sexta-feira, 4 de maio de 2012

A direita pasmada e a esquerda baralhada


Francisco Sarsfield Cabral, SOL, 04/05/2012, pág. 57

Enquanto a direita parece pasmada, a esquerda parece cada vez mais baralhada, conforme bem sintetiza o economista Sarsfield Cabral na peça supra. Tudo porque sobre a crise apenas sabemos de ciência certa duas coisas, ambas extremamente graves e importantes: 1 - Até agora todos os órgãos de poder eleitos por sufrágio directo têm sido derrotados. E já vão cinco: Irlanda, Islândia, Espanha, Portugal e Itália; 2 - A crise continua a desenvolver-se inexoravelmente.
As sondagens indicam que no próximo Domingo o mesmo irá acontecer em França, com a vitória do socialista Hollande, e na Grécia, com a vitória da direita. Em ambos os casos, contudo, a política a adoptar pelos vencedores não poderá divergir muito da até agora em vigor, sob pena de irremediável descalabro financeiro. Outro tanto deverá vir a suceder na Holanda, cujo governo de direita acaba de apresentar a sua demissão, provocada pela recusa da extrema-direita em aceitar medidas de austeridade.
Nesta anormal envolvência, a direita europeia, com destaque para a Península Ibérica, surge como duplamente pasmada. Por um lado perante inesperadas facilidades (congelamento de salários, supressão do 13º e 14º mês, acordo de concertação social...) Por outro, face a incompreensíveis reacções dos mercados, que pela lógica deveriam já ser menos penalizadores para Portugal e para Espanha. Quanto à esquerda, estará não só baralhada mas também assustada, ao constatar que, tal como a direita, não dispõe de quaisquer modelos ou propostas, susceptíveis de pelo menos travar a marcha rumo ao abismo.
Enquanto isto, tanto a nível europeu como nacional ou local é cada vez mais evidente o consenso implícito em relação ao actual contexto: o que está não serve nem poderá continuar por muito mais tempo, mas ainda ninguém apresentou alternativas credíveis. Por outras palavras, é o fim de um sistema ou modo de produção, que todavia continua sem sucessor à vista.
Ainda assim, no que toca a Tomar é desde já possível elencar algumas medidas, a tomar quanto mais cedo melhor, sob pena de continuarmos a declinar. Genericamente, podem ser agrupadas em dois temas -Grande redução da carga fiscal e acentuada simplificação da burocracia. Deixo a cada leitor o cuidado de deduzir quais os actos a implementar para alcançar os ditos objectivos, sem os quais não haverá investimento, nem desenvolvimento, nem criação de riqueza, nem postos de trabalho, nem futuro. E sem isso...

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro professor,

F.S.Cabral é licenciado em direito, tem falado muito sobre economia e finanças, mas desculpem, o meu caro e o próprio, não passa dum Miguel Sousa e suas opiniões, agora às segundas na SIC.

Conhece algo de útil ou importante que este senhor tenha feito ou dado ao País, para além de se ter alapado a alguns lugares de topo na política e jornalismo, desde que foi quadro do secretariado técnico da Presidência do Concelho, no tempo de Salazar?

Bem falante, de verbo fácil, até hoje não produziu nada que tivesse mudado o rumo do País!

Análises? isso fazemos tão bem, ou melhor que ele, todos os que sofremos diariamente as dificuldades da crise, que tenho a certeza que lhe passará ao lado.

Ainda assim e a propósito do seu considerando, permito-me, com a devida vénia, transcrever o editorial da revista "Sábado" desta semana a propósito da conferência de imprensa dada pelo ministro Vitor Gaspar e da falta dum misterioso "espaço orçamental": "...O Estado, mesmo o Estado em pré-bancarrota, tem muito poder. Tem o poder de derrotar lobbies influentes que recebem abusivamente dinheiro dos contribuintes; tem o poder de forçar as grandes empresas a funcionarem num ambiente de efectiva concorrência; tem o poder de extinguir municípios e não apenas freguesias; tem o poder de acabar com as extravagâncias das empresas públicas;...se ao fim de menos de um ano o Governo já não sabe o que mais há-de fazer...então tem um problema. E nós também."

Donde se conclui, digo eu, que há muito pano para mangas. O alfaiate é que não será grande coisa, não passará dos alinhavos...


Ctos

alexandre leal disse...

Caro Professor

Excelente texto !

Permita-me abusar do seu prestigiado espaço para uma declaração formal,feita com todo o gosto,para esclarecimento das muitas pessoas de bem que tem o bom hábito de ler o que escreve e para meia dúzia de imbecis cobardes e cavilosos que tentam poluir o seu blog:
Não tenho nem quero ter , directa ou indirectamente ,qualquer interesse societário em empresas ligadas à saúde.