terça-feira, 22 de maio de 2012

Harvard, a melhor universidade do Mundo

O autor da nota prévia e da tradução, quando andou em Harvard - Boston...em 2006, durante uma visita guiada.

NOTA PRÉVIA

Numa altura em que abundam as dúvidas e interrogações sobre o nosso futuro colectivo e a qualidade do nosso sistema de ensino, pareceu-me útil traduzir uma peça sobre a Universidade de Harvard, considerada a melhor do Mundo, mesmo por entidades independentes não americanas. Foi publicada no Le Monde de 17/05/2012.


"Os segredos de Harvard, a primeira das universidades
A socióloga francesa Stéphanie Grousset-Charrière analisou o que é o ofício de professor no Campus de Boston - USA"

"Harvard é já um mito americano! Uma vez mais, em 2011, a prestigiada universidade estado-unidense voltou a liderar a tabela classificativa de Xangai. Nada mais, nada menos que 44 Prémios Nobel, 46 Prémios Pulitzer e 8 presidentes dos Estados Unidos, foram formados nesta casa. Harvard acolhe a elite intelectual do país nas suas 10 faculdades, que vão da medicina às artes e do direito aos negócios. A socióloga Stéphanie Grousset-Charrière trabalhou em Harvard como leitora = professora assistente, entre 2004 e 2008, o que lhe permitiu descobrir o interior do chamado "sistema Harvard", sobretudo quem são e como são os seus professores.
O seu processo de recrutamento colocou-a perante as exigências do estabelecimento: "A minha candidatura só foi aceite após quatro entrevistas de recrutamento, de mais de meia hora cada uma, com a respectiva directora de departamento e depois mais três professores" conta a socióloga-docente no seu livro "O lado oculto de Harvard" (La Documentation Française, 232 páginas, 19 €). A "carta de missão" que lhe entregaram depois era extremamente clara: "Em Harvard não se formam só os estudantes, mas igualmente os professores, formatando-os em conformidade com a imagem que devem ter. Não se pode estar doente. Mesmo com 39 de febre deve-se continuar a dar aulas. Deve-se andar bem vestido, sorridente, ar acolhedor e dar sempre o exemplo. Pontualidade, amabilidade, humildade, compreensão, eficácia, disponibilidade, competências, performance e rigor, são as qualidades atribuídas à personagem docente."
O ano académico começa com uma pré-abertura de uma semana de acolhimento e formação intensiva dos novos professores. A primeira aula de cada um é filmada e analisada: "Ensinam-nos a habitar o espaço, a estar à frente da secretária, a varrer com o olhar o conjunto dos alunos." Depois, durante um semestre, os professores estreantes têm aulas de ciências da educação. Aprendem a organizar aulas inter-activas, a apresentar-se, a suscitar perguntas, a usar documentos e suportes informáticos. "As aulas têm de agradar. Os estudantes não devem aborrecer-se e o professor deve interrogar-se sobre o modo como será recebida a sua aula, um aspecto que eu nunca me tinha colocado quando ensinei em França, pois só me preocupava com a matéria dada nas aulas", confessa Stéphanie Grousset-Charrière.
A seguir à pré-abertura escolar, é chegada a altura da shopping week, uma semana durante a qual os estudantes fazem as suas escolhas entre as 900 cadeiras propostas. É a altura para cada professor mostrar o que vale em termos de persuasão: "É importante ter êxito com a sua primeira cadeira e conseguir ser escolhido por um número de estudantes que justifique a sua continuidade. Caso contrário será suprimida sem qualquer hesitação." Cada professor tem de conhecer todos os seus estudantes pelo  nome usual e recebê-los individualmente no seu gabinete. "Durante estas conversas cria-se uma ligação que acaba com o anonimato, mas também e sobretudo combate-se a timidez de ambas as partes, o que os meus colegas franceses têm muita dificuldade em reconhecer. É durante estes encontros que o estudante e o seu professor se escolhem e se comprometem mutuamente a envidar os melhores esforços em prol do êxito comum."
Em Harvard, professores e alunos avaliam-se mutuamente. No final de cada semestre, os alunos que têm essa tarefa atribuem notas aos professores, os quais, caso consigam 4 ou 4,5, numa escala de zero a cinco, têm direito a um diploma, o Derek C. Bok Award, entregue durante uma cerimónia com bolos e champanhe. 
Contudo, o mais estranho para o docente francês ou europeu em Harvard é o modo de avaliação do trabalho dos estudantes. No campus de Boston a noção de média não existe. As apreciações devem ser sempre positivas e construtivas. "Nunca se devem desvalorizar os estudantes. O tom intransigente usado na Europa não faz parte do sistema americano. Não se diz, por exemplo "Isso não é verdade", mas antes "Eis um erro interessante; tentemos perceber qual a sua origem, para evitar que se repita." Vi colegas meus muito tristes por não lhes terem renovado os contratos, porque tinham sido demasiado autoritários, excessivamente categóricos, demasiado franceses, em suma."

Conclui no próximo texto.

Isabelle Rey-Lefebvre, Le Monde, 17/05/12, página 16


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