domingo, 6 de maio de 2012

Alegria, mas...

Há finalmente alegria nas hostes socialistas europeias, graças à  esperada vitória de François Hollande. Compreende-se. Após o que aconteceu em Portugal e em Espanha, é um triunfo que aquece os corações que palpitam à esquerda.  Por falar nos nossos vizinhos, embora também satisfeito, partilho da conhecida expressão idiomática castelhana "No hay para tanto!" Porque o resultado de Hollande foi demasiado tangencial? Também. Mas sobretudo porque se tratou de uma óbvia derrota de Sarkozy, em vez de um triunfo do seu adversário. Derrota que é já a 11ª na lista dos grandes responsáveis políticos apeados desde o início da crise. Alegria, portanto, mas cautela, muita cautela. O que o novo presidente gaulês prometeu nas entrelinhas aos franceses, foi afinal o mesmo tipo de política que a esquerda ampla portuguesa procura lateralmente instilar no governo PSD/CDS. Mediante uma táctica a que podermos chamar "Método da sopa de pedra".
Como é sabido, a Sopa de Pedra resulta da esperteza de dois mariolas que tendo obtido abrigo num quinta, começaram por pedir apenas uma panela, água e uma pedra. Já com a água a ferver e face às perguntas do dono da casa sobre a qualidade da sopa, lá foram dizendo sucessivamente que iria ficar óptima, mas seria ainda mais saborosa com uns nacos de toucinho. Só? perguntou o anfitrião. Bem, também pode levar umas rodelas de chouriço...Só? Umas folhinhas de couve e um pouco de orelheira, não cairiam mal, não senhor. E feijão vermelho, claro...
Assim estão os politicos da esquerda perante a actual crise. Somos pela austeridade e apoiamos o memorando da troika. Sem dúvida alguma. Mas o desemprego está subir de tal forma... Era bem melhor renegociar o protocolo assinado...É indispensável estimular o crescimento económico, sem o qual não vamos poder honrar os nossos compromissos... A saúde é um bem inestimável. Todos temos direito a uma assistência médica de qualidade... E a educação, a educação é a base do futuro do país...
A tudo isto vão respondendo o Gaspar e o primeiro-ministro com o conhecido e clássico acrónimo tatcheriano: TINA = There is no alternative. Não é verdade, contrapõe a esquerda. Em democracia há sempre alternativas! Quais?, perguntam os governantes. A seu tempo hão-de aparecer...
Enquanto infelizmente tal não acontece, parece-me urgente olhar sobretudo para a Grécia, onde nas eleições legislativas de hoje, o PASOK, partido socialista até agora no poder, sofreu uma pesadíssima derrota, passando de 1ª para 4ª força mais votada. Ao mesmo tempo que os extremistas, tanto de esquerda como de direita, cresceram a olhos vistos. Tudo num ambiente de descrença, sem quaisquer planos ao mesmo tempo exequíveis, realistas e alternativos ao memorando da troika.
Pelo que, salvo melhor e mais fundamentada opinião, é meu entendimento que nas próximas autárquicas tomarenses se corre o risco de uma hecatombe semelhante à grega: A pesada derrota de todas as formações políticas que neste mandato integram o executivo. Caso não haja, como até agora tudo indica, uma ampla renovação de pessoas e de hábitos, tal hipótese é mesmo praticamente inevitável. E a seguir?!

3 comentários:

alexandre leal disse...

Saúda-se a vitória do socialista francês !E aguarda-se o cumprimento de algumas estapafúrdias promessas eleitorais.
Mas as reacções por cá metem pena. De qualquer forma pior que o anterior é difícil...
É tão disparatado entender que a austeridade não é precisa como achar-se que só por si bastará para debelar a crise.
Equilíbrio será uma das qualidades que vai faltando há muito tempo.
Se somarmos os resultados da Grécia onde os socialistas foram trucidados(como seria de esperar) , facto que em Portugal quase se ignora, receio que entremos em nova tremideira bolsista. A ver vamos.

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Vá lá..., não há razão para um artigo tão azedo sobre a vitória de Hollande.

Li um comentário de um comentador de esquerda no forum de um jornal online, que desdenhava da vitória por ser à custa de votos da extrema direita. Que esquerda é esta? - perguntava ele angustiado. Percebe-se bem a que esquerda pertence aquele comentador, a mesma que ajudou a derrubar J. Sócrates e tornou Portugal um Protetorado.

José Sócrates foi, indiretamente, o vencedor em Portugal nesta decisão do eleitorado francês, ao ver consagrado o PEC IV, que criminosamente foi recusado por uma coligação do maior oportunismo político de que me lembro. Não vem agora ao caso, mas o que defendeu até ao último momento (parece que até aos gritos com o farsolas do actual P.Ministro), era o caminho correto e não teriam lugar as violentas confiscações que estão a ser feitas aos trabalhadores portugueses, pelo menos nas dimensões que conhecemos. Provavelmente teríamos em construção o novo aeroporto e o TGV, e outras obras, um maná do céu para as novas gerações. E não havia tanto desemprego.

Todos os democratas portugueses, da esquerda à direita, devem estar satisfeitos com esta estrondosa vitória sobre uma direita governante vergada ao grande capital sem miar, cujos detentores nem são conhecidos de ninguém. Uma canalha que compete entre si para pôr o preço do trabalho "mais barato que o sardo", e provocando milhões de milhões de excluídos e regiões onde outros tantos morram de fome e sede.

Uma vitória destas da esquerda (e TODA a esquerda votou Hollande) sobre estes gangues de direita só pode constituir uma grande alegria, sabendo-se que não é nenhuma revolução, já que esta é sempre o povo a dar o primeiro sinal de vontade, como única saída.

Esta direita de mafiosos e inimigos dos povos precisa ser derrotada e dos dentes partidos.

Os habitantes da região francesa Poitou-Charentes devem estar eufóricos, Ségolène Royal é a sua presidente, que vê agora no mais alto cargo da França o homem com quem dormiu muitos anos e de quem pariu 4 filhotes. Vai ser só baldas e favores... - é só enviar projetos. Certamente melhor do que ter um ministro da propaganda no governo de Lisboa, se virmos a política por esse prisma...

Estou velho Dr. Rebelo, mas uma vitória destas na Europa, neste momento, rejuvenesce-me, enche-me de alegria, muito mais ainda por ter sido na França, onde se deu o maior acontecimento dos últimos 500anos: a Revolução Francesa.

Conhecidos os resultados, fui jantar fora para comemorar.

Na parte do digestivo, tombaram lágrimas de triteza no bagaço pelo meu Zézito.

Unknown disse...

Se te parece que o meu artigo é azedo, quando não passa de uma ligeira e quanto a mim indispensável tentativa de moderação de entusiasmos, bem se vê que não estás habituado ao vinagre balsâmico. De Modena, tanto quanto possível.