segunda-feira, 7 de maio de 2012

França, Grécia, competitividade, qualidade e a absurda política tomarense

Foto Le Monde

Com a esquerda europeia, portuguesa e tomarense a embandeirar em arco -o que se compreende, sabido como é que os náufragos se agarram sofregamente a tudo o que flutua- urge relembrar algumas duras realidades. A começar pela questão portuguesa e tomarense. Há em ambos os casos dívidas monumentais e uma acentuada decadência económica, cuja vertente mais visível é por agora o desemprego. E os prédios em ruínas nas margens nabantinas. Pouco atreitos a entusiasmos de circunstância, os membros da troika e os eleitos da Europa do norte bem se esfalfam a repetir que temos um problema de competitividade, até agora com bem magros resultados. E no entanto, se não conseguirmos vir a ser competitivos, como vamos conseguir dar a a volta por cima?
A esquerda portuguesa mais dura (BE/PCP/Maoistas) mal ouve falar de competitividade, ou lê algo a respeito, dispara logo alto e bom som que "Baixos salários, nem pensar!" Como se a competitividade fosse só ou sobretudo isso. Olhando atentamente a questão, aparecem distintamente alguns traços: 1 - Competitividade faz sempre par com qualidade; 2 - Há a competitividade pelo preço (produtos chineses, vietnamitas, coreanos, indianos...) e a competitividade pela qualidade (automóveis alemães, moda francesa, produtos americanos da Apple, Vinho do Porto, Auto Europa...); 3 - Até no ensino universitário português há competitividade pela qualidade: enquanto a média nacional de licenciados no desemprego é de dois dígitos, entre os ex-alunos da Universidade do Porto é de apenas 4%. Porque será?
Temos por conseguinte uma evidente e indesmentível relação preço/qualidade, que varia entre um máximo para ambos os factores (maior preço = melhor qualidade) e um mínimo (mais barato = de fraca qualidade). Ninguém compra produtos chineses porque são de excelente qualidade, tal como também não se compram automóveis alemães porque são baratos. Nesta envolvência, qualquer que seja a cor dos governantes ou as respectivas intenções políticas, o que conta são os resultados concretos na vida de todos os dias. Como acaba de ficar bem demonstrado nas eleições gregas de ontem, com os partidos tradicionais, sobretudo os socialistas do PASOK (até agora no poder) a sofrerem pesada derrota.
No caso tomarense, sabe-se desde há muito que a competitividade nunca fez nem faz parte das preocupações dos nossos autarcas. Nem pelos preços baixos, nem pela qualidade. Em vez disso, sempre procuraram, quiçá sem de tal se darem conta, aumentar a burocracia e desmazelar a gestão corrente. Exagero? Olhemos então para o caso mais recente. Tão actual que ainda nem está terminado.
Apesar da inépcia de muitos dos seus habitantes, alguns dos quais se lançaram na política em busca de bons rendimentos mensais e/ou de penacho, Tomar continua a dispor de variados nichos competitivos: templários, descobrimentos, Infante D. Henrique, manuelino, renascimento,  Dinastia Filipina, Tabuleiros, Nabão, Qualidade de vida. Têm sido ou estão a ser aproveitados, promovidos, incrementados? Claro que não! Pelo contrário!
Peguemos no caso do Conjunto Monumental Castelo/Convento, que engloba a maior parte das citadas vantagens competitivas. Queixam-se os hoteleiros e outros empresários locais, com toda a razão, que os turistas vêm visitar aquele nosso monumento Património Mundial, mas não descem à cidade e muito menos nela se atardam, salvo raras excepções. Que tem feito a autarquia para remediar tão evidente e nefasta situação? 
Primeiro acabou com o tradicional estacionamento gratuito de autocarros de turismo, junto ao Mouchão e à Várzea Pequena, tendo gasto fundos europeus para remodelar o aspecto tradicional daquela zona.  Agora estão em curso as lamentáveis obras ditas da "Envolvente ao Convento de Cristo", no valor total de dois milhões e meio de euros (ver post "Fotos Dominicais", de ontem). Para melhorar as condições de acesso, de estacionamento e de visita ao monumento e à cidade? Pelo contrário! Além de diminuirem drasticamente o total de lugares para estacionar e de encavalitar os autocarros junto à fachada norte do monumento, (ao arrepio das mais elementares normas de protecção do património contra os gases de escape), os trabalhos em curso vão obrigar a que a Estrada do Convento fique (pelo menos até nova remodelação) com sentido único ascendente. O que significa que uma vez chegados ao Convento de automóvel ou de autocarro, adeus Tomar que se faz tarde! Ou haverá algum visitante que se arrisque a procurar depois uma via alternativa para regressar à baixa da cidade?! Ainda há poucos dias um casal de meia idade parou o carrito naquele cruzamento atrás da Mata e perguntou-me qual era o melhor caminho para o Regimento de Infantaria 15...
É assim que os senhores autarcas pretendem melhorar a nossa competitividade? E depois admiram-se por estarmos como estamos? Resulta apenas do facto de sermos como somos. Quem não trabuca não manduca, quem não chora não mama e quem não se sente, não é filho de boa gente!

2 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor,

Seria interessante também analisar os resultados num dos "lands" alemães, este Domingo, aqui:

http://www.ionline.pt/mundo/cdu-merkel-ganha-eleicoes-schleswig-holstein-esquerda-mais-mandatos

Isto quererá dizer alguma coisa, não acha?

Já quanto à competitividade, meu caro professor, é extenso, mas convido-o a analisar as propostas de acção da CGTP-IN neste particular; ficará talvez surpreendido com a clareza e a objectividade das propostas apresentadas e com a clara e inequívoca defesa não só dos trabalhadores e dos seus direitos, mas das empresas e dos empresários e da sua saúde financeira, factor considerado fundamental para que sejam garantidos os primeiros.
Verá que a Esquerda, nomeadamente a dos trabalhadores (os partidos é mais folclore, por vezes), é responsável e aponta caminhos exequíveis e viáveis. Perca um bocadinho do seu tempo e verifique. Se achar pertinente, diga depois alguma coisa.
Poderá o meu caro professor contrapor ao que atrás disse, que ok, a GCTP tem propostas, mas nunca assina nada...também não é verdade! consulte-se o histórico e veja-se que na última década quem mais contribuiu com propostas em sede de concertação social foi precisamente a CGTP!
Não assinou os últimos acordos? pois não! mas a UGT não assinou e agora não quer dar o dito, pelo não dito? quem é que fica pior na foto?

Em Tomar, meu amigo, vai acontecer o mesmo que noutros lados (não tenho dons de Nostradamus, mas não é difícil adivinhar), com as mesmas características: sendo um "governo" mais à direita, será derrotado, embora por menos margem do que se fosse mais à "esquerda", que é o que acontece normalmente e está por ser explicado ( veja-se a França, onde apesar de tudo o anterior presidente se aguentou bastante bem e a Grécia ou a Espanha, onde os socialistas levaram um "bléu" de todo o tamanho, ou até cá, onde o PSD ganhou de forma clara).
Resta saber que candidatos se apresentarão e sobretudo que projectos para a saída do marasmo, sabendo nós que promessa de político é para esquecer no dia seguinte à eleição...não é senhor Passos Coelho?

Ctos

alexandre leal disse...

Caro Professor
Sem pretender provocar as suas 24 costelas socialistas deixe-me dizer-lhe que me parece exagerado e mesmo ridículo o entusiasmo com que os socialistas portugueses claramente à falta de melhor, acolheram uma vitória merecida e justa do socialista francês.Espera-se algum milagre? A posição fortíssima da Alemanha face à França em crise alterou-se? Alguém pensa que o novo presidente francês,passada a euforia (e demagogia) da vitória consegue fazer omeletas sem ovos?E o dinheiro para o arranque da economia vem de onde? Já se esqueceram por cá da receita do Sócrates?
Enfim o faz de conta do costume com os especialistas na boleia a brilharem..
Mais determinante é o impasse grego.
Mas aí o aparelhista Seguro já disse que com as futuras medidas francesas os resultados das eleições gregas seriam diferentes.
Uma verdadeira Pitonisa!
Levem já o homem para fazer par com o cherne.