O autor destas linhas em Pompeia, em Junho de 2010
Na sua edição datada de ontem, o suplemento Cultura e Ideias, do Le Monde, publica uma longa reportagem sobre as ruínas de Pompeia. "Um dos mais famosos locais arqueológicos do mundo, que se vai arruinando e perdendo." Falta de verbas, burocracia, corrupção, incúria dos responsáveis...Pompeia é o símbolo de uma Itália cansada."
Numa altura em que já nada há a esperar do que falta cumprir deste mandato autárquico, pareceu-me útil fazer algumas comparações entre a antiga cidade romana, sepultada sob as cinzas do Vesúvio no ano 79 da nossa era, e o nosso Convento de Cristo, ambos Património Mundial. Pompeia desde 1997, o Convento de Cristo desde 1982.
Temos assim os seguintes elementos: Pompeia 44 hectares/ Convento menos de 3 hectares; Pompeia 144 funcionários/ Convento 37 funcionários; Pompeia 2 milhões de visitantes em 2011/ Convento 150 mil visitantes; Pompeia 22 milhões de euros de receitas/ Convento 450 mil euros; Verba atribuída emMarço de 2012 por Bruxelas para restauro e conservação de Pompeia 105 milhões de euros, sem qualquer participação italiana. Verba atribuída à autarquia tomarense para a "Envolvente ao Convento de Cristo", cerca de 80% de 2,5 milhões de euros. A câmara terá de assegurar os restantes 20%.
Segundo o jornalista Philippe Ridet, na antes citada reportagem "105 milhões foram desbloqueados pela Comissão Europeia para restaurar as domus mais arruinadas e começar uma verdadeira reestruturação dos serviços de vigilância e de manutenção.
Um primeiro passo para a tutela internacional de Pompeia? Se a Europa aceita patrocinar este Património Mundial, também exige garantias sérias. Está fora de causa contribuir para encher os bolsos de alguns chefes mafiosos da região. Foi já assinado um "contrato de legalidade", que é o primeiro do género. Foi igualmente nomeado um comissário, encarregado de verificar a transparência de cada concurso público superior a 5 mil euros. "Nem um euro deverá ir para os bolsos da Máfia. Pompeia vai transformar-se no símbolo da mudança", afiançou o ministro da cultura italiano".
O título da reportagem de Le Monde não carece de comentários: "Silêncio! Pompeia está a morrer". Posso estar a ver mal. Creio contudo que se por estas bandas também houvesse um comissário europeu a vigiar as adjudicações públicas e as contas, as obras da Envolvente ao Convento e as da Levada já há muito que teriam sido encaminhadas de modo bem diferente. Porque não há falta de fundos em Bruxelas. Faltam é dossiers bem elaborados e fundamentados. Sobretudo quando se tem um Património Mundial desde 1982. Sendo a situação nabantina aquilo que é, resta-nos aguardar Outubro do ano que vem. Como fazem os especialistas de cuidados paliativos...
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