e fundações;
Os 500 assessores, entre a PR e o Parlamento;
Os 1284 Institutos e Serviços Públicos que se atrapalham uns aos outros e
Os 30 000 carros a gastar combustível
e vamos lá ver se é preciso cortar nos FP's!

Vai uma aposta que se esta gente deixar de atrapalhar ( o atrapalhanço é a justificação da sua existência, obviamente; têm que se fazer notar e demonstrar que são importantes no circuito), a burocracia que tudo paralisa diminui drasticamente?

Ah, meu caro professor, isto também são factos...

(já quanto à "noz", o historial de família é negro, nem me fale nisso, raios!)

Ctos

Unknown disse...

Quando falo em redução inevitável de funcionários, parto do princípio que serão respeitadas regras elementares, entre as quais bem entendido as indemnizações a que têm direito. Sobre tudo o resto, sendo indesmentível, creio que a já anunciada reforma da lei eleitoral autárquica vai dar uma valente tosquia em tais rebanhos. De qualquer forma, mesmo colocando em casa 25% dos funcionários com o vencimento por inteiro, ainda se pouparia muito dinheiro, com a subsequente redução dos consumíveis, das rendas e dos subsídios de refeição.
Para já não falar na machadada que levaria o império burocrático, que nalguns sítios é quem detém o poder de facto.

Cordialmente,

Leão_da_Estrela disse...

Professor, desculpe a insistência, não o quero fazer perder tempo comigo, mas essa tal reforma eleitoral autárquica, se feita pelos actuais políticos, não me deixa nada descansado. Haverá certamente por lá buracos suficientes para alapar a rapaziada do costume.
Se se entregar a coisa a um Jorge Miranda, por exemplo, ou a um Freitas do Amaral, a um Gomes Canotilho,ou mesmo a um Marcelo R. Sousa (como percebe vejo a coisa apenas pelo lado da competência), pode-se esperar boa coisa, doutro modo, meu caro professor, mudarão apenas as moscas...

Ah, e eu não quero ficar em casa, mesmo com o ordenado por inteiro!

Ctos